Ao mesmo tempo em que Alfredo partia para resolver os problemas que se iniciavam na organização, Virgílio deixou o pessoal reunido, para seguir para o Alto, atendendo a apelo do setor da espiritualidade encarregado de orientá-lo.
Junto ao mentor, pôde reconhecer que os passos que dava estavam sendo largos demais para a compreensão dos pupilos. Deixasse que sofressem com a descoberta das imperfeições e, a partir daquele instante, vigiasse de longe, sem interferências. Foi louvado em todas as providências, mas era preciso estender-se mais em explicações, para que nenhuma fase ficasse incompreendida.
Conheciam-lhe o sentimento e achavam que otimismo demasiado pode comprometer todo o serviço. Fosse mais realista. Muitas vezes, a semente plantada demora no coração da terra para obter os recursos de ambientação para germinar. No caso de Alfredo, era preciso dar mais tempo, para que pudesse afeiçoar-se à idéia de perder inúmeros bens materiais em troca de uns poucos sentimentos morais. Não fosse com tanta sede...
Virgílio quis saber se algum dos amigos precisava de atenção especial
Procedesse como em relação a Alfredo. Deixasse que se debatessem com certas dúvidas e ânsias. Naquele instante, estavam perplexos em virtude do acúmulo dos acontecimentos. Era preciso que se cristalizassem os pensamentos em função da caracterização das emoções e reações profundas. Ficasse atento para possíveis desajustes psíquicos, mas só interferisse em caso de visível dissidência. Desaparecesse de cena, fazendo com que uns se socorressem dos outros, para que o grupo se firmasse como coletividade.
Virgílio ouviu as explicações atentamente. Não se sentia diminuído nem lhe representaram as advertências qualquer sentido de repreensão. Era a natural exposição de quem sabe mais, na distribuição amorável de conhecimentos. Era o exercício claro do socorrismo em nível elevado. Se suspeitasse de que errara e que tudo significasse tão-só a decisão de mudança de rumo, elaboraria em flagrante erro e profunda injustiça. Nem o mentor se referia a esses sentimentos, nem ele os externou. Era simplesmente a configuração natural dos fatos.
Quanto a Carlos e companheiros, deixasse que o grupo da espiritualidade oferecesse acompanhamento e assistência, favorecendo-lhes o contacto mediúnico.
Pelo que concernia a Alfredo, era evidente que se transformava, no sentido da busca do domínio do destino. O importante era deixar-lhe claro que o exercício do livre-arbítrio só se realiza mediante convenções armadas pelo grupo em que se insere o indivíduo. Tudo que ferir os princípios estabelecidos irá provocar as reações de ajustamento cabíveis, de modo que, para total liberdade de ação, necessário seria que o sujeito pudesse impor a vontade integralmente sobre a sociedade. Nesse caso, que se esforçasse Virgílio para fazê-lo ver que nem tudo se lhe submetia ao jugo das decisões pessoais, precisando ceder em inúmeras circunstâncias. Que voltasse esse mesmo raciocínio para o plano da espiritualidade. Talvez pudesse vir a ser esse o caminho para obter dele reflexão a respeito dos desígnios do Senhor.
Fosse em paz!
Virgílio muito agradeceu as sábias determinações do superior e voltou para seu plano, disposto a se fechar em seu compartimento, para meditar profundamente a respeito de tudo que lhe fora passado naquele feliz encontro. Suspeitava de que precisaria alterar os projetos.
