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Erotico-->25. OS FILHOS DE CARLOS -- 12/08/2002 - 06:43 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Onde Nepomuceno e Carlos trabalharam sozinhos, os três rapazes desdobravam-se para levar avante o empreendimento. Sendo três, puderam desvencilhar-se de alguns auxiliares mais antigos, proporcionando-lhes aposentadoria compensatória. É verdade que criaram inimizades, mas não poderiam admitir que se mantivessem enraizados no tabelionato antigos funcionários corruptos.

Eles mesmos, Guilherme, Raul e Ovídio, tiveram a oportunidade de aprender toda a malícia do negócio, mas a ida ao movimento espírita fez com que melhor refletissem a respeito da moralidade que deve prescrever as atividades, de forma a propiciar ensejo ao progresso que aceitavam como necessidade cármica.

Guilherme, o mais velho, fora o mais renitente, mas certa palavra dita no centro o convenceu em definitivo. Foi por ocasião da visita de entidade de luz (assim pensava ele), guia espiritual da família, Adelaide, que desfiou longo rosário de prédicas, para que os indivíduos pudessem ascender na escala evolutiva. Falou do bem e do amor, mas disse da honestidade e do propósito de realizar a caridade de coração puro e benfazejo. Repudiava os que desejavam ludibriar Deus, pensando que algo pudesse passar-lhe despercebido. Citou, como exemplo, certa negociata que alguém estaria em vias de concretizar, enquanto comparecia com a família, afirmando a intenção de reger a vida pelos princípios das virtudes evangélicas.

Cada qual no centro analisou a própria condição e viu como poderia usar a carapuça. Entretanto, foi em Guilherme que serviu rigorosamente, mesmo porque fora endereçada a ele, com alguns pormenores psicológicos elucidativos.

Naquele instante, houve quem julgasse a fala da entidade amiga como intromissão nos negócios materiais das pessoas. Aí Adelaide, tendo captado a vibração, se aproveitou da deixa e referiu-se à vontade que todos os presentes manifestavam de receber orientação e ajuda. Por outro lado, afirmou categórica que restava a opção de seguir ou não os conselhos, no exercício do livre-arbítrio, quando não haveria recurso para o plano espiritual interpor-se. Só obteria sucesso, através dos meios à disposição dos amigos do etéreo, quem se dispusesse a seguir à risca e conscientemente as palavras de muito amor e conhecimento dos guias e protetores. Para isso estavam lá.

Com tanta assistência espiritual, os irmãos julgaram que estava na hora de moralizar todas as atividades de seu ramo de negócios, de modo que muitas vezes se viram em palpos de aranha, para encaminhar antigos clientes a outros cartórios, para os registros em débito com a verdade e a justiça. A luta foi árdua mas o resultado glorioso, pelo menos no aspecto do retorno às categorias da moralidade superior.

Capítulo especial seria escrito quando o tio Alfredo compareceu, por intermédio dos advogados, para transferir várias aquisições na área pertinente às atribuições do tabelionato. Como se acostumaram a fazer, desejaram subornar o oficial de plantão. Atentos ao desenrolar de tais fatos, os donos sabiam que o governo se veria lesado de vários milhões se se fizesse o acordo premeditado. Assim, Guilherme obstou que se transcrevesse os termos solicitados e afrontou os representantes do tio, ameaçando-os de denúncia ao poder constituído.

Cientes do parentesco, os emissários não reagiram, partindo em silêncio para o conveniente relato ao chefe.

Naquela tarde, Guilherme recebeu acre mensagem telefônica do tio, que exigia que os registros se efetuassem conforme havia programado. Sem arredar pé da posição, o sobrinho pediu amavelmente que o tio comparecesse em pessoa, para receber a explicação do que se passava. Por telefone, confirmava a atitude anterior.

