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Erotico-->14. RECUPERAÇÃO -- 12/12/2002 - 06:55 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Dei trabalho ao Doutor Castro e aos dedicados enfermeiros, mas ajudei-os, por compreender-lhes a ternura com que trabalharam. Disse-lhes, mesmo, enfaticamente, que gostaria de possuir tamanha boa vontade, na realização do bem. Procurava, na verdade, esconder a imensa vergonha pela recaída, mas era sincero no reconhecimento do amor.

Honorato não me abandonou um único instante, mantendo-se em prece, ajudando-me com conselhos e distribuindo vibrações positivas (por falta de outra explicação), para que a recomposição perispiritual se desse da melhor maneira.

Sinto-me inibido com a descrição dos momentos inconsistentes, mas alcancei compreender que a maior fragilidade de caráter se situava na região da voluntariedade. Cheguei a imaginar que os percalços para a concretização dos atos maldosos influenciaram de maneira eficaz, no sentido de obstar que cometesse atrocidades bem maiores. A defesa psíquica dos seis anos de idade incidiu diretamente sobre as manobras da inteligência, condensando as atividades em torno de objetivos meramente egoístas. Se me tivesse dado à tarefa sistemática de atacar os demais, sem medir as conseqüências das reações, talvez tivesse terminado a vida de forma muitíssimo pior. Suicida, talvez, porém, assassino, com certeza. Eis que se me revelava ao intelecto que até a morte pelas próprias mãos pode não ser tão terrífica.

Ouviu-me calado o padrinho e benfeitor. Às vezes, meneava a cabeça desagradado, como discordando das inferências. Mas não interferiu na linha dos raciocínios. Parecia receber o conselho que mais dava, o da paciência.

— Meu filho, nem sempre estamos capacitados a concluir sobre a personalidade como um todo. É fato conhecido que as pessoas se surpreendem, quando assediadas pelo insólito das situações. Corajosos viram covardes e vice-versa. Pacifistas declaram guerra. Ociosos passam a agir e ativos se tornam inermes. Quais as válvulas do caráter que se abrem ou se fecham e por que o fazem são mistérios milenares, até para os que ascendem a paragens angelicais. Não queira ser definitivo em nada que lhe diga respeito. Mantenha-se receptivo para novas descobertas. Contudo, caracterizada a falha, empenhe-se por eliminá-la. Se você descobriu que as ações sempre foram tirânicas, ditatoriais, é hora de experimentar torná-las submissas.

— Isso tem que ver com a desesperação?

— Sem dúvida. Se tivesse sido mais cordato consigo mesmo, admitindo a possibilidade de não ser perfeito em nenhum aspecto, não teria ficado tão acabrunhado.

— Posso concluir pelo egoísmo?

— Só se tiver coragem de enfrentar as conseqüências de se saber inferior nesse aspecto.

— A falta de derrocada emocional não poderá refletir excessivo orgulho?

— Evidentemente sim, desde que o sofrimento não seja sincero. As conseqüências perispirituais foram por demais palpáveis, para se inferir que estivesse sob o domínio do orgulho, nesse sentido que você colocou. Entretanto, não queira correr o risco de orgulhar-se de ter tido tal reação, já que estou colocando-a no campo do egoísmo, o que é bem pior.

A análise das fissuras morais causavam-me dor. Busquei tergiversar:

— Não há meios de se apressarem os efeitos benéficos das aulas, concentrando as informações em torno dos estudos arquivados na “Escolinha de Evangelização”, já que, acredito, muitos que por aqui passaram terão tido os mesmos problemas?

— Não existem cursos intensivos. Seria bem mais fácil do que sua simplória sugestão que apagássemos a personalidade (verdadeira lavagem espiritual) e implantássemos outra, por processos equivalentes ao “libreto” do catecismo. Não estão ali todas as informações filosóficas, morais, religiosas, científicas mais importantes, essenciais para a organização existencial com bases evangélicas? No entanto, isso significaria a criação de robôs. Você não se acusou de ter usado desse método com os alunos? Veja que existe sutil contradição entre o desejo de melhorar, de expurgar os defeitos, e a própria manifestação dele.

Honorato empenhava-se por demonstrar-me que era eu muitíssimo cru quanto aos conhecimentos de todo gênero e que isso se refletia na pretensão de estipular normas para o ensino.

— Pense nos aluninhos da primeira série. Seria lógico pedir a eles que formulassem o currículo escolar? Vamos mais longe. Pense nos recém-nascidos estabelecendo critérios de criação e de educação.

Demorava para pedir desculpas. Pouco tempo antes o fizera de imediato. Será que me endurecia a compreensão, à medida que se revelavam as fraquezas morais?

— Querido Roberto, não pense que estou ofendendo-me com os incrementos de preocupação e de trabalhos que as resistências psíquicas tendem a oferecer-me. Nem suspeite de que tenha todos os cordames de sua personalidade sob domínio. Quando estiver calejado na orientação de seres em crescimento nesta colônia, verá que cada indivíduo é único nas reações e aspirações. Desse modo, perceberá que o seu próprio aprendizado fluirá dos ensinos que for ministrando. Nunca lhe ocorreu, como professor, que as crianças lhe passavam noções novas, mesmo inconscientemente?

— Vovozinho, sinto-me perdido, sob o influxo de tantas informações.

— E dizer que foi você quem sugeriu que se desse ensino concentrado...

Sorrimos ambos. O esforço do conselheiro valera a pena. Estava em condições de voltar a interessar-me pelo andamento das sessões de estudos:

— Como foram as reuniões dos companheiros?

— Não pude acompanhar. Sei que tive de concorrer com vibrações de sustentação energética para sete colegas seus, internados em condições idênticas às suas. Descanse esta noite, despreocupado com o curso. Tenha certeza de que está aprendendo pela maneira mais convincente e não estranhe se lhe perpassar pela cabeça que o delíquio sentimental possa estar a indicar para o caminho das virtudes. Deus é pai de misericórdia e sempre há...

— ...de escrever certo por linhas tortas.

Gostava de antecipar as conclusões de Honorato. Na época, fazia-o para demonstrar argúcia. Hoje, desconfio de que ele é que me dava as deixas, com finalidades de incentivo.

Aquela noite passei sem grandes agitações, mas sonhei com prados e vergéis floridos sendo destruídos pelo pisotear pesado de grandes paquidermes. E sofria, vendo as plantas indefesas sendo dilaceradas. Ao acordar, trazia filhote de elefante preso pela coleira. Fora o que alcançara domesticar.

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