O sol enche-me os poros da pele ainda húmida, estendo os braços num abraço à praia em jeito de arrastar todos os grãos finos de areia, colocá-los sob o meu corpo ampliando-o num gesto pleno de comunhão. Se o mundo fosse uma praia deserta, eu deitava-me nele e povoava-me com os sonhos idílicos de verão. Um clima ameno, aconchegante, mãos suaves e delicadas a afagar-me o rosto, a sugar-me o gotejar tépido do meu corpo ainda com sabor a mar. A liberdade de movimentos espraiada neste contínuo areal abocanhada pelo sol quente que me inunda o corpo, está num momento de rendição que se veste da cor do desejo, e é colocada na minhas mãos.
Curvo-me perante ti, olhas-me como quem quer penetrar os sonhos do mundo sem saber como pegar-lhe, baixo-me e estendo-me na areia, corpo livre, peitos ao relento, parte do biquini já está estendido ao sol a secar dos múltiplos banhos do mar, que nos oferece agora uma sinfonia calma. A espuma que vem mergulhar na areia fina, toca-nos ao de leve as pontas dos dedos dos pés, desliza sobre as pernas, massajando-nos a pele num só gesto. O mar atraiçoa-se neste vai-e-vem constante que chora baixinho neste fim de tarde, as tuas mãos percorrem-me o corpo quente e o sol acena-nos ao longe, lembrando que está na hora de bater em retirada. Sinto na baixo ventre a humidade que se solta da profundidade da areia, volto-me de face para o sol para que se entranhe no meu corpo, até ao ponto onde tudo é, as tuas mãos avançam procurando a nudez plena, quente e inquietante, numa viagem onde tudo acontece.
O prazer de ter ali só para mim condensa-se num odor forte que desconheço, olho a ondulação forte para sentir através dela a sensação de um olhar penetrante que me incendeie os sentidos e me encha nos momentos abrasivos de uma humidade que me escorra pelo corpo, e me faça transbordar as margens secas, onde a corrente se abasteça e culmine num sopro quente do desejo. Os teus olhos viajam além de nós e fecham-se devagar, só o prazer dos corpos se identifica com o calor que nos afaga a alma, bailamos ao som da música que nos traz o vento e em comunhão com a crista da liberdade, somos as vozes criadas num momento de eternidade.
Ouço-te nos murmúrios do tempo, e as estrelas que se perdem num céu sem nuvens, caem na desgraça e adormecem nos jardins imaculados do templo.