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Erotico-->38. PREVENÇÕES -- 09/10/2002 - 06:44 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

O velho traficante não era homem de se deixar iludir pelas palavras da neta. Gouveia tinha o faro aguçado na desconfiança de tudo e de todos. Chamou as outras e fez que contassem como iam as coisas entre Leandro e do Carmo. Inteirou-se da festinha particular na praia, sabedor que era das demais proezas das netas. Resolveu, então, colocar Silvano alerta para a informação a respeito das atividades do pretendente.

“Do jeito como as coisas vão à deriva no encapelado mar do sexo, o energúmeno é bem capaz de pôr a menina a par de tudo. Só para me pressionar. Por outro lado, talvez seja melhor assim do que mais alguém para conhecer os segredos da família. Sem rabo preso, poderá representar perigo maior.”



— Que devo fazer, precisamente?

— Quero que me avise dos encontros amorosos de Leandro. Ponha alguém a vigiá-lo, discretamente. Se perder o rastro algumas vezes, não tem importância. Mas, na certeza de que vai cruzar com alguma fêmea, quero ficar sabendo imediatamente.

— Não vai ser fácil. Mas é possível. Temo...

— Não tem que temer nada. Se ele descobrir, eu me entendo com ele.



Silvano saiu pensativo. Leandro desconfiava dele. E com razão. O acréscimo de vigilância poderia voltá-lo contra si. E o cara era famoso pela rapidez dos despachos. Atirava primeiro e inquiria depois.

“Não vou poder chamar gente de fora. Vai ter de ser alguém da organização. Que ele não conheça.”

Quebrou um pouco a cabeça e chegou à conclusão de que poderia solicitar os préstimos de um dos serviçais de outro cabeça do bando, que conhecia como guarda-costas, que sabia finório e integrado completamente.

De fato, o sujeito era a pessoa indicada, tanto que se cansava da inatividade e requeria tarefas, sempre que se via dispensado para tratar dos próprios negócios. Colocou-o a par das dificuldades da empresa e dos riscos naturais de quem desafia quem se postava tão próximo dos chefes.

— Deixa comigo!



Leandro retardou por uns dias a entrevista com a namorada. Queria dar folga à libido, para o desempenho que precisaria ser otimizado na próxima relação. Sentia-se exaurido pela fogosidade das meninas. Se do Carmo quisesse uma prova de amor, de paixão, deveria estar capacitado ao atendimento.

O malandro se deixou envolver pelas atividades do tráfico e se imiscuiu nos negócios, acompanhando de perto o quadro das entradas e saídas, o que havia desleixado ultimamente. Compreendeu que sua presença no setor era dispensável, porque o pessoal estava “na ponta dos cascos”. Não interferiu mas inteirou-se de que o consumo da cocaína e do “craque” havia subido mais de dez por cento do que era antes da invasão dos morros pelas Forças Armadas.

Sentindo-se recarregado, entrou em contato com a moça. Precisavam colocar as cartas na mesa.



Ao sair cedo de casa, notou que havia algo estranho na movimentação de um carro que perfazia o mesmo itinerário. Contornou um quarteirão para comprovar que estaria sendo seguido, mas o veículo suspeito desapareceu.

“Quem poderá estar interessado em mim?”

Não hesitou. Digitou o celular e deu ordens expressas para os capangas se encontrarem com ele em dez minutos. Queria proteger-se.

Silvano despachou-se, de sobreaviso, determinando que fossem prudentes, para não causarem pânico em praça pública. Mas as providências resultaram inúteis, que o “detetive” tinha deixado a investigação para outra hora.

Em lugar de Leandro ir ao encontro da moça, informou-a de que estaria ocupado até de tarde.

— Para mim, está muito bem. Te encontro no mesmo lugar, às quatro.

— Adeus, querida!

— Não vejo a hora de te beijar...



Naquela tarde, Leandro resolveu que não iria ver do Carmo. Estranha prevenção se apossou de sua mente, como se fosse a presciência da desgraça. Imaginou-se nas garras do Gouveia. Não teria chances. Era preciso cuidar da segurança, por meios desonestos mas eficazes.

Do Carmo não atribuiu a causa da desistência do encontro senão ao fato de estar ele com medo de ter de revelar a verdade a respeito das primas.

“Esse cara não é de nada. Só porque possui um restaurante, se julga no direito de me esnobar. Mentiroso e hipócrita. Quis dar uma de avançadinho e não consegue enfrentar a própria consciência. Burguesão tolo! Aqui que vai me pegar de novo!”

