A MENINA DO ÔNIBUS II - Capítulo II(h)
Olá queridos leitores,
Vocês que acompanharam a história de Ana Carla em “A MENINA DO ÔNIBUS”, poderá a partir de agora conferi também alguns capítulos extras que farão parte do livro a ser publicado futuramente, assim que o livro estiver pronto.
Seguindo a ordem dos capítulos que foram publicados aqui na Usina de Letras, o capitulo a seguir é um capítulo entre II(f) e III da segunda parte. Para ficar mais fácil a localização, resolvi chamá-lo de capítulo II(h) para não confundir os leitores. Para ler o capítulo II(g), clique [aqui]
Abraços,
Edmar Guedes Corrêa
Se quiser saber como tudo começou, então clique em: A MENINA DO ÔNIBUS
II(h)
I
Num ponto eu tenho que concordar com Ana Carla: as coisas não estão fáceis para nós ultimamente. É como se uma força invisível, um poder sobre-humano agisse em nossos destinos, a fim de impedir nossos momentos do mais puro arrebatamento. Digo isso porque, desde o seu retorno de viagem, as coisas se tornaram mais complicadas e difíceis entre a gente. Parece que por algum motivo perdemos a sintonia.; pois quando Ana Carla está livre eu estou trabalhando, e quando eu estou livre é ela quem não pode se encontrar comigo. Talvez seja só uma coincidência, um mero acaso do destino, mas a verdade é que esses pequenos detalhes estão causando um grande transtorno, estão alterando o meu estado de espírito e me levando a fazer considerações que até então não havia feito.
Depois que Ana Carla disse que não poderia se encontrar comigo na sexta-feira, embora eu tivesse a tarde livre, fui tomado por uma série de dúvidas. Dúvidas martelando em minha cabeça tal qual o ti-tac de um relógio.
Estava deitado na cama lendo as últimas páginas da autobiografia de Nietzsche, bem no início do capítulo Por que sou um destino, quando a leitura foi interrompida por pensamentos “Será que ela já não me ama como antes? E se ela estiver se interessando por outro cara? O que vou fazer? Outro garoto? Onde ela poderia ter conhecido ele? Na viagem? Não. Não foi. Eu teria notado antes. Não. Não posso ficar sem ela. Se ficar sem ela, sem aquela boquinha deliciosa, sem aqueles peitinhos durinhos, aquela bocetinha apert. Meu deus! O que está acontecendo comigo? Meu coração está batendo mais rápido. Estou quase tremendo. O que está acontecendo? Que coisa é essa que nunca senti antes? Será que tudo isso é por causa dela? Essa menina está me enlouquecendo, isso sim. Aonde a gente vai parar? E se ela me deixar? Deixar!? O que vou fazer? Vai ser um inferno. Vou ficar louco de tanto pensar nela. Não, não. Sem ela não. Preciso fazer alguma coisa. Se algum filho da puta estiver dando em cima dela, acabo com ele. Ela é minha. Só minha. Ninguém mais vai encostar a boca naquela boca, ninguém vai acariciar seus peitos. Nem tocar. Mãos horríveis neles! Não! São meus! Só meus. Muito menos naquela bocetinha. Ninguém vai enfiar nada nela. Pau sujo, fedido. Cheiro de leite azedo. Não. Nunca. Hum. Cheiro de comida gostosa. Minha mãe. Janta. Hum. Me deu fome. Só eu sei fazer com carinho. Caramba! Só de pensar na Ana Carla, já estou ficando excitado. Não. Ninguém vai saber acariciar ela como eu. Só eu sei tratar ela como se fosse a coisa mais frágil do mundo. Não. Só eu sei pôr com delicadeza. Ana Carla não vai fazer isso comigo. Ela disse que sou melhor do que muitos meninos da sua idade. Sim. Ela disse isso outro dia. Não. Ela não vai se contentar com um pauzinho. Ela já se acostumou com o meu. E como ele está duro! Acho que vou ter que bater uma punheta. Só assim ele vai ficar quie. Não. Pode ficar quieto aí meu chapa! Agora não! Que isso? Já estou pensando besteira. Onde já se viu? Ficar duvidando dela? Ficar com ciúmes. Ciúmes? Que coisa mais infantil. Isso é falta de segurança, fraqueza... Esse não sou eu! É melhor continuar a leitura. Onde é que parei?”. Percorri os olhos pela página. “Ah! Aqui”.
