Cansei da lida, mulher!
Hoje quero apenas, com você,
ensaiar a receita da vida.
Gozar depois, antes e durante.
Dentro e fora. De qualquer jeito
e daquele jeito que você pede gemendo.
Isso eu posso e ninguém me nega... só você, Nêga!
Mas não negue, Nêga!
Não negue, não, que já estou farto de nãos!
Se entregue.
Peço, mando e imploro ao mesmo tempo.
Leia como quiser...
Mas leia já tirando a blusa...
já se lambuzando de vontade de mim.
Ah, Nêga, tenha – suplico –
tenha vontade de se dar
A quem se dá contra a vontade...
Ah, Nêga, hoje me estupraram a alma.
Rasgaram as carnes da minha dignidade.
Violentaram minhas esperanças...
E só lhe peço – para curar essa curra –
Que faça amor comigo.
Se não for amor, faça o que for, mas faça, façamos.
Desculpa a sinceridade, Nêga, mas te quero nua. Só.
Desculpa a pressa, Nêga minha,
mas amanhã é outro dia.
Outro dia igual. Ou pior.
Então se deita. Se deixa mole e quente. Se abra.
Me recebe, Nêga, me absorve, mulher.
Me toma, que a quero profunda. Me toma no ventre.
Me toma, que já estou firme.
Me toma nas carnes frouxas da vulva.
Me toma da dor da dureza da vida.
Me socorre. Corre pro quarto. Nem banho precisa.
Me ama enquanto ainda adianta.
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