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Erotico-->O Tiro Certeiro -- 06/06/2011 - 17:12 (flavio gimenez) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

 

Nosso primeiro encontro foi à porta de um elevador. Engraçado como as coisas acontecem. Ela viera ao fórum para depor sobre uma arma que lhe ocasionara problemas, vim a saber depois. A primeira impressão que tive dela é que ela estava afobada, talvez sufocada para sair dali (fazia calor, o elevador estava cheio e nem ela, nem eu gostamos muito da atmosfera carregada que um bando de defensores públicos carrega, com seus aforismas e elipses). O ar à sua volta estava carregado de um perfume misterioso, que eu não conseguia definir.

Teria ela o quê? Cerca de um metro e sessenta, cabelos longos com mechas loiras; olhos claros de um verde indefinido, talvez mais para azul que verde. Não sei, um nariz arrebitado lhe conferia um ar de graça e um quê de gozadora. Ela passeava com a mão sobre o teclado do elevador, sem apertar os botões. Eu notei seu anel, de uma pedra de vermelho citrino. Gosto de anéis e anéis que têm pedras coloridas ornam bem com mulheres de pela clara. A pele de nossa heroína era clara, cheia de sardas...Ela notou meu interesse em sua pedra, tanto que suavemente colocou a mão mais à mostra. Seus dedos, finos e longos eram bem delineados pelas unhas bem cuidadas, com um esmalte carmim, combinando com seus lábios.

--Gosta do anel?

--Gosto de pedras.

--É um citrino. Descobri que têm várias matizes. Eu tenho uns três ou quatro deles, gosto de usar conforme a ocasião. Conforme meu humor, elas mudam...

Um casal conversava em voz baixa, um outro senhor lia um prontuário enorme. Eu e ela conversávamos à meia voz, na meia luz daquele elevador lento e sentimos alívio quando metade dos defensores saiu, deixando-nos mais espaço para conversar. Interminável, a descida ia de dois em dois andares. Conversamos mais sobre seu anel vermelho-amarelado. A luz do elevador lançava um reflexo âmbar, que tornava os rostos das outras pessoas indefinido. Engraçado quando algo nos rouba a atenção: Tudo se torna apequenado, pouco importante. O sentido se faz existir pelo pouco que se conversa. A consciência se concentra num ponto, por exemplo, um anel, as sardas em movimento de vai e vem; as pernas bem torneadas encimadas por uma saia nem tão curta de causar espanto, nem tão longa de causar desinteresse. Tudo caminha assim, de nó em nó, de ponto em ponto. Dir-se-ia, nossa consciência é um arquipélago de ilhas de luz, sombreadas pelo desinteresse noutros pontos, noutras paragens.

--Que perfume delicioso...

--Gosta?...

Já no andar térreo, abre-se a porta. Uma multidão de olhos aflitos mira a entrada, como se uma corrida de cães se aproximasse. O ascensorista (quase invisível) anuncia que todos devem sair. Aqui, um pequeno funcionário se adianta, irritadiço.

--Por que demorou tanto?

--Poucos elevadores funcionam nesse prédio. Se quiser, suba pelo outro lado. É mais rápido!

Lá foi o pequeno duende irrelevante, de pastas absurdas na mão, esbaforido, unha no dedo mínimo comprida. Devia ser um destes de porta-de-cadeia, interessadíssimo numa pechincha que ia arranjar. Uma causinha qualquer, talvez defender um coitadinho que acabara de exterminar um amigo seu; quem sabe uma ofensazinha qualquer de rua, num tribunalzinho de pequeninas causas.

--Não gosto daqui.

--Somos dois.

--Por quê está aqui, posso perguntar?

--Fiz um curso de tiro ao alvo. Comprei uma arma, uma pistola para praticar. Dei uns tiros, licença e tudo legalizado. Os vizinhos resolveram dar parte e eu fui chamada aqui. Imagine, tenho tudo certo! Mas a arma...Fui levantar, a tal tem passagem na polícia...

Ela deu uma risada gostosíssima, a boca mostrando os dentes despudoradamente. Ela é destas mulheres que ri sem reservas (tem umas que guardam o riso, guardam a luz, guardam a vitalidade, num absurdo comedimento e siso--estas me enchem a paciência).

Puxou um cigarro.

--Fuma?

--Não, mas não me incomodo.

--Ei, estou começando a gostar de você.

--Posso dizer o mesmo de você!

--O que você faz da vida?

Contei-lhe que eu escrevia. Estava ali para levantar dados sobre um caso escabroso, um crime que ocorrera num apartamento de cobertura onde o menos bandido era o mordomo que, coitado, se suicidou. Ela ria à beça.

--Como? Ele se suicidou? Mas, então, ele devia ser culpado.

--Não, não, mas sentiu-se tão mal de ser incriminado que deu fim à vida.

Fomos a um barzinho, nas proximidades. Ela não gostava de beber. Era uma menina esforçada, trabalhava de dia em hospitais, como auxiliar de enfermagem. De noite, estudava e fazia sua pós-graduação. Eu, humildemente, ouvia, à medida que nos desembaraçávamos de nossas redes de culpa e medo. Minha língua se solta quando eu bebo e bebi à sua saúde; fizemos um brinde ao pobre mordomo infeliz. Ela fumava com elegância e apesar de não ser fumante, admirava sua habilidade para fazer pequenas nuvens se tornarem formas rápidas, talvez corações, talvez ervilhas. Observei sua boca, vermelha após ela passar o batom. Ela me olhou, parando subitamente. Fez um biquinho encantador e eu sorri.

--Sabe, você é um bocado bonito.

--Obrigado! Eu ia dizer o mesmo!

--Vocês falam e falam, mas não ficam sem nossa presença, não é verdade?

--Eu não imagino meu mundo sem vocês, belas mulheres. Saúde ao mordomo!

Ela riu de novo. Ergueu a taça, curiosamente iluminada pela luz do bar; um reflexo avermelhado lhe tocou as faces e eu definitivamente a tomei nos braços. Sua cintura era fina , tomei-a sofregamente e a beijei sem nenhum preparo prévio. Ela correspondeu maravilhosamente, deixando cair o cigarro, num sinal de entrega que foi a senha para deixarmos o local o mais rapidamente possível. Como ela preferisse, fomos ao meu apartamento... Ela desnudou o colo, um belo par de seios e uma pele alva me fizeram beijá-la mais e mais vezes... De madrugada, quando paramos de nos amar, ela caiu num sono profundo...E eu, sorrateiro, vi que ela sorria levemente, numa expressão plena de que a noite prometera e cumprira seus desígnios. 

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