Por quase uma hora mantive os olhos pregados na leitura. No entanto, de vez em quando, interrompia-a assaltado por mais dúvidas. Mas no momento seguinte, via o absurdo das mesmas. Então eu achava graça de mim mesmo. “Como eu posso me comportar dessa forma? Cadê aquele homem racional? Que punha a razão, a lógica acima de tudo? Nossa! Como Ana Carla me mudou? Pareço outra pessoa. Me sinto como um idiota, como aquelas garotas com as quais eu saia de vez em quando. É. Algumas delas se comportavam dessa forma. A Maria Rita. Tô parecendo ela. E como será que ela está agora? Será que já me tirou da cabeça? É. Estava gostando de mim de verdade. E a Roberta? E se ela me visse assim? Ia rir da minha cara. Ah, ia mesmo! Ainda bem que não estão mais por aqui. Foi uma loucura tudo aquilo. Ainda bem que deu tudo certo. Ana Carla nunca vai descobrir. E quase que a Maria Rita estraga tudo. Espero que ela nunca mais apareça. Não quero saber dela e nem de ninguém. Só quero a minha florzin...”, estava pensando quando minha mãe bateu à porta perguntando:
-- Você não está com fome, filho? Está a tanto tempo trancado aí nesse quarto. Não quer jantar? Aproveita que a janta está quentinha.
-- Já vou, mãe – respondi fechando o livro.
Fui jantar.
Minha mãe mais uma vez não perdeu a oportunidade de interrogar-me acerca de Ana Carla. Insistiu em saber quando é que ia apresentá-la. Tentei desconversar, dizendo que ainda estava muito cedo. Todavia, ela insistiu.
-- Eu vou trazer, mãe – falei contrafeito, somente para pôr um ponto final naquela conversa, para não me aborrecer ainda mais. – Vou combinar com Ana Carla um dia para ela vir aqui. – expliquei levantando-me. “Pronto! Arrumei mais um problema para a cabeça. É. Hoje não é mesmo o meu dia”, pensei ao deixar o prato sobre a pia e dirigir-me a saída. Aliás, eu teria comido um pouco mais se não fosse aquela aporrinhação.; mas não queria ficar ali a ouvido tocar naquele assunto delicado, embora ela não tivesse pedindo nada demais.
Mas a verdade é que eu me irritava além da conta quando ela pedia para apresentar-lhes minha namorada. E meu pai deve ter notado esse detalhe, principalmente naquele dia, pois repreendeu minha mãe assim que deixei a cozinha.
-- Larga o garoto em paz – disse ele zangado. Aliás, ele se me referia como um garoto, embora já tivesse mais de vinte e seis anos. – Quando ele achar que deva trazer, ele vai trazer. Não fique cobrando. Afinal a vida é dele.
-- Eu sei disso, ora! – exclamou ela também irritada. – Mas eu só quero conhecer a moça.
Não sei mais o que discutiram, pois entrei no meu quarto e tranquei a porta.
II
Pensei que ia chover durante o dia quando saí para o trabalho. O tempo estava feio, nublado e, embora fosse verão, um vento frio me fez recordar o inverno, a estação em que os amantes mais gostam. “Ah. Quando ele chegar vai ser uma delícia! Nós dois coladinhos naquele friozinho. Vai ser demais!”, pensei ao descer do ônibus naquela manhã de sábado. Entretanto, ao retornar para a casa por volta do meio-dia, o sol já mostrava a cara por entre as nuvens, e o vento frio dera lugar a um mormaço, prenúncio de mais um dia quente, embora não tanto quanto os dias anteriores.
Ana Carla me telefonou quando eu descia do ônibus. Contou-me que estava com visitas em casa, mas ia se encontrar comigo assim mesmo. Perguntei a que horas nos encontraríamos e ela respondeu:
-- A gente se encontra as quatro horas no Anexo Secreto. Tá bom?
