A MENINA DO ÔNIBUS II - Capítulo II(g)
Olá queridos leitores,
Vocês que acompanharam a história de Ana Carla em “A MENINA DO ÔNIBUS”, poderá a partir de agora conferi também alguns capítulos extras que farão parte do livro a ser publicado futuramente, assim que o livro estiver pronto.
Seguindo a ordem dos capítulos que foram publicados aqui na Usina de Letras, o capitulo a seguir é um capítulo entre II(f) e III da segunda parte. Para ficar mais fácil a localização, resolvi chamá-lo de capítulo II(g) para não confundir os leitores. Para ler o capítulo II(f), clique [aqui]
Abraços,
Edmar Guedes Corrêa
Se quiser saber como tudo começou, então clique em: A MENINA DO ÔNIBUS
II(g)
I
O que nós homens não fazemos por uma mulher? E nem precisa ser muito bonitinha.; basta avistar a possibilidade de uma boa foda. Agora imagine o que somos capazes de fazer, se a mulher for bela, atraente, a desejarmos como nunca desejamos outra e ainda por cima se estivermos apaixonado por ela? Não fazemos qualquer loucura? Certamente que sim. Mas não são somente os homens que fazem loucuras por uma mulher. Elas também o fazem pelos homens. Aliás, diferentemente dos homens, que o fazem por sexo, as mulheres só o fazem por amor. E é aí que está o xis da questão: suas loucuras são maiores e têm um custo bem mais alto. Elas são capazes de jogar toda uma vida fora, são capazes mesmo de abandonar tudo aquilo que lhe é mais caro – os filhos – em troca de um grande amor, sem avaliar os prós e os contras. Os homens, na mais das vezes, não fazem isso sem uma ponderação. Eis a grande diferença entre as loucuras de um homem e as de uma mulher.
Disso eu sabia perfeitamente, embora, na situação em que me encontrava, isso já não fazia muita diferença. Estava apaixonado. E um homem apaixonado, não se difere tanto assim de uma mulher: age mais com a emoção do que com a razão. E era aí que estava o meu medo. Ao me apaixonar, perdi o controle dos meus atos, já não era mais capaz de enxergar os perigos e nem mesmo de prevê-los. De forma que eu sabia que mais cedo ou mais tarde a situação ia ficar fora de controle e a bomba estouraria. O máximo que eu poderia fazer era retardar esse desfecho, retardar que os pais de Ana Carla descobrissem o nosso relacionamento. A questão era como? Foi nisso que passei toda a noite de quinta-feira pensando.
Embora estivesse cansado, tanto que nem quis pegar no livro de Nietzsche ao meu lado da cama, sobre o criado mudo, não conseguia pregar o olho. Aliás, essas preocupações invadiram-me pensamentos e roubaram-me o sono. Eu tentava manter o olho cerrado, mas de nada adiantava. Esses pensamentos remoíam e remoia na minha cabeça, como se quisessem me enlouquecer. Lembro-me que a certa altura, eu comecei a ficar irritado por não conseguir dormir. Tentei mudar o foco de meus pensamentos, mas eu não obtinha sucesso. Essas preocupações continuavam a me perseguir. O pouco que consegui foi adicionar um novo elemento: Maria Rita.
De repente me veio à cabeça a possibilidade de Maria Rita chegar de surpresa ao Guarujá e insistir em se encontrar comigo. “E se ela me ligar quando eu estiver com a Ana Carla? O que vou fazer? E se ela quiser se encontrar comigo e eu já estiver marcado com a Ana Carla? Sim, porque se ela aparecer, será num final de semana. Ah! Puta merda! Ainda vou me ferrar por causa dessa menina!”, pensei enquanto não conseguia pregar o olho.
No outro dia acordei sonolento e indisposto. O que me alentava era a possibilidade de me encontrar com Ana Carla no final do dia. “Ainda bem que vou sair mais cedo hoje! Assim, vai dar para a gente se encontrar. Na hora em que ela me ligar, a gente combina aonde se encontrar”, pensei ao ir para o trabalho.
De fato ela me ligou quando eu retornava a casa para almoçar. Eu queria me encontrar com ela no Anexo Secreto, mas ela insistiu em ir ao meu trabalho. Tentei demovê-la dessa idéia absurda, no entanto, ela manteve o pé firme.
Era uma loucura arriscar-se sem motivos. Mas é como eu disse: o amor cega. Se fosse há um mês, eu teria tido forças e argumentos para convencê-la a não fazer uma besteira dessas, mas agora meus argumentos não são mais convincentes, minhas palavras não têm a mesma força e nem causam o mesmo efeito dantes. É como se o amor tivesse me domesticado, me tornado um animalzinho dócil, como um cãozinho de estimação.
