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Erotico-->13. A PEQUENA ÂNGELA -- 31/07/2002 - 07:55 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

A infeliz menina que se viu às voltas com o traficante era Ângela, nome sugestivo, que lhe havia sido dado pela mãe em momento de extrema agonia. Às vésperas do parto, Criseide surpreendera o marido em seus amores clandestinos, mergulhando fundo em contencioso misticismo. Se lhe nascesse um menino, receberia o nome de Miguel, em homenagem à pureza e à fidelidade do arcanjo. Nasceu-lhe uma filha: seria Ângela.

Mas a fase de entranhado ardor místico foi cedendo ao materialismo do marido, até que Criseide acabou por admitir a necessidade de ele ter o “ego” bajulado por vozes femininas de modulações apropriadas para mantê-lo no ápice da personalidade. Era como julgava vê-lo feliz. Por isso, se procurada, acedia.; se repudiada, resignava-se ao obscuro papel de governanta de seus bens.

Foi nesse clima de superioridade física do homem e de subserviência feminina que cresceu Ângela. Nem seria preciso fazer referência ao fato de que em tudo buscava assemelhar-se ao pai, contudo, mantendo certa discrição que ele jamais guardara.

Aos treze anos, por força do grupo em que vivia, experimentou pela primeira vez a droga. Coincidentemente, naquele dia, o tio, tão atraente quanto o pai, mas desimpedido de compromissos matrimoniais, apresentou-se para si como homem, no esplendor dos trinta e cinco anos. Percebeu ele logo os transtornos provocados pela droga e, sem revelar aos demais as condições físicas da mocinha, levou-a a tratamento e desintoxicação. Era novata e havia ingerido mistura altamente perniciosa.

Alfredo se propôs, então, a cuidar dela com muito carinho, oferecendo-lhe o que de melhor se poderia conseguir no mundo da perversão dos sentidos. Em sua inocente alienação, Ângela deixou-se envolver pela figura sedutora do tio. Em sua companhia, nas horas em que deveria estar na escola, percorreu todos os locais mais caros do aconchego amoroso que a sociedade carioca podia oferecer.

O amante não experimentava sequer qualquer dos ingredientes do prazer e prometia-lhe livrá-la do vício, já que se julgava responsável perante a família. Desencadeou o desfecho a gravidez inoportuna.

Ao contrário do que afirmara a jovem em sua repreensão na igreja, Alfredo tudo fez para que o aborto ocorresse com sucesso. O que não lhe estava nos planos era a complicação que adviera. Contar aos demais que fora o causador de todos os males não podia, por isso, arquitetou imaginoso plano para levar os pais a pensarem tratar-se de caso de irresponsabilidade pura e simples, pela ignorância da pequena. Fê-lo através dela mesma, instruída para a teatralização do enredo, sob a ameaça velada de que, caso o verdadeiro autor fosse descoberto, iria ter de submeter-se ao vexame da divulgação do vício.

Na verdade, Ângela correu risco bem maior do que ver a condição de viciada divulgada. Se não tivesse acedido de boa vontade, certamente teria ficado na mesa de operações.

O que fez Ângela confiar o segredo à mãe foi a morte do pai. Em seu transtorno de infelicidade, tendo visto o velho partir na ignorância dos males que a afligiam, em acesso de profunda angústia e depressão, por lhe faltar a droga naquele instante, revelou tudo à progenitora.

Ao se encontrar com Alfredo na igreja, disse-lhe que não mais a procurasse, pois havia contado tudo à mãe e ele iria sofrer as conseqüências de seus atos.

O tio, como vimos, ao perceber a aproximação do irmão e à vista das circunstâncias, limitou-se a conduzir a sobrinha até onde estava a mãe, tendo sussurrado no ouvido desta que nada fizesse de que mais tarde pudesse vir a arrepender-se. Antes de qualquer atitude impensada, aguardasse sua visita para o dia seguinte.

Naquela mesma noite, porém, antecipando-se à promessa, Alfredo esgueirou-se até a casa do irmão, para não permitir à cunhada qualquer divulgação do que ocorrera. Sabia que poderia sofrer grave revés, se tudo fosse levado ao conhecimento da imprensa. Se fosse só a polícia ou a justiça, saberia como contornar a situação, mas o jogo dos noticiários teria repercussões graves. Dado o seu relacionamento com representantes do povo em diversas assembléias, cujas campanhas haviam sido subsidiadas pelo poder do narcotráfico, por seu intermédio, caso o seu nome se destacasse de algum modo, iria ser imediatamente eliminado. Era preciso sufocar a voz à sobrinha e à mãe.

Diante da cunhada, expôs à minúcia o seu plano de ação. Se estivessem de acordo, iria propiciar a ambas viagem de recreio pelo mundo, podendo fazer-se acompanhar de todos os filhos. Receberiam forte subvenção para instalarem-se no país que mais lhes agradasse, ficando certas de que teriam tudo muito bem garantido. Deixava claro, porém, que, se não concordassem em mantê-lo longe dos noticiários, iriam ser simplesmente suprimidos do rol dos seres viventes. Para comprovar que não brincava, tirou da pasta arma automática e descarregou-a na parede em frente, contra a fotografia da família reunida. Não se importou com a algazarra dos menores nem com as marcas indeléveis impressas no muro. Servissem de lembrete.

Saiu sem despedir-se, crente de que havia conseguido deixar clara a disposição de manter tudo sob sigilo.

Criseide estremeceu diante da possibilidade de ver toda a família dizimada. Ângela surpreendeu-se com a frieza do caráter do tio, não tendo a mais leve dúvida de que cumpriria a palavra. A pobre menina vivia em roda-viva de terror. Ao vasculhar os seus pertences para ver se encontrava alguma droga que a aliviasse da tensão, encontrou vários pequenos pacotes, com lacônico bilhete, onde se lia:

"Seu amor não se esquecerá jamais de você..."

Nem sua intimidade mais absoluta havia sido respeitada.

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