-- Claro que sim, minha florzinha
Eu queria lhe perguntar como estava se sentindo, mas ela disse que não poderia falar muito ao telefone.; caso contrário, sua mãe poderia desconfiar de alguma coisa. “Não. Isso não!”, pensei, “É melhor eu deixar para perguntar quando a gente se encontrar”. Assim, desliguei o celular e corri para casa. Estava faminto.
Chegue antes dela ao Anexo Secreto e tive de esperá-la uns vinte minutos. Mas a culpa não foi toda dela, embora tenha chegado um pouquinho atrasada.; foi minha: cheguei quinze minutos adiantado. Foi um desejo incontrolável de encontrá-la que me fez chegar antes. Aliás, uma hora antes, eu já estava inquieto, afetado até a alma desejando que hora passasse o mais depressa possível para estar com Ana Carla.
-- Desculpe, meu amor. Me atrasei um pouquinho – disse ela ao saber a quanto tempo a aguardava.
-- Não tem problema. A culpa é minha. Cheguei cedo demais – retorqui.
-- E o que nós vamos fazer hoje? – perguntou Ana Carla, deixando escapar nas suas palavras, nos seus gestos, suas intenções.
-- Não sei. Por enquanto vamos dar uma volta pelo calçadão. Enquanto isso a gente pensa em algo.
Foi o que fizemos.
Eu sabia que não havia possibilidades de encontrarmos um local onde pudéssemos ficar as sós. Em pleno um sábado de férias? A cidade poderia não estar tão cheia como no revelion, mas ainda havia muitos turistas. Aliás, uma considerável maioria chegara na sexta-feira para passar o final de semana e aproveitar a praia.
Eu não queria desapontar Ana Carla logo de cara. Desde a última vez em que a encontrei, fiquei com o pé atrás. Contrariá-la seria motivo de grandes aborrecimentos. Assim, se não queria estragar o resto do dia, era melhor deixar que ela se conscientizasse por si só.
Caminhamos pelo calçadão. Aproveitei para contar-lhe sobre a ida a São Paulo. E por causa dessa viagem não poderia me encontrar com ela no dia seguinte – um domingo --. Era a primeira vez que não nos encontraríamos nesse dia tão especial, tão importante para nossas vidas, pois os melhores momentos que passamos juntos foram justamente aos domingos.
Eu sabia que ela não ia gostar, mas não podia fazer nada. Minha tia estava muito doente em São Paulo. Meus pais já a tinha visitado nos mês passado, mas como seu estado piorara, a família foi chamada às pressas para se despedir. Aliás, segundo estava informado, tia Luzia estava em estado terminal, sem a menor chance de recuperação. O câncer no útero evoluíra rapidamente e em pouco tempo atingira os órgãos vitais. Não sei se era exagero da minha mãe, uma vez que ela tem o costume de exagerar nas coisas, mas foi ela mesma quem contou que a tia estava nas últimas.
-- Não tem problema. Vou aproveitar para ir até a casa da Marcela. A gente quase não tem mais tempo de se ver – declarou Ana Carla de forma compreensiva, o que me surpreendeu.; pois eu esperava protesto de sua parte.
-- Vou ficar com saudades. Vou pensar em você o tempo todo – falei, parando diante dela, levando a mão em seu rosto e acariciando-o. Ana Carla me olhou nos olhos e o desejo em nossos lábios de se tocarem foi mais forte.
Foi um beijo rápido, porém tão ardente como das outras vezes. Poderíamos ter nos beijados outras vezes, contudo eu me senti constrangido de fazê-lo na frente de tantas pessoas assim.; pois o calçadão da praia estava repleto de turistas. Embora fizesse dois meses de namoro e até de certa forma estarmos acostumado a nos beijar em público, de quando em quando, principalmente no meio de muita gente, era surpreendido por essa sensação de vergonha, esse acanhamento, como se eu estivesse com medo, como se as pessoas reparassem na gente com olhares condenatórios.
