Uma dor laboriosa e
constante é sentida por Rômulo em seu reto tão logo ele recobre a consciência.
Ele se sente tão violado quanto preenchido, aos poucos se lembrando dos
momentos passados na noite anterior com a esposa, seu amante e o que se dizia
seu pai, o diabo em pessoa. À medida que tenta se levantar a dor anal parece se
estender, adaptando-se conforme as leis da anatomia às costas do advogado, aliada
a uma ressaca que se confunde com a confusão mental causada pelo que foi vivido
à noite passada. Dolorido como está ele quase não sente o esperma dos amantes ativos
escorrerem de dentro de si pelas pernas em uma quantidade considerável e
coloração escura por estar misturada às fezes. Ele chega a sentir o vento que
entra pela sacada do prédio penetrar seu intestino, tamanho o estrago feito
pela invasão dos dois, que não sabe se chamaria de homens pelo fato de poderem
ser mais comparados a uma força da natureza.
Uma sensação de
queimação, de ardência tomam conta de seu ânus. Caminhando em direção ao quarto
ele vê Cristiane, deitada de bruços, nua, com marcas de mãos nas nádegas e
visivelmente mais alargada entre elas que o normal. Ele percebe o prazer que
Rafael ejaculou em seu interior derramado na cama em larga quantidade e outra
tão considerável quanto ainda em seu reto e sua vagina. A mulher dorme
tranquilamente, como se um cansaço poderoso houvesse tomado conta dela, o que já
se esperava depois da cena presenciada pelo marido traído que, agora, também
havia sido tomado como mulher pelo amante da esposa e pelo que alegou ser o pai
do mesmo e, também, o próprio demônio.
Dores pelo corpo,
cansaço, ele tenta afastar tudo isso com a água do chuveiro, que, ao descer por
seu corpo, encontra o reto violado e o faz arder ainda mais. Ele treme com a
sensação, mas admite que a dor não é tão forte quanto o choque de ter realizado
uma fantasia sua, conforme aquele que é conhecido como senhor do inferno havia
lhe dito, e ter obtido satisfação através disso. A liberação de uma
feminilidade que ele até então mantinha cativa em seu interior e que talvez
fosse a explicação perfeita para seu desempenho apático com a esposa voltam à
sua mente quando pensa naqueles corpos perfeitos e membros soberbos o invadindo
e fazendo dele o que bem entendessem e o levam a se masturbar furiosamente
enquanto se lembra do sadismo da esposa e dos dois homens que o levaram a
finalmente se libertar das amarras que privavam seu corpo de uma satisfação
verdadeira. A ardência em seu reto é logo superada pelo desejo que o consome e
que se traduz numa ânsia quase insuportável de ser novamente possuído da mesma
forma por aqueles gigantes.
- Então, o diabo comeu
sua bunda e você gostou... – Rômulo é surpreendido pela esposa, que aparece à
porta do banheiro sem que ele perceba, tão concentrado que estava enquanto se
manipulava sob a água quente do chuveiro. Sem saber como reagir ou encarar a
mulher, ele desvia o olhar, tirando o sabonete do corpo e desligando o chuveiro
enquanto ela o observa com um olhar risonho, sem disfarçar um certo sentimento
de superioridade pelo marido enquanto se recorda do que presenciou à noite
passada.
- Ficou lindo sendo
enrabado ontem. Mas ver você mamando a rola do cara que comeu sua mulher, que
faz tudo o que quer comigo e me faz esquecer que você existe... isso não teve
preço. Foi uma coisa de louco saber, através de alguém que não podia tá
mentindo, que você tinha vontade de dar o cu pra um macho superdotado... mas,
melhor ainda, ver que isso é mais forte que o sentimento de posse pela sua
própria esposa.
Enquanto se enxuga,
Rômulo continua mantendo o olhar desviado da esposa. Saindo do box ele não sabe
como se dirigir a ela, uma vez que a noite passada parece ter mudado
completamente o rumo do relacionamento dos dois. Não sabia dizer se aquele
relacionamento romântico e puro ainda existiria, mas com outra roupagem, ou se
simplesmente havia tudo acabado. Haviam tido uma conversa antes de tudo
ocorrer, mas, depois da prática, é natural que haja pontas soltas e coisas a
esclarecer, pois se sente como se diante de uma verdadeira estranha, que nem de
longe se assemelha àquela jovem com quem cresceu e nutria um relacionamento
comum e normal.
Percebendo a indecisão do
marido sobre o que fazer, Cristiane se aproxima, beija de leve sua boca e seu
rosto e pega a toalha para enxuga-lo. Rômulo permanece confuso, sem saber ainda
como começar a falar com a mulher, e ela apenas o enxuga, esboçando um sorriso
contido.
- O que vai acontecer com
a gente agora, ele pergunta, quando finalmente consegue quebrar o silêncio.
- Ué, tem alguma coisa
pra acontecer? O que tinha que acontecer aconteceu ontem. Você conheceu a
verdade e, algumas horas depois, ela acabou te libertando. Você viu tudo que eu
falei, ficou confirmado que o Rafael é o cara que me faz gozar, independente de
eu ter dado pra tantos outros mesmo depois que te conheci, mesmo porque não é o
sexo que eu faço com ele ou que eu fiz com todos os outros que me leva a amar
você...
- Mas o que você viu
ontem...
- Eu vi você gozando na
rola do meu macho e do pai dele, que, por sinal, é aquele que alguns chamam de
diabo. E foi bom pra você, como acabou de me mostrar. E vai continuar sendo...
pra nós dois. É óbvio que você gosta de servir de mulher, embora não
necessariamente deixe de me amar. E, como eu já te disse, sexo não é e não tem
que ser o ponto central de relacionamento nenhum. A gente não precisa viver sob
um teto de hipocrisia como tantos aí fora, jogar pelas regras deles, embora
isso não signifique também que a gente vá escancarar nossa vida particular pra
eles. Vamos, simplesmente, viver. E, acima de tudo, viver um pro outro.
Ela pendura a toalha e
caminha em direção ao quarto, se vestindo. Enquanto ela o faz e, em seguida,
caminha para a cozinha, Rômulo permanece ali, enquanto as mudanças que virão
dentro de sua casa passam por sua mente. Tanto ele como a esposa, dali em
diante, terão seus casos paralelos, esporádicos ou fixos, e continuarão a se
amar como faziam durante sua adolescência. Ela há muito já tinha sua mente
preparada para isso, e ele, agora, encontrava-se finalmente pronto, sua mente
livre de qualquer amarra, ambos iriam viver suas vidas não mais aparentemente
como queriam mas, como, no fundo, sempre desejaram. Ela há anos já fazia isso;
agora seria a vez dele caminhar ao lado dela sem mais segredos ou traições que
se resumissem no que seus corpos ditassem a eles, pois o desejo não seria mais
o centro de coisa alguma.
- Como você quer seus
ovos? Mexidos ou cozidos? – Respirando fundo, a mente dele finalmente começa a
voltar aos eixos e a tratar o cotidiano como uma coisa normal. Ele pensa no
trabalho e começa a se vestir, preparando-se para o café da manhã que a esposa
deixa pronto na cozinha, embora não consiga deixar de fazer um paralelo entre a
pergunta da esposa e o ocorrido da noite passada quando, durante a penetração,
tocou os testículos de Rafael por entre suas pernas.
- Mexidos...