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Erotico-->15. RETOMANDO AS LIÇÕES -- 13/12/2002 - 08:40 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Fui para a câmara informado por Honorato de que deveria estabelecer contacto com as regiões da memória que guardavam os desprazeres de todo tipo: dores de barriga, cortes e machucaduras, febres, doenças infantis, cáries e sensibilidades diversas, problemas emocionais, frustrações, tudo, em suma, que me tivesse constrangido a sofrer.

— Com que objetivo?

— Estabelecer o “quantum” de sofrimento vital. O que se passou nas Trevas será tópico mais avançado no rumo das pesquisas psíquicas. Esqueça tais agruras.

Tive a intuição de que a recapitulação seria leve, dado que, para o mesmo crime, não haveria dupla punição. Mas não fiquei sossegado inteiramente, por causa das experiências anteriores. Haveria a consciência de descobrir falhas de formação do caráter para evidências angustiosas. Enfim, se quisesse evoluir, que me submetesse às lembranças das dores.

Fechado hermeticamente na cabina, intentei o processo inverso, ou seja, em vez de gravar as imagens das recordações, quis visualizar o que se registrara anteriormente. Imaginei que seriam atenuados os efeitos mórbidos sobre o espírito.

Obediente, o aparelho iniciou a reprodução, desde a formação do feto no ventre materno. Não havia grandes desconfortos, mas sentia-me premido por certa ânsia de libertação. Via claramente na tela as contrações corpóreas, ao mesmo tempo que as reproduzia na mente. Percebi que o método não me aliviaria das impressões de dor. Contudo, conformei-me e prossegui a experiência.

Devo esclarecer que a visão do feto não se fazia segundo os aparelhos terrestres de ultra-sonografia, cujas imagens se projetam em monitores de vídeo. A visão se dava a partir de ponto interno, sem o auxílio das retinas, como agora, quando observo o mundo exterior por meios próprios do corpo perispiritual, bastante diferente do processo carnal. Desse modo, não presumam que esteja sendo incoerente. Antes, acertem os seus ponteiros pelos meus, para avaliarem como é que pude chegar às dramáticas conclusões do relacionamento interno com o espírito de minha mãe.

Na verdade, as contrações incômodas se davam por influenciação de ondas energéticas desagradáveis, provindas de fora da bolsa em que se formava o corpo. Se não tivesse tido as informações da cartilha, certamente teria passado batido pelas causas desses primeiros sintomas de desconforto. Mas sabia que os relacionamentos entre mãe e embrião têm toda a gama da afetividade. E atribuí as péssimas influenciações à rejeição daquele espírito que concordara em me receber do etéreo, para me transportar à luz da vida carnal.

Ao contrário do que poderia eu mesmo esperar dois dias antes, isolei-me, naquele momento, quanto aos influxos sentimentais, decidido apenas a observar. Parecia-me que as reações maternas não poderiam ser diferentes, se tivéssemos sido inimigos, em encarnações anteriores. Fazia questão de recordar o sonho em que enforquei as pessoas. Se tal fato fosse verdadeiro, era justo esperar que houvesse ondas de rejeição.

Fui capaz de distinguir outras manifestações de desagrado, apesar das paredes protetoras do útero. Vinham de mais longe e eram mais intensas. Os efeitos, contudo, não se mostravam tão intensos, como se fossem contrabalançados por ações energéticas positivas. Pensei nos protetores espirituais e me tranqüilizei.

O pensamento de que não poderia resolver nada dentro do gabinete atenuava os impulsos de defesa e o interesse em saber a procedência das vibrações. Deixava-me, simplesmente, envolver pela suposição de que poderiam provir de meu pai ou de meus irmãos.

O momento da expulsão para o mundo exterior foi sumamente desagradável. Senti fortemente a queda de temperatura e a rudeza com que me apanharam, me limparam e me deram os primeiros cuidados terapêuticos.

A partir de então, as sensações ruins eram as da fome. Às vezes, agudas dores de barriga. Uma vez, algo horroroso nos ouvidos. Havia maus-tratos nos braços, efeito das vacinas.

Comecei a meditar se tudo isso teria qualquer importância. A fita adquiriu velocidade de câmara rápida. Não houve um só dia que não tivesse deixado marca de dor.

Interessante, no desenrolar dos acontecimentos desagradáveis, era que não me estimulava para a revolta, para a insatisfação, para o desalinho das coisas normais ou naturais. Cheguei a pensar que, ao ingressar na carne, o espírito assina o compromisso de aceitar todos os pequeninos sofrimentos, como parte da sentença cominada pelos males anteriores.

Os reveses infantis, os castigos e cintadas passaram rapidamente pela tela. Os tratamentos dentários, o engessar de um braço quebrado, as diversas contusões esportivas não me oprimiam o cérebro, de sorte que não sentia as dores pela segunda vez. Contudo, sempre que me sentia ofendido por palavras, os estremecimentos morais eram revividos em plena intensidade.

