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Erotico-->28. ARISTIDES -- 22/02/2002 - 06:26 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Estava Rosalinda a admirar as feições de Bianca, a netinha recém-nascida, no colo da enfermeira atrás do vidro do berçário, quando ouviu uma voz sorridente cumprimentando-a:

— Está feliz a Vovó Rosalinda?

Voltou-se pronta para responder:

— Tanto quanto o Vovô Aristides.

— Viu como os nossos filhos souberam produzir uma obra de arte?

— Ela é maravilhosa. Tem traços das duas famílias. Será que os olhos são azuis como os do pai?

— Jurandir diz que sim, mas eu, que fiz o parto, não vou pôr a minha mão no fogo. Mais um ou dois dias, e saberemos a quem ela puxou.

— Doutor, foi bom nos encontrarmos, porque eu queria muito conversar com o senhor.

— Minha cara, por favor, vamos deixar de cerimônias. Afinal, somos parentes e a pessoa importante é você, autora consagrada e empresária conhecida no mundo todo.

— Mercê de uma pequena fortuna que não paro de gastar com propaganda, entrevistas e matérias pagas. Quer vender? Tem de investir na divulgação dos produtos. Mas eu queria falar dos nossos filhos.

— Você jantou?

— Vim diretamente para cá.

— Não tem compromisso com ninguém?

— Hoje, não.

— Desculpe, eu não tive a intenção...

— Teve, sim. Mas eu o perdôo, porque aos viúvos se dá o direito de azarar as moçoilas descasadas.

— Estava pensando era na dupla caipira...

— Eu não gosto que chamem os gêmeos assim. Que culpa têm eles se o pai, Olegário, quis dar-lhes o nome de Leandro e Leonardo?

— Entendi: Olegário, o Leandro e o Leonardo. Foi isso?

— Foi. Eles estão bem. Mas eu queria conversar a respeito do Jurandir e da Beatriz.

— Vamos nos despedir deles no quarto.

— Eles vão mexer com a gente, indo nós dois juntos. Vá você porque eu já me despedi.



Meia hora depois, sentavam-se os dois lado a lado, à mesa de um bom restaurante, não longe da maternidade, porque o carro do médico havia ficado estacionado lá.

Enquanto esperavam o serviço, Rosalinda expôs seu projeto:

— Nossos filhos, quartanistas de Medicina, em breve estarão ganhando dinheiro. Por enquanto, as nossas mesadas têm proporcionado a eles uma vidinha confortável. Mas, com a chegada da Bianca, eu não quero que se preocupem com as acomodações, de modo que pretendia fazer que se interessassem por um apartamento maior, cujo aluguel faço questão de cobrir.

— Eu tinha pensado em contratar uma babá, melhor ainda, uma enfermeira especializada para ficar com a criança, enquanto a mãe estivesse ausente.

— Você arca com essa despesa e eu, com a outra. Se quiser, podemos somar e rachar ao meio, porque vou acabar levando vantagem.

— Admiro a sua precisão empresarial. Você deve ser honestíssima nos negócios.

— Nos negócios e fora dos negócios. Por isso, os meus funcionários só saem quando não necessitam mais do emprego.

— Por falar em negócios, como está o seu livro? Soube que se venderam, em menos de seis meses, várias edições.

— Noêmia é que foi a verdadeira autora. Eu até quis que assinasse a obra, mas se recusou, dizendo que não teria lastro financeiro para acompanhar o projeto de marketing. Contentou-se com uma participação de vinte por cento no meu lucro líquido.

— E a idéia de criar a editora?

— Morreu com o sucesso de vendas do livro. Aliás, deixei mais material com o editor, que o está passando pelo crivo de sua habilidade livreira.

— Outro dia, vi você dando uma entrevista tarde da noite. Confesso que fui dormir porque estava muito cansado.

— As entrevistas fazem parte do processo de divulgação. Trata-se de um verdadeiro périplo pelas emissoras, além dos horários que preciso reservar para os editores das colunas especializadas dos jornais e revistas.

— Isso deve ter seu preço.

— É algo que pode ser revertido, ou seja, existem autores que até ganham, por contrato, para receberem as equipes de reportagem. É tudo uma questão de fazer fama e dormir na cama.

— Deixe-me aproveitar esse gancho para propor-lhe...

— Veja lá!

Aristides riu a bom rir da facécia de Rosalinda, terminando por explicar-lhe:

— Eu queria referir-me a uma idéia que tive de criar um sistema de saúde bastante popular, coisa séria envolvendo muitos profissionais de minha área, para dar assistência específica às mulheres grávidas, às parturientes e às crianças, através de acompanhamento pediátrico. Mas a idéia da cama não seria de todo descartável...

Sem cerimônia, Rosalinda pôs a mão na perna do médico, perguntando-lhe ao ouvido:

— Você promete ser carinhoso?

Aristides olhou muito admirado para Rosalinda, sem saber direito o que pensar e o que dizer. Experimentou dar-lhe um beijo na face, mas foi delicadamente empurrado:

— Em local público, não, por favor. Estou cansada de ser flagrada em todo lugar ao lado de homens e as revistas de escândalos não perdoam o meu passado. Estar comemorando com o sogro de minha filha o nascimento de Bianca é uma boa desculpa para estarmos juntos. O mais vai acabar nas colunas de fofocas.

— Mais uma, menos uma...

— Meu bem, eu não estou pensando em mim. Você é que seria o prato principal desse cardápio suculento e apetitoso para o público ávido de novidades sensacionalistas.



Rosalinda acordou na manhã seguinte numa cama desconhecida, com o ruído charmoso de uma canção sertaneja bastante antiga, homenagem do médico aos filhos da namorada.

— Desculpe-me, querida, mas eu pego cedo no batente. Acredito que você também. Fui aprovado?

— Com louvor. Nada como um especialista para realizar o melhor serviço.

Selaram a nascente amizade com beijinhos nas faces, enquanto Rosalinda se embrulhava no lençol, com certeza para esconder as estrias que lhe ficaram do último regime.



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