Durante à tarde não consegui trabalhar direito. Passei a maior parte do tempo preocupado em encontrar uma boa desculpa para a presença daquela jovem no meu local de trabalho. Sabia que a secretária e os colegas de trabalho nos olhariam com desconfiança. Aliás, certeza eu não tinha, mas imaginava isso na minha cabeça. Pois sei como são os homens: ficam desconfiados ao verem outro acompanhado de uma jovem bela e atraente. Ainda mais sabendo que eu não tinha irmãs.
Meu coração palpitava. E, quando ela apareceu, passou a bater com tamanha força que quase era possível ouvir seus toc-tocs. Aliás, nem consegui esconder o desconforto com a sua presença. E demonstrei mais nervosismo ainda ao vê-la conversando com a secretária. “Só falta é dar alguma mancada”, pensei. A propósito, foi exatamente pensando nisso que surgir imediatamente na recepção.
-- Oi! – foi o que consegui falar, com as faces afogueadas.
-- Oi, primo! – respondeu ela aproximando-se e cumprimentando-me com três beijinhos. Aliás, isso acabou foi me deixando mais envergonhado, principalmente por notar um olhar desconfiado e até mesmo sarcástico de Flávia, a secretária.
Saímos dali imediatamente.
-- Você está com fome? – perguntei minutos mais tarde.
-- Não. E você?
-- Ah, eu estou morrendo de fome – falei, enlaçando-a pela cintura e puxando seus quadris para junto do meu. Ana Carla usava uma blusinha branca com listras rosa e uma minissaia esverdeada, a qual deixava à mostra a marca do biquíni. – Vamos a uma lanchonete legalzinha aqui perto. Fica a duas quadras daqui – acrescentei.
-- Então vamos, meu amor – concordou ela com rejubilação, talvez por ter ido me buscar no trabalho.
Sentamos numa mesa bem escondidinha, onde não podíamos ser vistos por quem passava na rua. O garçom, um rapazinho novo, de boa aparência, aparentando uns dezoitos anos nos atendeu. Ao anotar o pedido, notei que ele não tirava os olhos de Ana Carla. Confesso ter ficado bastante enciumado, embora não a tenha deixado perceber isso.
Ainda não havia anoitecido, mas o sol começava a se por. No horizonte, via aquele tom alaranjado, o que tornava o cair da noite romântico, capaz de tornar as paixões mais aguçadas. E, ao reparar nesse pôr do sol, pensei em levar Ana Carla para o Anexo Secreto e passar alguns momentos ao seu lado, naquele lugar tão especial para nós, conquanto isso nos fizesse perder um bocado de tempo. Mas não cheguei a lhe propor isso, pois, quando ia abrir a boca, o sanduíche chegou e a vontade de devorá-lo me desviou a atenção.
-- Sabe, minha florzinha. Desculpe te insistir, mas você não notou nada diferente? – perguntei, após ter comido o meu lanche.
-- Nadinha. Se eu estivesse grávida, já teria notado alguma coisa – respondeu ela, falando com a boca cheia.
--Isso é verdade! – assenti. Entretanto, em seguida acrescentei: -- Mas só vou me convencer depois de saber que você ficou menstruada.
Ana Carla mastigou mais um pedaço do sanduíche e, após engoli-lo, afirmou:
-- Até o próximo final de semana ela já veio.
-- Espero – falei encostando-me na cadeira, cruzando as pernas para vê-la comer com delicadeza aquele sanduíche.
Houve um breve silêncio. Tempo suficiente para ela acabar de comer seu lanche e tomar o restante do seu refrigerante.
Nesse ínterim, achei-a ainda mais bela. E fui tomado por um grande júbilo na alma. Eu me senti o homem mais feliz e abençoado do mundo. Era como se eu fosse melhor do que todos os outros homens, só por estar de posse duma ninfeta como aquela. E por alguns instantes, tomado pela fraqueza, meus olhos quase se encheram de lágrimas. Ainda bem que ela levantou a cabeça, atirou-me seus lindos olhinhos e deu um sorriso.; o que desanuviou meus pensamentos.
II
-- O que foi? – perguntou ela
-- Nada – falei. -- É que você está tão linda, minha florzinha – acrescentei em seguida --, que dá até vontade de te apertar em meus braços, beijar essa boquinha linda – fiz um biquinho e balancei a cabeça – e me enroscar todinho em você.