-- Vamos para outro lugar – sugeri meia hora depois, incomodado com aquele tumulto de turistas a nossa volta. – Aqui tem muita gente.
-- Oba! – exclamou ela, deixando visível grande contentamento, como se isso fosse o prenúncio de momentos inesquecíveis. – Pra onde vamos? – perguntou em seguida.
-- Deixe-me ver... – falei, parando para pensar. “Para onde? Se aqui está assim, qualquer outro lugar não vai estar tão diferente. Enseada? Astúrias? Não. Vai ter muita gente lá também. É perda de tempo. O Guaiúba!? Lá no finalzinho? É, quem sabe! Vamos arriscar. Lá é meio deserto, pouco conhecido. Talvez tenha menos gente. Ou ninguém. É isso!”. – Que tal o Guaiúba?
Fomos.
-- Por que você me trouxe até aqui? – quis ela saber ao chegarmos.
-- Por quê? Ah, sei lá! Eu não sabia para onde te levar – respondi. “E te levaria para qualquer lugar para não estragar esse dia. Você acha que ia te deixar nervosa? Ou melhor: contrariada? Não, nada disso!”.
-- Pena que aqui também tem muita gente – disse ela desapontada.
-- Nessa época, qualquer lugar tem gente – afirmei --, mas depois da temporada a cidade vai estar vazia e aí vamos ter um montão de lugares para ficarmos sozinhos.
Estávamos caminhando pelo calçadão a procura de um banco desocupado.
-- Será que não existe um lugarzinho onde não tenha ninguém? – insistiu ela.
-- Acho difícil. – Paramos por alguns instantes. “Também se tiver, não sei onde fica. Mas bem que gostaria de saber. Ela está tão bonita, tão gostosa assim, com essa blusinha sem sutiã. Assim os peitos dela parecem maiores. Me excitam ainda mais. E essas coxas então com essa minissaia? Hum. Excitado. Era só ela sentar no meu colo, eu abria o zíper da bermuda, afastava a calcinha pro lado...”.
-- Ali um banco vago – falou Ana Carla, soltando-me e correndo em direção a ele.
A passos curtos, segui-a com os olhos. “Parece uma criança correndo. Que perninhas lindas e viçosas! Isso me excita mais ainda”, pensei. Ela chegou até o banco e sentou virando em minha direção abrindo um largo sorriso.
Sentamos um de frente para o outro. Ana Carla colocou suas pernas sobre as minhas, mas não chegou a sentar no meu colo. Fiquei com medo de que isso despertasse a atenção dos transeuntes. Aliás, um ou outro, embora poucos, ao passar, atirava-nos olhares duvidosos, inquietantes, que acabavam por me deixar incomodado. Mas eu não deixava que Ana Carla percebesse isso, para não estragar seu estado de espírito: uma alegria e uma espontaneidade poucas vezes vista naquela menina. Dir-se-ia estar mais apaixonada do que nunca.
-- É uma pena a gente não poder ir para sua casa – asseverou ela pouco depois, assim que nossos olhos se cruzaram.
-- É mesmo – concordei. – Se você fosse de maior, eu poderia te levar para um motel, por exemplo. Aí ia ser maravilhoso. Você não acha? – Discretamente levei a mão em sua coxa e a fiz escorregar delicadamente para frente e para trás. “Que coisa mais deliciosa! Hum, já estou ficando todo molhado. Que vontade de deitar ela aqui nesse banco, deitar por cima dela e possuí-la na frente de todo mundo. Aí. Ele se moveu. Tá puxando os pentelhos. Que merda! Levo a mão e ajeito ele ou não? É melhor. Tá doendo. Aiaiai. Será que tem alguém olhando? Porra! Isso tinha que enganchar logo agora?. Aiaiai. Passa logo casalzinho. Vai que está doendo. Isso. Vou tentar puxar por fora mesmo”. Levei a mão por sobre a bermuda e ajeitei o falo. “Ah, que alívio!”.
-- O que foi? – perguntou Ana Carla.
-- Só estou ajeitando ele. Tava enroscado nos cabelos – respondi, pondo novamente a mão sobre suas coxa.