E assim foi o restante da vida, acelerado o processo talvez por ter perdido demasiado tempo com as reflexões iniciais. A dor final foi a mais lancinante. Senti o estralar dos ossos do pescoço pela queda do alto galho e o sufocamento quase me deixou sem ar. Salvou-me a sineta, indicando o final da sessão.

Ao me ver saindo sério mas não transtornado, Honorato deu graças a Deus:

— Vejo que meu pupilo está crescendo perante as próprias desventuras. Vamos agradecer ao Pai e, depois, discutir os pontos que lhe pareceram os mais importantes.

Enquanto orava, agradecia o poder de superação das dificuldades interpretativas. Qualquer que fosse o resultado da análise, iria sujeitar-me ao trabalho de composição com os adversários e desafetos. Adverti para a forma como tratava meus progenitores e me lembrei de que as aulas estavam sob a insígnia do quarto mandamento. Abaixei a cabeça e pedi desculpas pelas vibrações que de mim emanavam. Era como se meus pais estivessem em gestação dentro de mim. Compreendi que deveria enviar ondas de amor se quisesse, como disse Honorato, crescer em virtudes.

— Penso que terá tido tempo para avaliar os relacionamentos com os filhos...

— Continuo atrasado nos exercícios. Limitei-me a sentir as dores recebidas, sob o influxo dos ajustamentos da idade de seis anos. Mas creio ter avançado no entendimento de como se constituiu minha primeira família, em função dos carmas cruzados.

— Considera definitivas as conclusões?

— Acho que não cheguei a nenhuma solução. Mas estou encaminhando-me para a equação dos problemas. Os cálculos, faremos juntos.

Honorato teceu elogios pela deliberação de não colocar o carro adiante dos bois e passou a descrever os processos mentais de aceitação dos defeitos sem incidência de mágoa ou de culpa. Devo confessar que, por serem intrincados os conceitos técnicos, não absorvi nem cinco por cento das explicações. Ainda hoje, não fui admitido às aulas no nível da formação pós-graduada, de sorte que vou ter de contentar-me com simples resumo.

Quando os indivíduos percebem a inutilidade do sofrimento para a compreensão dos atos falhos, passam a admitir a hipótese de que tenham perpassado por conjunturas desagradáveis, para compensarem as dores provocadas nos inimigos. Intuem que estejam no caminho certo, tanto que muitos exageram na prática do suplício, imaginando que o sangue possa lavar os crimes. Honorato deu outros exemplos de sacrifícios incruentos: eremitas, vestais virgens, sacerdotes castos. Mais tarde, após muita reflexão, as pessoas, julgando-se quites com os adversários e com Deus, solicitam outra vida e quedam admirados de terem de sofrer de novo. Os que dão um passo além põem-se de resguardo contra a utilidade da flagelação e requerem entendimento, acima de tudo. Daqui a necessidade curricular do esclarecimento da lei de causa e efeito, não no sentido da prevenção das conseqüências, mas no da descoberta das causas. Aí é que os sintomas das dores são examinados com muito rigor, pois as vibrações emotivas provocam a energização dos centros sentimentais, onde se localizam as fontes do prazer e do desconforto. Tudo se passa no âmbito da consciência, mas como reflexo das ações e reações, dos impulsos energéticos de boa ou má natureza que se encaminham para o mundo exterior ou que de lá se recebem. Há indivíduos que conseguem colocar carapaça protetora, por não suportarem o sofrimento correspondente ao que provocam nos entes odiados. A partir desse princípio, inúmeras são as fórmulas de despistamento das intenções. O mundo da ciência, no plano espiritual, conhece as particularidades de cada ajustamento, tendo em vista a maior ou menor carga energética aplicada em cada reação e o tipo de cada vibração. Mas esses estudos exigem do pesquisador absoluta isenção emocional, o que somente consegue quem atinja a perfeição de não possuir inimigos declarados, nem mesmo no âmbito dos ressentimentos. Chegaremos todos lá.

Não preciso dizer que Honorato cresceu em importância. Se Mário não queria ser chamado de mestre e meu bisavô era simplesmente instrutor, como deveria apelidar-me a mim mesmo, insignificante regente de primeiras letras?!

— Anime-se, meu filho, porque, há algum tempo atrás, nós não passávamos de humílimas mônadas. E agradeça a Deus possuir inteligência provida de recursos para estabelecer ordens de grandeza. Acredite em mim e compenetre-se de que o saber irá crescendo geometricamente, daqui por diante, se você se mantiver interessado em evoluir. Lembre-se de que a lei do progresso...

— ...está inscrita nos anais da Criação.

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