Ela achou graça das minhas palavras. Depois ordenou:
-- Pára de safadeza. -- Fitei-a nos olhos, fiz uma cara de quem estava com segundas intenções.; a seguir, fiz um gesto provocante com a língua, ao deslizá-la de forma sutil ao redor dos lábios e dei um sorriso depois. – Seu safado! – balbuciou ela, devolvendo aquele olhar indecente.
Foi então que discretamente ela levou o dedo à borda da blusinha e empurrou para baixo, para que eu visse parte de seus seios. Ana Carla passou novamente a língua pelos lábios e deixou escapar outro sorriso. Nisso, no breve silêncio que se seguiu, pensei: “Essa menina sabe me enlouquecer. Se não fosse minha menina, acharia tratar-se duma autêntica putinha”.
-- Você não sabe o que fiz ontem – disse ela, com certa volúpia.
-- O quê – indaguei.
-- Fiquei lembrando de nossas carícias ontem à noite, na cama, e aquilo me deixou superexcitada, toda molhadinha. Aí, eu me lembrei de como você me acariciava. Então resolvi tentar – começou ela a contar. Em seus olhos, em seus lábios, em seus gestos podia-se ver um comportamento inadequado para uma menina daquela idade. Era como se ela quisesse, com aquilo, despertar-me os mais intensos desejos para então me deixar ser consumido por eles. – Levantei e tranquei a porta do meu quarto no escuro mesmo. Aí, deitei na minha cama. Estava só de calcinha. Tirei ela, abri um pouco as pernas e fui enfiando o dedo no meio da minha xana – continuou ela, com a voz baixa. Enquanto falava, fazia gestos com a mão, como se quisesse me mostrar como havia feito. “Meu deus! Daqui a pouco serei eu quem vai ficar todo molhado”, pensei. – Demorei um pouquinho para achar o lugarzinho certo. Mas, quando achei, fiquei esfregando o dedo nele, do mesmo jeito que você faz, e então foi ficando cada vez mais gostoso. Sei que começou a me dar um calor, mas mesmo assim não parei. – Embora falasse baixo, ela falava com naturalidade, como se contasse um fato corriqueiro. Aliás, nem se dava ao trabalho de olhar para os lados a fim de averiguar se alguém lhe prestava atenção. Eu era quem fazia isso. De quando em quando, meus olhos corriam a nossa volta para indagar se ninguém nos olhava. – Eu me contorcia toda na cama de tão gostoso que era. Nossa que loucura! Aquilo foi me dando uma agonia, um desespero. Fui ficando louquinha. Aí eu passei a mexer mais rápido o dedo. Com a outra mão, apertava meus peitos, ora um ora o outro. – Ao vê-la narrar com requinte de detalhes sua masturbação, até consegui formar no cérebro a imagem daquele corpinho virando na cama para cá e para lá. Podia ver a expressão em sua face, os movimentos de seus lábios, os suspiros, os movimentos de sua mão no meio das pernas. E ao imaginar tal cena, chegava ao ponto de quase experimentar o mesmo deleite. – Nossa! Dali a pouco me deu um troço e fiquei sem forças. Parecia que eu ia desmaiar. Fiquei exausta! Acho que fiquei deitada bem uns dez minutos para descansar. Depois levantei, vesti a calcinha e fui dormir – concluiu ela.
-- E você nem foi se lavar? – perguntei, como forma de sair daquele estado em que me encontrava.
-- Claro que não. Fiquei com medo de sair do quarto. Preferi dormir assim mesmo – explicou. – Mas hoje bem cedo, levantei e fui correndo ao banheiro me limpar. Fiquei com medo de minha mãe entrar no quarto e sentir aquele cheiro em mim.
Achei muita graça. “Ah, como é esperta essa menina! Se bobear, ela fica mais esperta do que eu”, disse comigo mesmo, sorrindo.
Ana Carla pegou o copo de refrigerante onde jazia um restinho de coca-cola e tomou. Isso me fez deduzir que poderia estar com sede. Então corri os olhos pelo salão a procura de um garçom e, assim que o encontrei, chamei-o com um aceno. O mesmo rapaz nos atendeu. Pedi mais uma coca-cola.
-- E você? Já fez isso pensando em mim? – perguntou ela, assim que o garçom se afastou.
-- Eu?
-- É. Já? – insistiu ela.
