Tenho medo de chorar
Tornar-me vítima de mim mesmo
Adoro esse seu colo, essa sua boca
Essa sua pele quente.
Ando em botequins a sua procura. Não encontro-me.
Nem sei por onde tenho andado há algumas noites
Lembro –me de vinhos tintos, longas risadas, passos de bolero
Acho que fui beijada, lambida, surrada.
Pressinto que me dei mal...
Hoje, aqui, nesse hospital da alma, verto lágrimas de saudades.
Lembro que caí em alguma rua dessas na madrugada chuvosa e ao bater a cabeça no asfalto, pensei em seu corpo colado ao meu, remexendo, sacudindo-me toda, quente, pesado...
Fiquei ali, inerte, na madrugada suja, gemendo de prazer, dor, frio, falta de afeto.
Tirei a calcinha, joguei no bueiro fétido. Lancei as sandálias bem longe e fiquei ali, esperando, esperando...
O corpo molhado, tremendo de frio e de medo, oscilava no meio-fio, deixando meus seios doloridos, bicos ouriçados.
Meu sexo, úmido de lama e desejo, ardia na madrugada cobiçando sua boca.
Lembrei-me de como vc me beijava entre as coxas. Uma sede louca que fazia-me tola, manhosa.
Meus dedos perderam-se ventre a dentro tentando percorrer caminhos seus, bolinando-me, arranhando lábios, perfurando poços de prazer.
Devo Ter desmaiado no último grito que dei.
Fui recolhida por pesadas mãos negras que me trouxeram aqui.
Encontro-me limpa, lúcida e medicada. Pedi remédio para o corpo. Deram-me para o espírito. Estava atormentado.
Amo você. Muito, muito,muito.
Amanhã, jogarei rosas ao bueiro, que encontrarão, em algum rio da vida, a calcinha solitária
De uma mulher em noite de cio.