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Erotico-->40. GOUVEIA APARECE -- 11/10/2002 - 08:03 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

O casalzinho de apaixonados não teve de esperar muito pelo encontro com Gouveia. Ainda no leito, foram surpreendidos pelo velho, que adentrou o quarto de arma em punho. Se Leandro tivesse feito qualquer gesto no sentido de apanhar sua automática debaixo do travesseiro, levaria tiro certeiro.

— Fiquem exatamente onde estão e calem a boca. Vai ser este ancião que irá ditar as normas de conduta dos dois, daqui por diante. Mocinha, não gostei da tentativa de me enganar, fazendo-se desinteressada pelo comerciante aí. E você, tratante, por que não me contou o que pretendia com minha neta?

— Estamos combinados...

— Vocês não têm de combinar nada. Quem determina sou eu. Para efeito da verdade, é preciso que ela saiba que o conquistador transou com as primas...

— Pois ele me contou tudo. E se quiser saber a verdade, fui eu quem providenciou o encontro entre os três.

— Com que intenção?

— Queria saber se Leandro era leal para comigo, pelo menos quanto a me deixar a par dos acontecimentos.

— E mesmo assim...

— Mesmo assim, eu o quero para marido.

Gouveia, num gesto instintivo, guardou a pistola. Não tinha os movimentos rápidos da juventude e atrapalhou-se com o coldre fechado. Soltou um palavrão. Mas não assustou do Carmo, embora tenha deixado Leandro de sobreaviso. Parecia a este que o traficante não estava satisfeito com o rumo que dera ao relacionamento com a jovem. Mas não abriu o bico, ciente de que tudo estaria nas mãos do chefe.

— Vistam-se que eu vou esperá-los na sala.

Rapidamente os dois puseram as roupas. Do Carmo abraçou o noivo e sentiu-o tremente.

— Vai dar tudo certo.

— Tenho certeza que sim, mas para a tua família. Quanto a mim, estou com medo de ser escorraçado. Vou precisar de tua ajuda.

— Querido, estamos combinados. Se meu avô não aprovar, meu pai aprova.

Leandro quedou silencioso. Pensava que ela não conhecia absolutamente quem mandava e desmandava na família. Colocou a arma no cinto, ciente de que teria condições de sacá-la mais depressa que o velho. Ao adentrarem a sala, lá estavam dois seguranças de armas em punho. Não haveria chance para o amante.

— Do Carmo, vai até o carro e fica aguardando que eu te chame.

O tom de voz não dava margem a que retrucasse. Saiu gingando as cadeiras, provocante.

— Leandro, estou falando contigo perante duas testemunhas. Isso deve ser suficiente para ti. Até que ponto do Carmo está sabendo de tuas atividades na organização?

— Nada contei a ela.

— Bom. Quer dizer que permanece tão ingênua quanto antes?

— Perfeitamente.

— Quais são os teus projetos quanto ao teu papel no tráfico?

— Projeto nenhum. Deixo tudo a teu critério.

— Estás num beco sem saída. Meu nome tem livre curso na imprensa. O teu casamento vai sair nos jornais e revistas. Como irás fazer com teus antigos relacionamentos?

— Penso que apenas o meu pessoal sabe quem seja eu para a...

— E tua antiga amante, a mãe de teu filho? E o médico que trata dele e que deu guarida a ela?

— Esses não têm interesse em provocar o leão com vara curta. Sabem que correm sérios riscos. Além do mais, me devem favores. A ela, dei-lhe muito dinheiro e facilitei a instalação em São Paulo. A ele, livrei-lhe os filhos do cativeiro, quando foram raptados. Estou certo de que não desejam vingança, principalmente se eu abrir mão da guarda do meu filho.

— Mas não querias tu acabar com esse rabo de gato?

— Do Carmo entrou na minha vida e mudou meus pensamentos.

— Não acredito em teu amor nem em tua bondade. Acho que estás a me embromar...