-- Dá pra ver. Ele está todo assanhadinho – disse ela achando graça.
-- Culpa sua.
-- Minha? Por quê? Eu não fiz nada.
“Mas é dissimulada! Fica provocando a gente com essas roupas curtinhas e jutas e diz que não fez nada? Isso é bem coisa de mulher. São todas umas putas. Faz parte do instinto delas. Vê se ela não se vestiu assim para me atiçar? Claro que sim! É..”.
-- Vocês nunca fazem nada. Pensa que não sei! Aposto que se pudesse você estaria me implorando para te levar pro motel.
-- E nem ia dar tempo. Você me levaria antes – retorquiu ela com provocação. -- E só não faz isso porque sou de menor – acrescentou.
-- É verdade. Na realidade não temos muita opção – concordei. “Mas se tivesse, estaria perdido no meio de tuas pernas agora, minha putinha!”.
-- Mas a gente precisa encontrar um lugar. Não vou agüentar mais uma semana sem sentir dentro de mim – confessou Ana Carla, levando a mão em meu falo --, essa coisa dura e deliciosa.
-- Comporte-se – ordenei, pois se aproximava um casal de idosos. – Antes que alguém pegue a gente – retirei a mão de sua coxa – nessa safadeza.
Ana Carla retirou a mão e casal passou. O senhor, aparentando uns setenta anos, seguiu indiferente a nossa presença, como se não nos tivesse notado.; contudo, a mulher, um pouco mais nova, olhou-nos com insistência, como se tivesse percebido algo incondizente. Mesmo depois de ter passado, ela ainda virou o rosto para trás e me encarou. Em seguida, comentou alguma coisa com o velho, que não se deu ao trabalho de nos fitar.
-- Eu queria tanto sentir ele em mim – disse ela, quase suplicando.
-- Mas vai ficar na vontade. Pois não vamos encontrar nenhum lugar para fazermos essas coisas. Na minha casa não dá. Só se for na sua. Mas eu não vou me arriscar a ir lá. Só se eu fosse maluco. Só que não sou. Assim, não tem jeito. Mas juro que assim que meus pais forem para algum lugar e eu ver que dá tempo a gente vai até lá em casa.
-- Oba!
-- É o único jeito. Até porque é na casa da gente que normalmente os namorados transam. Principalmente quando não podem ir a um motel. Ou fazem isso quando os pais não estão em casa, ou quando estão dormindo, ou até mesmo quando estão por lá mesmo. Na realidade, isso depende muito da liberdade de cada família – expliquei. “No nosso caso, vai ser sempre lá em casa, porque nunca vou poder ir a sua. Já pensou se seu pai a gente transando no seu quarto? Sou um homem morto”, pensei.
-- Mas você pode me levar para sua casa quando quiser. Vou adorar fazer amor contigo na sua cama. – Ana Carla moveu-se para frente como se sentasse no meu colo. Nisso, passou um casalzinho de namorados – dois adolescentes aparentando uns quinze anos – e olharam para nós. Em seguida, comentaram alguma coisa dando risada. Tive certeza que riam da gente.
-- Tá vendo? Você foi subir no meu colo, eles já ficaram pensando besteiras da gente – falei.
-- Aposto como eles fazem a mesma coisa – declarou, movendo os ombros para cima e para baixo em sinal de pouco caso.
-- É capaz mesmo. – concordei. “Ou até pior. O problema é que sou muito velho para você, florzinha. Por isso ficam nos olhando tanto”. Pensei em lhe dizer isso, mas não cheguei a falar. – Pode ter certeza que quando eles não estiverem em casa, a gente vai pra lá. Eu também adoro ficar contigo na minha cama. Depois que você vai embora, fica o seu cheio nela. Aí eu deito e fico lembrando do que a gente fez. Nossa! É muito gostoso.
-- Você gosta de ficar pensando em mim?
-- Claro que sim.
Por alguns momentos, o tráfego de pessoas cessou. Não se ouvia vozes, somente o som das ondas arrebentando nas pedras. E foi justamente esse som que me fez sugerir:
-- Vamos até as pedras. Talvez não tenha ninguém lá. – “Ainda mais que está escuro”, pensei. “As pessoas podem não ir lá com medo de assalto. Hoje em dia vivemos com medo de tudo e de todos”.