Curioso com o que poderia estar ocorrendo, Alfredo, em visita inesperada, foi à casa do sobrinho, ao invés de dirigir-se ao local de trabalho. Como não havia marcado o encontro, não o achou, recebendo a notícia da empregada que o patrão fora ao Centro Espírita do Amor Divino.

Afastado da família há muito tempo, Alfredo recebeu a informação como verdadeiro prognóstico da conversa que iria ter com o sobrinho. Relembrou a infância e a adolescência e viu-se acompanhando o pai, certa ocasião, em que fora buscar a mãe na sede espírita, para alegre reunião familiar. Lembrava-se da desavença que ocorrera, pois recusara-se ela a vir no momento em que lá chegaram, precisando o pai ficar esperando no automóvel por mais de hora. Recordava-se ainda de séria discussão e de algumas lágrimas, tendo-se sentido magoado com a indiferença da mãe pela alegria do filho. Era a festa de seu sexto aniversário.

Chamou Alfredo os seus prepostos e determinou que realizassem o registro dos imóveis de acordo com a orientação do sobrinho, sem discussão. Estabeleceu ainda, como princípio, que nenhuma outra propriedade passaria pela referida casa de registros. Chamou o contador e prescreveu-lhe severa ordem para levantamento de todas as escrituras passadas no tabelionato do pai. Convocou diversos amigos, donos de imobiliárias, e pôs à venda todos os prédios, terrenos e lojas lá consignados. Havia extenso barracão que servia de abrigo para companhia de ônibus. Incompreensivelmente, transformou a empresa em sociedade anônima e distribuiu pelos empregados as ações, transferindo a responsabilidade para terceiros. Mas houve sério problema relativamente à fortaleza que edificara e que ocupava. Era construção especialíssima, projetada para garantir-lhe refúgio absoluto, com diversas saídas camufladas em caso de invasão. Era local de que não poderia abrir mão sem chamar a atenção das autoridades. Viu-se de rabo preso. Entretanto, resolveu enfrentar a sorte e manteve-se na casamata. Não venderia a propriedade.

As atividades de Alfredo chamaram a atenção dos sobrinhos. Perceberam a mudança de atitude dos advogados, tendo-se, desde logo, colocado de pé atrás para algum revide.

Em reunião para deliberação do que fazer, Guilherme contou aos demais a conversa telefônica e referiu a frustrada visita ao seu domicílio. Raul encarregou-se de vigiar os movimentos do tio, no que dizia respeito aos serviços que lhe poderiam vir a ser prestados no cartório e Ovídio ficou de relatar tudo ao pai, para pô-lo a par dos acontecimentos.

Assim que Carlos soube que as propriedades estavam sendo transferidas para outras pessoas, pensou em que o irmão queria fazer o seu nome desaparecer das vistas oficiais. Temeu que os negócios fossem fictícios, mas não lhe foi difícil saber que os compradores eram legítimos, embora os preços estivessem bem aviltados. Passou-lhe pela idéia que Alfredo pudesse estar tramando algum golpe contra a família, mas relutou muito em aceitar a intuição. Por enquanto, o que estava ocorrendo, aparentemente, era o contrário: não podendo manter os sobrinhos sob o tacão do abuso do poder, livrava-os do desagradável dever de dizer “não” às propostas imorais. Temeu pelo fracasso dos negócios dos filhos, mas não sentiu qualquer arrefecimento por parte de nenhum outro cliente. Ao contrário, as informações eram de que muitos buscavam o lugar para fugir das propostas indecorosas de muitos colegas de profissão.

Nesse meio tempo, todas as ligações que se fizeram na tentativa de envolver o irmão diretamente nos negócios se frustraram, mediante a impossibilidade de contato. Os telefones estavam sob o controle de funcionários de várias firmas, não se dignando o mano a atender pessoalmente a qualquer chamado. Estafetas voltavam com cartas e telegramas, com a anotação de que os endereços estavam incorretos. Alfredo buscava isolar-se da família.

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