Mas o pensamento do amante vagava por plagas longínquas. Queria pôr Gouveia temeroso, mas não sabia exatamente como. Os segredos da organização eram muitos para si mesmo. Para cada fato conhecido, ficavam muitos na nebulosidade dos empreendimentos oficiais. Mesmo que relatasse sua própria vida e todos os negócios, o dinheiro que desaparecia entregue aos maiorais não deixava rastro. Era fácil recomendar à Justiça que se executasse o pobre intermediário como o mais poderoso chefão. Afinal de contas, a contabilidade se desfazia no “delete” dos computadores, tão logo as propinas se distribuíam. Arquivos, mesmo, só os dos nomes que precisavam vigiados. Sem cópias comprometedoras.

De qualquer modo, restava a possibilidade de jogar com a ingenuidade de do Carmo, a qual, com toda a certeza, não estava a par dos negócios escusos da família.

“Terá o velho coragem de mandar eliminar a neta, se esta lhe causar desassossego?”

A dúvida quanto à reação do traficante não se configurou em sua mente acostumada ao sangue:

“Que faria eu? Despachava a coitada pessoalmente e não punha em perigo a organização. Preciso caminhar noutro sentido. Devo contar a verdade a ele? Revelar que pretendo me casar com a menina? Que ela não é a flor...”

Leandro desconfiou da própria ingenuidade. Gouveia deveria conhecer a vida dela, desde antes do defloramento. E deve ter providenciado o afastamento dos pretendentes indesejados. Aos poucos, lhe foi crescendo o interesse em pedir a mão da moça ao velho, não sem antes prometer aceitar todas as condições. Antes, contudo, precisava do consentimento de do Carmo.

“Está decidido: vou me encontrar com ela imediatamente.”

Pela terceira vez no dia, achou a moça disposta a vê-lo. Mas preferiu que se encontrassem em local público, onde só conversassem. Os beijos ficariam para outra hora...

Ao contrário da deliberação anterior, acendeu-se na rapariga a curiosidade pelo desejo imperioso de conversarem demonstrado pelo amante. Se lhe tivesse pedido para irem à casa da praia ou a motel, teria recusado. Ou melhor, aceitaria e não compareceria. Mas, no “shopping”, seria como se tivessem sido levados pelo acaso.



Quando Leandro deixou a garagem, notou que estava sendo seguido. Desta feita, porém, os comparsas estavam prevenidos e lhe davam cobertura. Pelo celular, Leandro comandava a operação de despistamento, de modo que, quando cruzaram movimentada avenida, o carro do espião foi interceptado, dando tempo a que Leandro se safasse.

Se tivesse ficado, teria sabido que, por meio de secreta senha, os bandidos se haviam identificado como colegas. Breve contato com Silvano, e tudo ficava esclarecido para os guarda-costas como sendo um comando da chefia. A notícia dada a Leandro foi a de que houvera sido infundada a suspeita.

Leandro, porém, escapuliu para o encontro.



— Você me desculpe, mas só agora é que pude arrumar tempo para conversarmos.

— Tudo bem, querido. Estava mesmo com muita saudade.

— Do Carmo, eu sei que armaste a arapuca da praia, com tuas primas. E sei que elas devem ter contado tudo a você.

Apanhada na própria rede, do Carmo não teve reação. Ficou estática, aguardando as novas declarações. Leandro a surpreendia com a franqueza e com a perspicácia em compreender a manobra afetiva.

— Querida, não precisa me confirmar nem necessito que me esclareça nada. O fato é que as tuas primas são preciosas e não tem homem que consiga resistir aos seus encantos. Calculo que me querias testar a lealdade e não o poder de satisfazer as mulheres. Pois eu teria feito feio papel se não lhes tivesse dado prazer.

— Pelo que me disseram, ficaste bem derreado com ...

— Que querias? Sabes que não sou frouxo.

— Vieste para contar vantagem?

— Vim para contar a verdade. Se querias me testar, estou aqui para te dizer toda a verdade.

— Pois fiquei satisfeita. Que vamos fazer agora?

— Quero pedir tua mão em casamento.

— Quer dizer que me amas...

— Quer dizer que estou pronto para te dar o que quiseres: amor, prazer, segurança, um futuro de grandes perspectivas pessoais...

— E se aparecerem uns primos teus, irresistíveis?

— Terás ampla liberdade de te decidires pelo que melhor te aprouver. Eu não irei ser a pedra de teu caminho.

— Amor livre?

— Não, se eu puder ser o único a te satisfazer na cama, na praia, onde for.

— Isso é compromisso sério. Depois de casada, não vou te dar ensejo...

— Eu não quero a mesma liberdade para mim. A não ser que a vida nos leve por caminhos diferentes.

— Aí o contrato está desfeito...

— Desfeitíssimo.

— Me leva para a casa da praia. Eu quero um banho ao luar, com tudo a que tenho direito.



A manhã seguinte surpreendeu os dois enlaçados. Haviam selado o contrato de matrimônio na ânsia da paixão. Estavam preparados para o enfrentamento de Gouveia.

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