Desde que falecera a mãe, Rosalinda procurou entrar em contato com ela, oferecendo sua pena inúmeras vezes para que se comunicasse. Vãs tentativas, sempre respeitadas, contudo, pelas informações que lhe eram passadas por um espírito que assinava Harmonia.
Exatamente um ano após o passamento de Rosaura, sob o pretexto de homenageá-la, Rosalinda insistiu, fazendo questão de escrever uma série de perguntas, com a idéia de preparar o momento mediúnico tão esperado.
Deixou o questionário pronto na tela do computador, realizou as orações com que se desligava das preocupações da vida material e pôs-se à disposição dos guias para a recepção das respostas. De fato, uma a uma, foram todas respondidas, conforme o roteiro estabelecido.
Pergunta: Seria possível trazer o espírito de minha mãe para conversar comigo?
Resposta: Seria possível trazer algumas das respostas que ela daria.
P.: Em caso afirmativo, seria demais pedir-lhe que comprove a identidade?
R.: Por mais específicas que sejam as informações, sempre existe a possibilidade de outros espíritos terem conhecimento dos fatos que apenas você e ela vivenciaram. Não se esqueça de que tudo o que acontece no mundo material pode ser testemunhado a partir da realidade espiritual. Sendo assim, não haveria como você comprovar a identidade do mensageiro, principalmente quando não se trata de um ser muito especial, mas de uma dona de casa de nível de aspiração bastante comum.
P.: Em caso negativo, poderiam explicar-me o porquê desse fato?
R.: Quem está a responder-lhe é Harmonia. Não tenho nada a acrescentar à informação de que Rosaura continua sob cuidados especializados de uma equipe médica. O que você deseja saber, na realidade, é a razão de não serem conectadas mente a mente, desconfiada de que suas ondas não sejam capazes de harmonizarem-se, sendo incompatíveis, portanto. Isto está ocorrendo, mas não é definitivo. Você precisa aceitar o fato de que sua mãe vive ainda mentalmente a fantasia de que a morte dos que recebem a extrema-unção os livra do inferno, amenizando os sofrimentos purgatoriais. Ela se julga hospitalizada no orbe.
P.: Mamãe, você levou de mim a recordação de algum sofrimento que eu lhe tenha causado?
R.: Os sentimentos dela se embaralham ainda, contudo, eu posso afiançar-lhe que as más impressões de sua juventude foram sublimadas em vida, quando percebeu que a filha soube superar os problemas sentimentais, trabalhando com afinco para constituir as empresas e para projetar o nome no seio da comunidade espírita. Pergunte a Beatriz se não é verdade que ela andou lendo algumas de suas publicações.
P.: Qual foi a sensação quando você descobriu que Rodolfo a traíra?
R.: Esta questão nem ela mesma poderia responder-lhe, porque envolve outras personalidades e os espíritos que buscam agir sob os auspícios da moralidade inspirada nas lições de Jesus evitam julgar, para não serem julgados.
P.: Qual é o seu relacionamento atual com meu pai?
R.: Seu pai acompanhou o desenlace da vida da esposa, autorizado pelos anjos guardiães de ambos. Entretanto, teve as emoções constrangidas para não prejudicar o ambiente de paz que se formou através da influência dos guias a quem toda a parentela rogou. Rosaura, além de antigas inimizades causadas por sentimentos mútuos de inveja e ciúme, não sofreu assédios que não pudessem ser anulados pela força dos benfeitores.
P.: Você é capaz de perceber se o mal que a levou de nós estava entranhado no perispírito ou fora simplesmente orgânico, corpóreo?
R.: Ela tem delírios em que se vê libertando-se de presilhas antigas. Sente-se, porém, tolhida por alguns males que não conseguiu eliminar na carne. Para isto, precisaria direcionar a inteligência para a compreensão de como se dá a lei de causa e efeito. Tinha em vida a intuição de que deveria purificar-se, tendo orado e trabalhado para isso. Como não adquiriu, todavia, o conhecimento consciente dos ditames das diversas leis de Deus, conforme descritas em O Livro dos Espíritos, vai ficar imersa em si mesma até compreender que apenas requerer o perdão das faltas e exercer o altruísmo com o interesse da satisfação pessoal, sem completa doação aos necessitados, bastam para merecer a ajuda dos socorristas, mas não constituem salvo-conduto para atuar livremente em busca da bem-aventurança.
P.: Quando nós oramos por você, a bênção de Deus se faz sentir?
R.: Sempre existe um alívio provocado pela sinceridade das preces. Esta questão visa a descobrir se Rosaura está bem. Sendo assim, está prejudicada pelas respostas anteriores.
P.: Existe subjacente em seu espírito algum sentimento de culpa por falhas na educação dos filhos?
R.: Quem está argüindo a consciência alheia mais não faz do que submeter a própria a um exame correspondente ao interesse no outro. Vamos deixá-la a ver navios. Você já se perguntou como é que vem educando seus filhos?
P.: Há alguma revelação que deseje fazer?
R.: Com certeza, Rosaura, assim que despertar, irá perceber quais os problemas que ficaram pendentes em relação a todos os seres de seu relacionamento. Nesse momento, começará a envidar esforços para desfazer todos os pontos negros, a partir do aperfeiçoamento de sua própria condição espiritual. Como todos os seres, ela também necessita dar tempo ao tempo. O que você deveria ter perguntado é em que esfera as revelações serão feitas. Aí, eu lhe responderia que as revelações são íntimas, porque não adianta que sejam feitas, se a pessoa que as recebe não evoluiu o suficiente para entender.
P.: Para finalizar, você seria capaz de dizer por que fiz questão de redigir previamente as perguntas?
R.: Você, minha cara, quis evitar uma discussão que a levaria a desconcentrar-se no apanhado mediúnico. Desejou também obter um texto passível de ser trabalhado e oferecido a seus leitores. Entretanto, muitas intuições que esclareceriam outras dúvidas vão ter de ficar registradas apenas em sua mente, uma vez que a linguagem escrita é extremamente mais pobre que a captada diretamente pelo cérebro. Fique com Deus! Harmonia.
Quando Rosalinda estudou as respostas, não ficou satisfeita. Mesmo assim, levou-as à consideração dos colegas expositores, onde foram debatidas, havendo quem se admirasse da precisão das idéias e quem julgasse que todas as considerações deveriam ser aprofundadas.
Depois de tudo, concluiu que Rosaura havia progredido em sua encarnação, passando Rosalinda a preocupar-se mais com o lema espírita e cristão do vigiar e orar.