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Erotico-->32. CONVERSA ELUCIDATIVA -- 13/02/2005 - 15:20 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Estranhou, sobremodo, Teotônio o fato de não se recordar de quase nada do que sonhou, durante noite cheia de paz, apesar dos entreveros da memória. Acordou bem disposto mas não se atreveu a sair do leito, aguardando, com paciência, a presença do novel orientador.
Enquanto esperava, ia desfiando as questões levantadas na noite anterior, almejando a descoberta das respostas por si mesmo. O que mais o intrigava era o momento em que havia transposto os umbrais da morte.
— Tenho a impressão de que fui morto pelos bandidos com requintes de perversidade, conquanto não me tenham feito sofrer muito. Aquele pontapé nas costas feridas é que deve ter provocado a reação orgânica letal, como hemorragia interna ou mesmo ruptura da pleura e conseqüente infecção. Não foi à toa que me deram remédio depois…
Atinou com o fato de que, se morreu em conseqüência das seqüelas dos maus tratos no cativeiro, não poderia ter sido tratado senão pelos do plano espiritual. Embatucou, sem poder avançar significativamente.
Não decorreram mais de dez minutos desde que buscava solucionar o sério problema do atendimento espiritual através de remédios de posologia aparentemente material, com horários bem caracterizados, em quantidades específicas, quando chegou Ari.
Trazia espécie de bata ou avental branco, de fino acabamento, em tecido absolutamente desconhecido do costureiro. Teo havia reparado nas cobertas e não soubera designar o pano com que eram confeccionadas. Mas calou-se quanto ao interesse específico.
— Como está o paciente, hoje? Amanheceu deprimido ou voa por paragens de felicidade?
— Sinto-me ótimo, apenas aguardando em paz que se me restaurem os princípios espirituais ou essenciais desta esfera de transubstanciação, porque não creio que estejamos integrados em ambiente de superior categoria existencial.
— Vejo que se esmera quanto ao linguajar. Preciso aprender a raciocinar em função desses livres arremessos nos meandros construtivos…
— Por favor, pare. Não seria capaz de acompanhá-lo. Aliás, uma das perguntas iniciais, se me for permitido perquirir o amigo a respeito dos arremessos do pensamento, vai ser sobre esta forma que reputo empolada de dizer as frases e de construir os parágrafos. Tenho para comigo que a linguagem deve refletir a maneira habitual ou rotineira que utilizamos no trato com as pessoas. Por que, então, estando na sua presença, não simplifico os dizeres? Ao contrário, forço até onde posso para encontrar precisão, elegância, especificidade sem objetividade aparente, para transmitir-lhe os elementos que componho.
— Vamos dizer, caro amigo, que você traduz as preocupações inerentes à sua maneira de ser. Como desejar ser simples, se você é complexíssimo, mental ou intelectualmente falando? Não concorda comigo em que as idéias é que são tremendamente difíceis para admitirem terminologia vazada nos significados mais materializados da fala coloquial? Imaginemos congresso de marchands da haute couture internacional. Quais seriam os registros lingüísticos que se empregariam com maior propriedade?
— Falaríamos segundo os códigos admitidos no meio, como fariam médicos, advogados, políticos, juristas…
— Então, é justo que busque, ao falar comigo, o vocabulário concernente aos temas. Sei que você está se referindo não apenas ao léxico, como ainda à sintaxe, ao nível sociolingüístico (espiritolingüístico, diria melhor), à precisão semântica, chegando aos aspectos quase literários da realização idiomática.
— Não precisa prosseguir. Entendi a exemplificação incrustada na explicação. Em todo caso, acredito que, quando estiver dominando este tipo de código, irei estranhar muito menos. Acautelem-se os novatos, como estou desejoso de precatar-me por minha vez.
— Quanto a mim, caro Teo, vou fazer o possível para lhe passar os conceitos sem preciosismo de linguagem. Vai bem assim?
— Certamente.
— Qual a próxima dúvida?
— Quero saber se é importante conhecer em que exato momento meu espírito se desprendeu do corpo.
— Você está preocupado porque quer desencadear os raciocínios a contar daquele instante, para fixar o que, verdadeiramente, ocorreu no cativeiro, ou pretende, tão-só, conhecer a causa da morte, para fixar o nível de responsabilidade dos criminosos?
— A sua colocação mereceria, da minha parte, reflexões pungentes, porque implica em problemas de caráter moral, em primeiro lugar, e, depois, em aspectos existenciais jungidos aos dramas da consciência pejada de culpas.
— Então, devo concluir que todos os pontos da perquirição foram levados em conta. Nesse caso, devo perguntar, antes, qual irá ser a postura sentimental ou emocional do amigo, caso se sinta ferido em seus direitos à vida.
— Pretendo compreender, acima de tudo, o que pode conduzir as pessoas a agirem em detrimento do próximo, uma vez que, com certeza, obtiveram as quantias pretendidas como resgate.
— Você morreu baleado antes mesmo de chegar ao esconderijo dos contraventores. Qual foi sua derradeira lembrança, ao se sentir cego pela máscara?
— Lembro-me de ter visto o relógio e pequena nesga de pele do sujeito que me…
— Não vou confundi-lo com suposições. A touca sem orifícios para os olhos foi aplicada diretamente sobre você na qualidade de espírito.
Teo se atrapalhou com o dado. Esperou uns momentos para interrogar, em estado de incredulidade:
— Como é que guardei totalmente as impressões corpóreas, como se estivesse verdadeiramente vivo, sentindo todas as sensações, impedido apenas de ver?
— A resposta você mesmo irá encontrar, depois de muito meditar a respeito da personalidade. Mas não é verdade que apenas a visão recebeu um óbice… Perdão! Vou simplificar. Também a audição, o olfato, o tato e o paladar foram restringidos drasticamente. A recuperação do contato com o ambiente no plano não material ou etérico se deu paulatinamente.
— Todos os que saem da vida recebem os mesmos cuidados e se sentem da mesma forma quanto à percepção do fato de terem morrido?
— Se você tivesse atendido ao chamado da irmã, teria recebido informações precisas, uma vez que a teoria espírita, desde o Codificador, Allan Kardec, reúne condições de esclarecer esse e outros temas essenciais para quem não deseje mergulhar na morte de cabeça.
A precisa referência ao desleixo espiritual sufocou o recém internado.
— Creio que preciso digerir-lhe as palavras.
— Eu ia mesmo propor-lhe que lesse este opúsculo, que fornecemos aos que se interessam pela realidade em que se sentem envolvidos.
Depositou sobre as mãos de Teotônio um libreto de capa dura vermelha, com dizeres impressos em letras douradas, onde se lia: Cartilha de Evangelização: Noções Básicas da Realidade Espiritual.
— Leia devagar e procure absorver todos os conceitos, independentemente do interesse em aplicá-los à sua experiência cármica. Fique com Deus!
Tão entretido ficou Teo com o catecismo que nem percebeu a saída de Ari. Abriu o livro com sagrado respeito, imaginando que, se todos os acontecimentos se lhe reproduziam com nitidez na memória, não iria ser-lhe impossível assimilar cada palavra, cada idéia, cada conhecimento.
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