Esta semana descobriram água numa lua de Saturno. Em forma de gelo, líquida e gasosa. Alertei a companhia de saneamento, da qual meu patrão é acionista, além de empregado da área de educação corporativa, no sentido de montarmos, imediatamente, um curso de formação de extra-saturninos.
É que água será o grande negócio deste milênio e, por isso, quem vai na frente educa a corporação — o domínio do idioma Inglês é imprescindível — capta, trata, encana, negocia, e distribui água limpa. Haja patrulhas para manutenção disso tudo.
Em lugar de formar astronauta para ficar apenas olhando o espaço, de dentro da aeronave, como ficam os encarregados das patrulhas citadas, e fazendo testes de leveza por ausência de gravitação, propus a ele e à empresa que enviemos, no menor tempo possível, os extra-saturninos de ponta, por nós recém-formados, para a tal lua.
O investimento inicial seria o equivalente ao preço de uma aeronave, mais os salários dos ditos cujos, mais as horas extras, fielmente comprovadas pelas gravações feitas pelos nossos apontadores de ponto daqui da Terra, mais os custos com materiais, e mais as despesas com combustíveis, lanches e refeições.
De cara, e com coragem, irão os sondadores, com a incumbência de mapear e levantar o potencial de cada manancial, acompanhados de uma primeira turma de engenheiros civis e biólogos, responsáveis pela montagem de uma primeira estação de tratamento, e de operários para montagem do primeiro aqueduto espacial, direcionado para desembocar no lugar onde o Rio São Francisco seria transposto.
Claro que, comprovando-se que a água é boa, novos investimentos justificarão nossa expansão na tal lua, com a implantação de um laboratório, para controle de qualidade de água e um espaço físico de uns cinco quilômetros quadrados para leilão, entre os saturninos, de sucatas de bombas, motores, veículos, computadores e máquinas de escrever e calcular.
Se, por acaso, Saturno desejar consumir a água da sua lua, outros investimentos semelhantes serão providenciados. Cuidaremos, então, da instalação dos hidrômetros, importados da China, nas residências e nos pontos comerciais, classificando-os em economias, conforme o porte de cada núcleo de consumo daquele planeta, que tem diâmetro nove vezes maior que o da Terra. Em seguida, enviaremos os leituristas com suas máquinas de leitura, e uma equipe de analistas comerciais e financeiros para os controles de arrecadação e remessa do numerário para os bancos que tomam conta do nosso dinheiro.
Enfim, eu e meus descendentes estamos com o futuro assegurado. Eu, na tumba, e eles aproveitando enquanto puderem do vil faturamento líquido, que nem deputado condenado pelo conselho de ética política.

Com os cumprimentos do Tim,
crente em mananciais estratosféricos,
filho de dona Yara, a mãe-d"água, e, atualmente,
servo de lanchonete instalada em frente à Nasa.
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