Na flor de seus doze anos, a doce menina abria-se para a vida naquele dia. Rosalinda menstruava pela primeira vez.
A mãe, Rosaura, cercava-a de cuidados, explicando-lhe as sensações pelas quais passaria:
— Não se deixe impressionar, querida, pelo sangue.
— Eu sei que é natural, mãe. A professora nos disse que o processo fisiológico demonstra a fertilidade da mulher. Quer que lhe diga os nomes científicos?
— Não precisa. Mas é bom que você saiba que o ciclo menstrual se repete a cada vinte e oito dias.
— Eu sei, eu sei. Como sei que o fluxo sangüíneo deve durar três dias. Se for maior, é bom ir ao médico.
— Como você está se sentindo?
— Muito alegre.
— Não está com cólicas?
— A professora disse que alguma cólica é possível. Se o mal-estar for grande é que o problema é da cabeça e não do corpo.
— No meu tempo a gente não sabia nada disso. Minha mãe me preparou para terríveis dores e eu até precisei dizer que estava precisando de comprimidos, caso contrário ela ia pensar que eu era diferente.
— Você não está querendo que eu diga nada que não esteja passando...
— Eu quero que se sinta muito bem, feliz e grata a Deus por ter uma primeira vez tão esclarecida e confiante. Você está confortável com o absorvente?
— A professora disse que a gente deve trocar depois de uma hora, da primeira vez, para observar se tudo está normal. Vamos ver se está?
Sem esperar resposta, sem cerimônia, abaixou a calcinha e deslocou a pequena almofada úmida o suficiente para justificar a troca.
A naturalidade da atitude surpreendia Rosaura. Lembrava-se de sua primeira vez e da vergonha que sentiu ao contar à mãe. Ao pai, nem pensar, ao contrário da filha, que anunciou a todos da casa a chegada do mênstruo, inclusive ao irmão dois anos mais velho, correndo o risco de receber algum motejo. No entanto, o beijo carinhoso que ele lhe pespegou na bochecha enterneceu-a, pelo amor que revelava.
— Você acha que está tudo bem?
— Claro que está.
— Por que, mãe, você nunca me mostrou um absorvente seu, para me dar idéia de como seria?
— A sua professora não lhe disse que antigamente as mulheres não julgavam certo exibir sua condição?
— Disse, mas você é diferente.
— Sou nada. Sempre tive as minhas inibições. Do jeito que você está levando o seu caso, eu até fico arrepiada, pensando se não seria melhor proceder de modo mais reservado...
— Eu quero que todo mundo saiba que estou maravilhada.
— E o que você está sabendo a respeito da tensão pré-menstrual?
— A síndrome de tensão pré-menstrual é um fenômeno da mente que pode ocorrer em dias que precedem a menstruação e se caracteriza por maior ou menor irritabilidade, podendo causar insônia e instabilidade emocional. A mulher pode ainda ter dor de cabeça, nos seios, no abdômen, prisão de ventre e muito cansaço.
— Na ponta da língua?
— Quando se trata da gente, compreender e decorar constituem uma necessidade e um prazer. Foi assim que a professora nos ensinou.
— Não se esqueça, sabichona, de que uma coisa é a teoria, outra, bem diferente, é a prática. Quando você sentir que está reagindo mal por causa da tal síndrome, como você disse, veja se não vai descontar tudo nas pessoas. Entendeu?
— Vou entender melhor quando chegar a hora.
Ambas se abraçaram e a mocinha foi logo em busca do telefone, onde passaria as próximas horas contando a novidade às amiguinhas.