Ela pulou na cama, subiu a saia. Engendraram-se em solavancos e hematomas. Mordiscou-lhe a alça do sutiã - ela riu. Ele desceu mais, até encontrar a engenharia daquele arroubo topográfico. Ali ficou, por longos momentos, a imaginar-lhe o gosto por sobre a seda.
Ela ia estremecendo aos poucos e, faceira, escondia-lhe os encantos e lhe mordia as costas. Trazia uvas nos lábios, e lhe oferecia, e logo depois as engolia gulosa. Ele tentava um beijo naquela boca em meia-lua, cheirosa.
O spray de chantily pintou-lhe um bigode natalino. Ela completou a arte com uma colher de sorvete na boca. Beijaram-se. Amaram-se entre lambidas e sugadas de picolé. Roçaram as pernas, as barrigas.
Eram línguas tortuosas, buscando açúcar em cada beijo. Eram dentes alvos a se esfregar, em ritmos frenéticos e delicados.
Um beijo na barriga, uma promessa de caminho. Um gemido, e ela cai na risada feito menina, que foge de bicicleta. Foge bailando a saia, mostrando as coxas, provocando. Ele corre e a prende, numa mordida na nuca. Ela freme, feminina, deixa-se acomodar as formas.
Riem ao espelho, entre caretas e lambidas na prata fria. Abrem os dentes, mastigam a pasta de hortelã a lhes queimar a língua. Depois se esfregam, como rebites de um navio de ousado calado. E calados, no torpor das peles, fundem-se em momento atômico, explodem e se deixam cair de joelhos, em braços que os amparam.
Voltam em lânguido abraço, beijam-se com lábios flácidos, dormentes. Caminham pelo quarto, em ângulos sedentos, a rasgar as poucas vestes que lhes sobram. Ele estaca, encantado-lhe o pensamento com dobrinhas que, como dunas, seguram os limites da calcinha perfumada, úmida do seu suor mais íntimo.
Ela se acarinha nos pelos do peito, roçando-lhe o rosto trêmulo de desejo. E se agarram em caranguejos, como algas perdidas no turbilhão das tempestades. Espremem-se, espirram jorros de loucura. E se lambem, se misturam, se provam e se bebem. Gemem juras de amor, num ar quente que lhes sai sem voz.
Ela se desnuda inteira, plena. O brilho que lhe escapa dos seios incendeia as paredes em lança-chamas. Ele se consome naquele brilho, beija-lhe o umbigo, como um moleque, que implora abrigo.
Ela ginga, enfeitiça o ar, traz um odor de fêmea em persianas. E se aproxima aos poucos, e lhe roça a boca com formas de pétala. Tenta-lhe a língua em movimentos incertos. Recebe a saliva quente e geme. Serpenteia as ancas inflamadas, num ritmo alucinante, perfeito.
Banha-lhe o rosto, a boca, em óleos femininos, ácidos e doces. Grita ordens, jorra odores. E lhe prende a língua, e se desfaz em prantos de gozo. Deixa-se pousar, leve, límpida, a escorrer água nascente.
Ele a bebe toda, sorvendo-lhe as gotas. Ela cai, entregue, molda os lençóis. As formas arredondadas, a visão de deusa deitada, de bruços. Tudo o enlouquece, num querer mais daquele corpo.
Ela reluta, dengosa, mas abriga, recebe. E se contorcem ritmados, aceleram os corpos. Olham-se nos olhos, nas coxas. Como num plano tácito se tecem, e se invertem, a entregar o supremo berro em suas bocas.
E estancam, exaustos, a fazer carinhos de umbigo. Ela se aquece novamente, pousa o corpo quente em cobertor, crava-lhe unhas nas costas. E em amor lhe pede, singela: - Mais, mais!
Ele, num gemido de paixão, que pede um segundo, a lhe olhar os lábios, mal consegue soletrar, temporão:
- Eu te quero! E assim vão, noite afora, grafitando como negro carvão, que risca o relógio e confunde o tempo.