-- Então vamos – disse Ana Carla, levantando-se.
III
“Merda! Hoje não é o meu dia. Me enganei. Pensei que não ia ter ninguém por aqui, mas tá cheio de gente. Também devia ter adivinhado isso. Do jeito que tem mulher nessa cidade, os caras ficam loucos pra catar essas turistas, essas filhinhas de papai. Não foi o que eu fiz quando ela estava viajando? Eles devem estar fazendo o mesmo: traçando essas garotas queimadinhas, cheio de fogo”, pensei ao ver quatro casais de jovens abraçados, beijando-se e fazendo carícias que não seriam capazes de fazer diante das pessoas.
-- Poxa! Até aqui está lotado – disse Ana Carla, com ar de decepção.
-- Pra você ver. Nem num lugar como esse: escuro e meio perigoso está deserto – afirmei.
Paramos ao lado de um casal em que a jovem estava encostada numa grande pedra e o rapaz apoiado nela com os braços enlaçando seus quadris. Ambos pareciam ter a mesma idade – uns dezenove anos --.; no entanto, a jovem era mais baixa e de uma tez extremamente branca. O rapaz, um pouco mais alto, era de cor negra, de um preto que brilhava. Ao vê-los, não pude deixar de refletir: “Como essas coisas estão se tornando comum hoje em dia. O que o pai dessa jovem pensaria ao ver uma cena como essa?” O rapaz estava beijando a moça. “O cara cria a filha com tanto amor e carinho pra um negão vir e meter a pica preta dele na xoxotinha branca dela. Ele deve ficar desolado. Por isso muitos não aceitam uma coisa dessas. Até eu ia ficar p. da vida com ela. Estou sendo é preconceituoso. Eu também já fodi umas negrinhas. Elas são mais fogosas, mais quentes. Como era mesmo o nome daquela morena dos peitões? Fran. Francisca. Não. Francineide. É. É esse o nome dela. Ela até brilhava de tão preta. Mas fodia que uma beleza. E era uma garota decente, uma ótima pessoa. Pensando bem, é melhor um negro decente que um branquelo safado. É. Eu preferia ver minha filha, se tivesse uma, com um cara decente. Independentemente da cor”.
-- Será que eles ainda vão demorar? – perguntou, sussurrando-me no ouvido. Ana Carla encostara-se numa pedra menor. Eu acheguei abraçando-a pelos quadris.
-- Não sei. Vamos ficar aqui um pouco. Talvez assim eles acabam indo embora – falei. Encostei meus quadris nos dela e nos beijamos demoradamente, sem se preocupar com aqueles casais. “Vou ficar olhando para eles para ver se se sentem incomodados com a nossa presença. Quem sabe assim eles se mandam”, pensei após beijá-la.
Foi o que fiz.
Reparei que a garota usava uma saia curtinha, parecida com a que a Ana Carla usava no momento, e nos pés um tênis cor de rosa. O rapaz vestia uma camiseta e uma dessas bermudas largas de grife, nos pés, um desses tênis caros. “Será que isso vai dar certo?”, perguntei-me. “Eles parecem não se importar com a nossa presença”.
-- Sabia que eu te amo, te amo, te amo? – disse Ana Carla puxando-me e colando seus pequeninos lábios nos meus.
-- Eu também – respondi depois do beijo.
-- Eu também o quê? – insistiu ela.
-- Te amo – respondi. “Porque que as mulheres precisam ouvir a frase completa? Por que elas não aceitam o ‘eu também’ como resposta? Se fazem de desentendidas, mas só para ouvir a gente dizer: eu te amo. Só pra isso. Vai entender esse bicho!”.
-- Eu também te amo muito, muito, muito – tornou ela, beijando-me mais uma vez.
Aproveitei o momento para acariciá-la. Enquanto nos beijávamos, escorreguei matreiramente a mão por entre suas pernas e fui subindo. Mas quando estava para tocar em sua calcinha, Ana Carla segurou meu braço e parou de me beijar.