“E agora? O que falo pra ela? Minto ou digo a verdade? Ela está me olhando com cara de curiosa. Será que não vai ficar chateada se falar a verdade? As mulheres são meio caretas nesse ponto. Ela pode achar isso uma falta de respeito. Ela está esperando uma resposta. Mas o que eu digo? Vou falar a verdade. Ela não escondeu o que fez de mim. Também não devo fazer isso. É. Vou dizer sim.”, pensei, nos segundos que se passaram.
-- Já, sim. Já fiz algumas vezes – respondi.
-- Quando? – quis ela saber. Ana Carla demonstrava grande interesse, uma curiosidade fora do comum. Dir-se-ia sentir deleite ao ouvir meus segredos mais íntimos.
“Pronto! Só me faltava essa agora! Essa menina já está querendo saber demais. Será que conto que foi logo depois de conhecer ela? Não. É melhor falar que não sei. Isso!”
-- Ah! Não sei. Não lembro – respondi um pouco constrangido. “Não. É melhor falar que foi quando ela estava viajando” – Acho que foi quando você estava viajando – corrigi.
-- E como foi?
Lembro-me de arregalar os olhos, como que não acreditando. “Não. Eu não vou responder. Nem adianta ela fazer essa cara de quem vai ganhar um presente. Não vou contar. Isso já está indo longe demais”.
-- Ah, não sei – desconversei.
-- Como não sabe? – redargüiu com impaciência. -- Você não quer é responder. Vai. Pode falar – insistiu Ana Carla.
“É. Não tem jeito. É melhor contar tudo de uma vez e satisfazer a curiosidade dela. Também. Não tem nada demais. Não estava fazendo nada de errado mesmo! Todo homem faz isso”.
-- Ah! Faço quando estou tomando banho. Começo a pensar em você, nesses seus peitinhos durinhos, lindos... Aí imagino você tirando a calinha, com aquela bundinha linda que dá vontade de apertar. Aí eu imagino você deitada na cama, eu me deitando em cima de você. Aí meu pau fica duro na hora. Então eu enfio ele debaixo do chuveiro, depois passo sabonete nele e começo a mexer a mão para trás e para frente – Cheguei até a fazer um movimentozinho com a mão direita para ela ver como era. – Aí eu fecho os olhos e me concentro em você. Aí eu imagino você abrindo suas perninhas para mim. Eu lambendo essas coxas deliciosas que você tem aí. Então eu começo a sentir um calor, meu coração começa a bater mais rápido. Aí eu me imagino pondo a cabeça do meu pau na sua bocetinha toda molhadinha. Aí você abre bem as pernas pra mim. Aí eu ajeito ele e vou empurrando pra gente. Aí ele vai entrando – continuei a contar. No entanto, parei um pouquinho para respirar. “Meu deus! Já estou excitado. Desse jeito não vou agüentar”, pensei naquele curto intervalo de tempo. – Aí olho para sua carinha linda e você está sorrindo pra mim, um sorriso de satisfação. Então isso me deixa mais louco ainda. Aí eu vou empurrando ele ainda mais, até o fim. Então eu sinto a sua bocetinha apertar ele, pois ela é apertadinha mesmo. Aí eu começo a me mexer para trás e para frente. Mas na realidade é só minha mão quem está mexendo. E aquilo me dá tanto prazer que acabo gozando – conclui, com a respiração ofegante.
-- E é gostoso fazer isso? – perguntou ela.
-- Na hora é uma delícia. Mas depois fica aquele vazio. Na realidade, é uma coisa meio solitária. Você não sentiu isso, quando você fez? – inquiri, tentando tirar um pouco a tensão de mim. “Agora quero ver a cara dela. Ih! Será que não vai ficar vermelha? Não. Não acredito...”
-- Não. Não reparei – respondeu ela, interrompendo-me os pensamentos. – Mas acho que não.
-- Ah. Sei lá. Mas acho que pessoas que vivem de bater punheta devem ser pessoas solitárias, que tem algum tipo de relacionamento. Tudo bem. Uma punheta de vez em quando até faz bem. Alivia um pouco. Mas trocar uma transa, um relacionamento por uma punheta não é normal. Ah, mas não é mesmo! – expliquei, embora não tivesse certeza absoluta. “Espero que ela não se sinta ofendida por causa disso. Não. Ela não vai interpretar isso dessa forma. Já sei! Vou dizer que... – ...Pessoas assim. Quer dizer: a maioria dos homens não admitem que são punheteiros.
-- E você faz muito isso?
“Puta merda! Mas que menina curiosa! Ainda não está satisfeita. É. Faço sim. Sou um punheteiro de carteirinha. Digo isso a ela? Não. Melhor não dizer isso. A cara de safada dela! Ta doidinha pra saber o que vou responder. É melhor dizer que...”
