Sigo sustentando o meu triste fardo
Que é suster o teu peso que me pesa
E, disso tudo, comovida, guardo
A dádiva mor que é ser tua presa.
Quando (bruto) do teu corpo teu dardo
Vem e transpassa a minha carne acesa
Sinto que em convulsivo prazer me ardo
E, dessa luta, não me livro ilesa.
Minha mão descai, meu olhar embaça
E quem sabe até minha fronte se erga
À medida que a luta me rechaça.
És tu, então, que findas, dando-me em taça
O veneno cruel de tua verga
Que me possui como que me abraça!
Notas:
1) Último verso eneassílabo, para mostrar a fugacidade do momento da posse.
2) Poema com o qual obtive o 1º lugar em concurso promovido na Escola Normal Carmela Dutra, em 1984. Foi escrito em 25/3/1984. Trata-se de um poema marcante para mim, por alguns motivos:
a) a Comissão Julgadora analisou meu caderno de poesias, para comprovar autoria e analisar outras composições minhas. Na época, tinha muita vergonha dos meus escritos! Mas acabei recebendo muitos elogios.
b) não tentei para uma segunda etapa (declamatória), quando me inscrevi no concurso. Ao ser classificada para essa etapa, tentei desistir, por vergonha de me expor. (A temática era considerada "forte" para a época. Ainda mais numa escola tradicional como a Carmela). Meu professor de Português me convenceu a permanecer, dizendo: "poema é como um filho. E uma mãe não deve renegar um filho". Prossegui. Declamei-o diante de um auditório lotado, tendo a música "Cavalgada" de Roberto Carlos (executada ao violão) como fundo musical. Obtive o 1o. lugar!
c) no ano seguinte, aprovada em concurso para professora do Colégio Piedade (colégio de aplicação da Unversidade Gama Filho, na época), submeti-me a uma entrevista. Para minha surpresa, minha entrevistadora era uma das juradas do concurso de poesias da Carmela. Ela sacou meu soneto da gaveta e eu gelei. Sorrindo, elogiou meu escrito e acabei aprovada!