CARLOS CUNHA
Putas & Meretrizes
Capítulo 1
(três moças devassas)
Ainda não havia dado seis horas da manhã e a pequena igreja do povoado estava lotada de fiéis a espera do padre Yutaka – ele era um padre chileno muito querido pela pequena comunidade brasileira em que ministrava a palavra do Senhor, verdadeiramente idolatrado por uma das beatas, á qual tratava de maneira muito especial quando estava sozinho com ela, e por isso tinha esse nome esquisito - que ia realizar a primeira missa daquele domingo.
A platéia de fieis, em sua grande maioria, era composta por velhas senhoras trajada com seus vestidos escuros de corte rígido, que seguravam entre as mãos um grande terço e rezavam desesperadas pelo perdão dos pequenos pecados que elas haviam ou pensavam ter cometido naquela semana.
No primeiro banco de madeira, que tinha a mesma cor escura do piso em que o povo iria se ajoelhar para rezar, três moças muito bonitas cochichavam e davam rizinhos abafados. Eram as irmãs Rosalinda e Filomena Amparo – a estouvada, travessa e romântica caçula que era conhecida por todos como Filo – e uma amiga da irmã mais velha, a Maria da Graça, que dela nunca se separava.
...ele é tão bonito e me pediu em namoro, a Filo dizia toda faceira e feliz com a sua voz fininha e ardida de menina.
- Deixa de falar bobagem na igreja menina! - a irmã a repreendeu de maneira abafada e cheia de censura. A gente vem aqui pra rezar e você não para de falar em rapazes. Parece que não pensa em outra coisa!
- O que é que tem Rosalinda? Se você não gosta de homem não tem nada do que me censurar. Já está com dezenove anos e nunca teve um namorado!
- Filo... A amiga da irmã ia se intrometer na conversa, para apaziguar a discussão das duas, quando o padre Yutaka subiu ao púlpito para realizar a missa e junto a todos que ali estavam as três ficaram caladas.
Quando acabou a missa, e as pessoas que estavam na igreja saíram dela, o sol já tinha saído e fazia uma linda manhã. Alguns velhos sentaram-se no banco da praça para conversar e a maioria se dirigiu para casa. As três moças ainda desciam à escadaria da igreja conversando, quando a Maria da Graça disse pra Filo:
- Olha quem está lá do outro lado da praça. Acho que ele está esperando você.
Elas olharam e nesse momento um belo rapaz as viu e se dirigiu na direção delas, aproximou-se e falou educadamente:
- Olá senhoritas, muito bom dia. Oi Filo, da pra gente conversar um pouco?
- Agora não filo, a mãe ta esperando a gente, a Rosalinda falou zangada para a irmã sem ligar para o rapaz.
- E daí? – a Filo respondeu também brava com a falta de educação de sua irmã. Deixa de ser chata Rosalinda, eu só vou conversar um pouquinho e a gente vai. Espera ai com a Maria, ela falou e se afastou com o rapaz.
A Rosalinda ficou muito brava e disse a sua amiga que quando chegasse a sua casa ia contar tudo para a mãe. Pouco depois a Filo voltou e elas foram para suas casas. No caminho as irmãs de novo discutiram:
- Você pensa que pode fazer o que quer?! Só tem dezesseis anos e acha que pode ficar saindo com rapazes? Quando a gente chegar lá em casa vou contar pra mamãe.
- Você é que sabe. Se contar pra ela que eu to namorando eu falo que vi você beijando a Maria.
A irmã, surpresa e muito vermelha, falou quase gritando:
- Você ta louca menina! Ela é a minha melhor amiga.
- Vi sim. Foi naquele dia em que a mamãe foi pra capital.
- A gente tava brincando... A amiga da irmã tentou falar, também vermelha e gaguejando.
- Só por que são mais velhas vocês pensam que eu sou boba? Faz tempo que eu sei que vocês são lésbicas e estão namorando. Não disse nada por que não tenho nada com isso e não gosto de me meter na vida de ninguém, mas se você contar pra mãe do meu namoro eu falo pra ela tudo o que eu sei. Você é que sabe.
E a Filo largou as duas ali, de bocas aberta e paralisadas, indo a caminho de sua casa...
(clique na gravura que ilustra o texto para ampliar)
CARLOS CUNHA
O poeta sem limites
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