-- Não. Só de vez em quando – menti. – Quando não dá para agüentar. “Pronto. Agora espero que ela esteja satisfeita.”
-- E quando foi a primeira vez?
“Não entendi. Será o que ela quer dizer?” Olhei para ela de forma interrogativa e perguntei:
-- Primeira vez?
-- É. A primeira vez que você fez isso pensando em mim? – tornou ela gesticulando.
“Me lasquei! Foi no mesmo dia. Quando vi ela no ônibus. Conto ou não conto isso pra ela? E se ela ficar brava comigo? Ah! Não vai ficar não! Vou contar”.
-- Foi no dia em que ti vi no ônibus. Quando falei com você pela primeira vez – respondi, com receio e ao mesmo tempo sem graça. – Cheguei em casa, corri para o banheiro e fui logo batendo uma punheta.
-- Não acredito? Que coisa feia – disse ela. – Mas e aí? O que você pensou?
“No meu pau tirando o seu cabacinho, em você chupando ele. O que mais? Ah, nem me lembro mais. Não. Isso não conto de jeito nenhum. Nem morto! Não, não.”
-- Não vou falar. É uma coisa muito íntima – respondi.
-- Pode falar. Agora que começou, termina – insistiu ela.
Contei-lhe. Aliás, Ana Carla descreveu da mesma forma em seu diário. Usou inclusive as mesmas palavras. De forma que não acho necessário repeti-las aqui.
-- Que horror! Não imaginei que vocês homens tinham a mente tão imunda assim. E todos os homens são assim? – perguntou ela, indignada e demonstrando certo nervosismo.
-- Também não precisa ficar assim. A maioria dos homens pensa mais ou menos assim quando vêem uma mulher gostosa, irresistível, capaz de deixar a gente louca.
“Espero que agora ela fique satisfeita. Será? Ficou afetada com minhas palavras. Bem feito! Não queria saber? Pois então? Descobriu a verdade. Caiu a máscara. Nada de fingimentos. A vida é demasiado curta para que desperdicemos uma parte preciosa com fingimentos, com hipocrisia.”
Depois de um breve silêncio, um silêncio inquiridor, ela perguntou:
-- E você já vez isso mais vezes?
-- Olhar para uma mulher gostosa e pensar sacanagem com ela? Claro que já. Muitas vezes. Em algumas vezes inclusive, chegava em casa e batia aquela punheta pensando nela. – Ana Carla arregalou os olhos. Parecia não acreditar que eu fosse capaz duma coisa dessas. Aliás, esse é um dos males das mulheres. Só porque se apaixonam por nós, acham que somos diferentes de todos os outros homens, que estamos acima do mal, que nos tornamos o mais perfeito homem do mundo. Ah! Só mesmo o amor para nunca julgar aqueles a quem se ama. – E você não é capaz de imaginar o que a mente dum homem é capaz de pensar – acrescentei em tom sarcástico. “Se você imaginasse, ficaria horrorizada.”
-- Nem quero saber – acrescentou ela.
Nisso, consultei o relógio. Era nove e cinco da noite. “Puta merda! Como a hora passou!”
-- Florzinha! Já está tarde. Não é melhor a gente ir? – perguntei.
-- Ah! Mas eu queria ir para um lugarzinho onde a gente pudesse ficar sozinhos – disse ela sorrindo em seguida.
-- Não. É melhor não. Está tarde. É bom não ficar se arriscando.
-- Mas então arruma um lugar para a gente ficar amanhã – disse ela.
Corri os olhos pelo salão a procura de um garçom. Avistei um senhor e fiz sinal para ele. Ao ver-me chamando, gritou para o rapazinho que nos atendera. Em poucos segundos, ele surgiu à nossa frente com um bloquinho na mão, talvez penando que fossemos pedir mais alguma coisa. No entanto, declarei:
-- Vê a conta, por favor.
Ele desviou o olhar para Ana Carla e depois me fitou novamente. Em seu rosto pude perceber um olhar de maledicência, como se pensasse: “Mais um safado, pervertido que gosta duma menininha nova”. Contudo, ao invés de me sentir ofendido, achei foi graça.
Pouco depois ele voltou com a conta. Mais uma vez encarou Ana Carla. Em tom de desafio, também o encarei. E quando me viu olhando para ele, tornou-se rubro e desconsertado. “Bem feito! Quem manda ficar olhando para a mulher dos outros”, pensei enquanto entregava-lhe a conta.
Tomamos o ônibus do outro lado da rua e fui deixar Ana Carla.
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