Para que ter infância se nem há bonecas
nem bricadeiras inocentes de ciranda
nem as fantasias que há nas outras meninas de doze anos.
O que há é o frio, o calor, a fumaça dos carros e dos cigarros - cigarros de fumo, de maconha, de craque e a poeira da cocaína.
Colo franzino de criança. Seios murchos ainda em crescimento apalpados e mordidos por moços, senhores, homens de meia idade a custa de alguns reais.
Coxas lisas e desnudas que fazem os olhos dos homens gulosos saltarem das órbitas.
Baton escarlate desmanchado a cada beijo sem sabor. A cada afago forçado.
Cabelos alisados que em segundos ficam em desalinho para acalmar a tara do homem de sessenta anos.
O soluço ameaça aflorar. Não pode, deve suportar.
Não quer colocar aquele pênis imundo em sua boca. Ora,ora. Devia estar chupando pirulito e não um pau fedido, encebado de um sujeito que ela nem sabe quem é.
Apalpa o pênis do homem. Hesita. Ele esfrega-o nos seios pequenos, nos mamilos pouco desenvolvidos.
Ela corre aos soluços para o banheiro.
O cara agarra-a pela cintura. Arranca sua calcinha que cobre toda a vulva como a uma criança recatada.
Põe-se de quatro e aguarda a primeira estocada da noite. Dói muito. A dor é muito mais forte na alma do que na vagina, no útero.
Abre as pernas várias vezes, sendo introduzida por mais de dez pênis naquela noite.
Quando o sol anuncia um outro dia ela tem alguns cruzeiros no bolso, o cérebro entupido de uísque, maconha e cocaína. Nenhum consolo.
O dono do bordel exige a sua parte, o pedágio.
A gorota desejaria retornar ao colo da mãe.