Os contornos da sua figura desenhavam-se sobre os lençóis. A semi-penumbra, alimentada por tênues sombras e luzes coloridas, criava um ambiente de ardente sensualidade. Ela o esperava, quase dócil, nua, com as pernas levemente apertadas, levantando um pouco uma delas e tapando os seios com a mão e o braço direito.
Doce Vanessa, pronta para o amor.
Ele demorava-se, retardando o encontro dos corpos, caminhando pelo cômodo, reduzindo e aumentando a iluminação, apertando botões, sintonizando outra emissora, enquanto ela o observava curiosa, divertindo-se com o nervosismo do homem.
Doce Vanessa, deliciosamente pronta para o amor.
Desnudo já, como se repentinamente tudo fosse urgente, ele aproximava-se e a beijava, suavemente ao começo, aumentando a pressão, arrancando finalmente um suspiro dos lábios femininos. A boca, a língua, as mãos atrevidas, as pernas fortes e exigentes, mexiam-se sobre o corpo da mulher, dominando-a, levando-a pelos sendeiros do prazer.
Doce Vanessa, desbordando amor, transpirando desejo.
Detinha-se nos seios, beijando, mordendo de leve, mordendo com mais intensidade e sem piedade, até que ela gritava “não!” e abria-se totalmente. Livre, aberta e exposta ao amor. Como conquistador que era, ele a penetrava, subjugando-a com seu corpo, com sua força, exigindo cada vez mais dela. Um respirava o ar do outro, as bocas unidas por beijos intermináveis, enquanto os sexos iniciavam um dialogo eletrizante, que transformava a doce Vanessa num verdadeiro felino. Seu corpo ágil e atlético mexia-se ritmicamente, tentando alcançar o momento da espetacular explosão. Por dentro, mil fogos de artifício explodiam no céu da sua sensualidade. Todos os vulcões, reprimidos e controlados durante o dia, entravam em erupção mexendo com toda sua humanidade.
Doce Vanessa. Chegava ao cume do clímax e mergulhava de cabeça no maremoto do prazer.
No preciso instante em que alcançava o orgasmo, esquecia de tudo e de todos. Cravava as unhas afiadas na carne daquele corpo masculino que a dominava. Alexandre mexia-se febrilmente, esperava que Vanessa desatasse seu torrente de prazer, gritando, rindo, chorando, e derramava-se dentro dela, sabendo que aquela mulher era a razão que o mantinha vivo e feliz .
Doce e dócil Vanessa, criando com suas mãos, com sua voz, com seus gestos, todo o carinho do mundo.
Todas as semanas, fugindo dos olhares indiscretos, encontravam-se naquele motel. Entregavam-se a todas as loucuras do amor físico, sentindo que suas almas se uniam e brincavam de reinventar o amor.
Bebiam vinho tinto, seco, encorpado. Beijavam-se entre gole e gole, juravam amor eterno sem pronunciar nem uma palavra. As vezes avançavam noite adentro. Amando-se e bebendo.
Aquela noite não foi diferente. Chegaram no mesmo horário, beberam e amaram-se até o cansaço chegar. Adormeceram. Acordaram de madrugada, despediram-se, marcando um novo encontro.
Alexandre foi até seu apartamento, tomou banho novamente e recostou-se na cama. Adormeceu. Sonhou que estava fazendo o amor com sua doce e sensual Vanessa.
Acordou sobressaltado. Estava atrasado. Em poucos minutos estava dentro do carro. Quando chegou à empresa estava suando, apesar de que não fazia calor. A secretaria encontrou-o no lobby, com alguns documentos, e avisou que a reunião já tinha começado. “Estou enrascado!”, pensou.
Quase correndo entrou na sala de reuniões. Todos olharam para ele e a gerente dirigiu um de seus olhares ferinos. Sem pedir nem permitir explicações ou desculpas, ela começou a chamar a atenção sobre as responsabilidades de cada um. Parecia que falava para todos os presentes, porém, era visível, estava falando para ele, pois nele estavam focalizados seus olhos raivosos, que pareciam despedir raios.
Quando terminou a reunião, que foi um verdadeiro suplício para ele, ela ordenou que Alexandre permanecesse na sala. Então falou que não toleraria mais atrasos. Não estava nem aí para a vida particular dele, não estava preocupada se ele era festeiro, se não dormia ou se bebia em excesso. Mas não permitiria que sua conduta desleixada e perniciosa atingisse o bom andamento do trabalho.
Alexandre, olhando fixamente para os documentos que estavam sobre a mesa, não respondeu, não reagiu. Ela juntou alguns papéis, guardou numa pasta e saiu sem olhar para ele.
O homem ficou sozinho, silencioso, espantado, imaginando qual estranha metamorfose transformava, cada manhã, sua doce e dócil Vanessa naquela mulher dura, mal amada, impiedosa e terrível senhorita Vanessa Stone, a gerente geral que semeava o terror por onde passava.