-- Calma! Não vá com tanta sede ao pote.
-- Não estou indo. É só para espantar esses dois aí – confessei em seu ouvido. “E pra ver se tua xoxotinha tá molhadinha que nem minha pica. Se esses dois sair daí vou te enfiar ela todinha até tu gemer de prazer, minha putinha”.
Ana Carla deixou que eu lhe tocasse.; inclusive escorregar o dedo por dentro da calcinha. Suas entranhas estavam encharcadas e escorregadias. Meu dedo deslizava com suavidade para frente e para trás.
“Vou fazer ela gozar. Quem sabe depois ela também me faz? Vou enfiar a outra mão por dentro da blusinha dela. Quero agarrar essas tetinhas durinhas dela. Os biquinhos devem estar uma pedra. Será que se empurrar a alça pra baixo dá pra chupar ele? Mas e se aqueles dois me verem fazendo isso? Não, não. É melhor ir devagar. Tomar cuidado”, pensei ao mover a mão para frente e para trás no meio das pernas dela.
Meus planos não deram certo. O casalzinho branco e preto não ligou a mínima para a nossa presença. Toda vez que eu olhava, eles estavam se beijando ou sussurrando alguma coisa um no ouvido do outro. Era como se eu e Ana Carla não estivéssemos ali, fossemos invisíveis. Aliás, nem mesmo o outro casal, cerca de um metro depois, também não se importava com a nossa presença e nem com a daqueles dois.
Ana Carla estava extasiada. Seus olhos permaneciam fechados enquanto sua boca semi-aberta aspirava e inspirava num ritmo cada vez mais veloz. Seus braços apoiados em meus ombros a sustentavam, embora o meu braço direito a segurasse pelos quadris. Eu sentia que o gozo, cada vez mais próximo, era questão de um ou dois minutos.
Eu me mantinha em vigília, com os olhos e os ouvidos atentos a tudo que se passava ao redor. O casalzinho ao lado parecia também absorto. Eu não tinha certeza, mas tive a impressão de que o rapaz se movia para trás e para frente enquanto a jovem soltava grunhidos. Por isso pensei: “O safado está metendo o tronco negro nela. E ela está adorando, a putinha. Essas meninas de hoje em dia são tudo umas putinhas mesmo! Dão pra qualquer um em qualquer lugar”. Nisso, escutei vozes vindo do outro lado. Virei o rosto. “Só me faltava essa agora! Um empatafoda. E tão vindo pra cá. É melhor parar um pouquinho”.
-- O que foi? Por que parou? – perguntou ela, saindo do estado de compenetração.
-- Aqueles dois ali – sussurrei.
Era um casal de meia idade. A mulher parecia ter a minha idade, mas o homem era mais velho. Dir-se-ia ter uns trinta e cinco anos. Estavam de mãos dadas e conversavam, mas não pareciam nem namorados e nem que estivesse indo ali para fazer o que estávamos fazendo. Pareciam turistas matando a curiosidade.
Eles se aproximaram. Estavam a cerca de dois metros da gente. Por isso tirei a mão do meio das pernas da Ana Carla e espichei a sua saia. Tentamos agir com naturalidade, como se estivéssemos só conversando.
Pensei que só iam dar uma olhada e depois partirem. Mas não. Ficaram ali parados, jogando conversa fora. A mulher falava da beleza das praias do Guarujá, da transparência da água e do calor intenso. O homem ora concordava com ela, ora criticava a falta de segurança, a falta de policiamento no calçadão. A mulher dizia que mesmo assim valia a pena passar as férias na cidade.
Aquela conversa parecia não terminar nunca. E não havia o menor sinal de que pretendessem arredar o pé. Isso foi me irritando e aborrecendo. Por fim a excitação desapareceu e eu já não tinha mais vontade de permanecer ali. Então sugeri:
-- Vamos embora? Não vai dar para a gente fazer mais nada mesmo.
-- Vamos – concordou ela. Ana Carla além de frustrada parecia também aborrecida com a presença daqueles dois.
