Um olhar, foi o que bastou para que eu me aproximasse dela. Ela, um portento: Esguia, de corpo delineado, altiva e sorridente. Não acreditei na primeira mirada, achei que não fosse comigo. É vício de postura; devia aprender que de vez em quando é comigo sim e pode ser com outro. Qualquer um está sujeito a vícios de postura. Ela me olhou de novo, eu olhei de volta.
--Vai ficar só olhando, camarada?
--Grilo falante, você está me saindo muito assanhado.
--Tem horas que até eu duvido, mestre. Vai ficar só olhando?
--Cale a boca, senão ela ouve.
--...Oi? Você disse alguma coisa?
--...Não, foi ele.
--Ele, quem?
Ela é puro ébano e marfim, desfila em minha direção e sorri. Difícil não sorrir com tanto encanto.
--...O grilo falante.
--Ah, conheço. Ele falou comigo e disse se eu ia ficar só olhando.
--Hein?
--Camarada, estamos juntos nessa. Eu falei que você não ia só ficar olhando.
--...Sacana!
--Quem, eu?
--Não, não. Ele.
--O grilo falante?
--...É.
Depois disso, ela veio para perto. Deixou as roupas que estava escolhendo e escolheu ficar por perto. Estalei um beijo nela que vi os pelos de sua nuca se arrepiarem. Outros também, ou o que vi foi ilusão?
Dancei. Ela saiu sem olhar para trás, meio que olhando de lado, sorriso malicioso. Não sei se fui eu que imaginei, ou foi a situação toda, ou foi ela que sugeriu, só sei que ela estava par e passo com o maior grilo que eu já vi na vida. Ou não.