— Em hipótese alguma...

— Que idéia fazes de mim? Pensas que serás capaz de me enganar?

Gouveia não tinha certeza da sinceridade de Leandro, mas não podia acusá-lo de nada, a não ser pelo fato de lhe haver seqüestrado as netas. Calcou nesse ponto:

— Se tivesses boa intenção, não terias aprontado com do Carmo e as outras.

— Se tivesse má intenção, procuraria resguardar-me de tua vigilância. Não teria vindo para cá nem teria mantido do Carmo ignorante das atividades secretas da organização.

Em outros tempos, Gouveia não teria admitido que ninguém lhe respondesse com tanta altivez. Reconheceu que o rapaz era corajoso em afrontar-lhe a exposição, perante as armas dos acólitos. Não insistiu, porém, e mandou trazer a neta para dentro.

— Quero saber de ti se desejas casar com ele.

— É o que quero fazer.

— Que tu sabes das atividades do comerciante?

— Sei que tem um restaurante e que está expandindo os negócios. Não é verdade que você mesmo lhe emprestou uma grande soma? Ou há mais alguma coisa que ele me escondeu?

— Perto de tua herança, o que ele tem não significa nada.

— Casarei com separação de bens. Se for do desejo do meu avô, ele poderá receber o empréstimo como presente de casamento e, assim, terá meios de progredir. Em todo caso, ninguém aqui está passando fome e eu pretendo receber quantia bem grande...

Gouveia reconhecia na moça a legítima representante de seu sangue. Se precisasse de alguém para gerir os negócios escusos, por certo ela desempenharia o papel com proficiência.

— Vamos ficar assim: vocês dão andamento aos papéis. Não se esqueçam de que Lourenço tem de ser consultado oficialmente. É o pai e tem de saber o que se passa no coração da filha. Vou preveni-lo antes. Assim, saberá que resposta dar. Leandro irá passar pelo escritório para formalizarmos a transformação do empréstimo em doação.

— Poderemos estudar uma sociedade...

— Poderemos, sim, se teus negócios prometerem lucros.

Estava selado o consentimento do velho. Contudo, Leandro sabia que a conversa que teriam iria estabelecer os parâmetros de seu futuro. Mas não temia pelo pior, porque, se fosse para eliminá-lo, Gouveia não teria gastado tanta saliva. Batia-lhe o coração mais confortado.

Quando entrou no carro para conduzir do Carmo para casa, recebeu de chofre a pergunta que mais temia:

— Por que as armas nas mãos de todos? Meu avô seria capaz de atirar? E aqueles dois gorilas? E tu mesmo, com a pistola no cinto?

— Nesta cidade, quem não se protege contra os bandidos está perdido.

— Conversa fiada. Vocês estavam decididos a disparar. Tive a impressão de que, se as palavras ficassem ásperas, os revólveres falariam mais alto.

— O teu avô estava cismado de que eu estava só me aproveitando de ti. Não viste que ele já sabia do meu encontro com...

— E como ficou sabendo?

— Acho que foram elas que contaram.

— E qual o interesse delas?

— Se ele pôs algum detetive atrás de nós, é porque desconfiava de que tu o havias enganado. Suspeitou de mim...

— A história está mal contada.

— Pois conversa com tuas primas.

— Deixa comigo.

— Precisamos combinar quando é que deverei ir pedir a tua mão...

— Isso não vai dar trabalho algum. Vamos esperar que o velho Gouveia acene que está na hora. Na família, como deves ter percebido, é ele quem dá as cartas.

O restante do trajeto foi vencido em silêncio, cada qual arquitetando o próximo evento, na construção de seus futuros. Ambos, porém, com a forte suspeita de que tudo estava na dependência da vontade do patriarca.



Enquanto isso, Gouveia meditava a respeito das informações de Leandro, se não era o caso de acabar com ele ou de eliminar Isabel e o médico.

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