Carlos e Catarina receberam estarrecidos a notícia do trespasse dos familiares. Quiseram, de início, investigar possível envolvimento de Alfredo no desastre aéreo, mas logo lhes repugnou a idéia de que teria assumido ares de pai-eterno, a ditar as normas da vida e da morte. Se espírita fosse, poderiam suspeitar que teria força de presidir até os eventos de “post-mortem”.
Carlos providenciou o traslado dos corpos para o Brasil, tendo oferecido aos cinco modesto encarceramento tumular. Era o que poderia realizar como espírita, para não demonstrar qualquer sinal de demasiado respeito pela matéria. Controlava as emoções e orava surdamente para entender os desígnios de Deus. Achava que o desaparecimento de Ângela e Criseide era sinal inequívoco de que a Providência Divina não desejava que se desse prosseguimento à tarefa de aproximação ao irmão. Se fosse diferente, parecia-lhe claro que as pessoas mais interessadas deveriam ter recebido condições propícias para a realização do plano.
A esposa, contudo, no íntimo, pensava diferentemente do marido. Não via, como ele, em que a morte de tantos pudesse auxiliar no contacto, mas considerava necessária a tentativa, principalmente após ter reparado que o cunhado enviara belíssimas coroas de flores, embora não tivesse comparecido para a despedida derradeira. Por telefone, enviou condolências e demonstrou-se completamente magoado com o desastre. Era evidente que Alfredo supunha os familiares ignorantes do seu papel na ida da família ao Paraguai. Mais um motivo para que o entendimento se desse, quando mais não fora, para colocá-lo a par de seu conhecimento da verdade e o que isso representava para quem se estava doando tão intensamente à doutrina espírita. Quem sabe aí estaria a fórmula capaz de mexer com os brios do “criminoso”...
Naquela semana do acidente, o casal não compareceu às reuniões fraternais da casa de assistência espiritual que freqüentavam. Para compensarem a ausência, recolheram-se em preces em torno dos textos sagrados dos “Evangelhos”, conforme a edição comentada por Kardec. Aí encontraram lenitivo para a dor e explicação para as dúvidas. Entretanto, ardiam do desejo de consultar os guias do centro, se possível a mentora da família, Josineida, a qual, por diversas vezes, já se fizera ouvir com proveito.
No dia da reunião, agradável surpresa aguardava por eles: estavam lá, no Centro Espírita do Amor Divino, os três filhos, acompanhados das esposas. Conhecedores do projeto dos pais, principalmente porque foram colocados a par de toda a trama urdida pelo tio contra a família de Criseide, para que não se deixassem envolver por Alfredo nos negócios, através do tabelionato, os jovens sabiam bem até que ponto se estendia a área de influenciação do tio e qual seu poderio no âmbito das atividades de fora da lei. Imaginaram corretamente que deveriam dar apoio às atividades dos pais, especialmente agora que tinham desaparecido as personagens mais importantes do drama. Aliavam-se incondicionalmente, no sentido de se constituírem em forte retaguarda para prevenção de possíveis ações de retaliação. Temiam muito pelos pais, porque as investigações tinham resultado frutíferas no conhecimento das atividades do tio.
Durante o transcurso da sessão, compareceu Josineida para responder às íntimas perquirições do filho. Deu razão à nora em sua vontade de esclarecer os pontos obscuros das passagens que envolveram o filho e a neta, bem como o restante da família, mas preveniu a todos de que as dificuldades a serem vencidas iriam ser imensas. Aguardassem inspirações particulares, mesmo porque haveria necessidade, por ora, de encaminhar os recém-chegados ao conhecimento de suas reais condições perispirituais. Enquanto isso, que fortalecessem sua moral, através do estudo da doutrina e da prática do bem.
Josineida discursou reservadamente, através da psicografia de médium mecânico, de modo que a mensagem se resguardou de interesses espúrios. Mantivera-se o segredo das atividades socorristas.
Mas o correio etéreo tem meios de observação bem superiores aos dos encarnados, de modo que os espíritos obsessores de Alfredo ficaram conhecendo a intenção de se dar curso às atividades de subtração de seu domínio daquela alma tão pródiga em satisfações. Iriam empenhar-se, portanto, em que o plano se frustrasse.