Saímos dali e fomos direto para o ponto de ônibus. Mesmo que quiséssemos ir para outro lugar, estava tarde e não havia mais tempo. “O jeito é bater uma punheta em casa. Ah, mas no meio da semana vou dar um jeito da gente dar uma. Não vou agüentar ficar sem foder aquela bocetinha todo esse tempo”, pensei no ônibus de volta para casa, depois de ter deixado Ana Carla. “Hum. O cheirinho dela no meu dedo. Como é cheirosinha aquela bocetinha! Será que ela vai bater uma siririca quando se deitar? Aposto como vai. Vai deitar na sua cama toda peladinha, abrir as pernas, enfiar o dedinho a sua xoxotinha e vai ficar mexendo com ele, fazendo de conta que é minha pica. Será que ela se fantasia como eu? Imagina meu pau entrando eu saindo? É isso que vou imaginar. Hum. Que cheirinho mais delicioso! Ah... Vou imaginar ela deitadinha na minha cama, aquela bocetinha arreganhada, toda aberta, toda molhadinha. Nossa! Estou ficando molhado de novo. Minha língua acariciando aqueles lábios rosadinhos. E aquele gosto salgadinho? Vou chupar até ela gemer de prazer. Quer dizer: vou fazer de conta que estou chupando. Vou lamber o dedo. Ele deve estar salgadinho também. E tá mesmo. Depois vou imaginar ela em cima de mim. Isso! Eu deitado na minha cama e jogando a perna pro outro lado, segurando nele e depois soltando seu corpo. Ele deslizando pra dentro dela. Vou chegar em casa de pau duro. Vou ter que ir logo pro banheiro. Ela pulando para cima e para baixo. Toda suada. Aqueles peitinhos duros saltando enquanto ela se mexe, se contorce toda. Gemidos. Ele adora gemer quando vai gozar. Não. Mas ela não vai gozar ainda. Primeiro vou agarrar aqueles peitinhos, eles vão escorregar entre meus dedos. Aí eu torno a apertar eles de novo. Aí ela se curva para frente. To sentindo ele pingar. Aí eu levanto a cabeça e meto a boca neles. Enquanto chupo um, aperto o outro com am mão. E ela se mexendo em cima de mim. Grunhindo. E ela grunhindo de prazer. A cabeça. Ela também fica balançando a cabeça como se estivesse em transe, numa dança dionisíaca. Dionisíaca? De onde eu tirei isso? Ah! Sei lá! Devo ter lido em algum lugar. Dionísio. Quem é esse porra de Dionísio? Tô quase chegando. É daqui a dois pontos. Lembrei: é um deus grego! Aonde eu li sobre deuses gregos. Dionísio, Apo. Sabia! Apolo. Nietzsche. Foi no livro dele. Vou levar o livro para São Paulo amanhã. Vou aproveitar a viagem para terminar de ler ele. Falta pouquinho. Onde eu estava mesmo? Ana Carla em cima de mim. Vou levantar. É no próximo. Ainda bem que está vazio. E quando ela goza? Que loucura. Sua alma parece que vai desimcorporar, baixar o santo. Terreiro. É melhor dar o sinal senão ele passa direto. O outro ponto é longe. E não estou a fim de ficar andando. Quero chegar logo e bater uma punheta. É ruim ficar assim. A gente não consegue se concentrar em nada. Só pensa em foda, foda e mais foda. Maria Rita. Bem que podia bater uma punheta pensando nela, gozando naqueles peitos branquinhos dela. Parou. Abriu a porta. Vou descer logo. Não, isso não está certo. Não vou fazer isso com Ana Carla. Tenho que bater uma pensando nela. Num quero mais saber da Maria Rita”. Desci do ônibus e fui correndo para casa.
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Agora se quiser ler a versão da Ana Carla da história, então clique em: O DIÁRIO DE ANA CARLA
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DEIXE A VERGONHA DE LADO
O DIÁRIO DE ANA CARLA - XIX
COMO SE FOSSE UMA PUTA
TEUS GRUNHIDOS
PALAVRAS NÃO SÃO NECESSÁRIAS
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