Oh mar! Quero falar-te baixinho
Sem que os passantes percebam,
Do gemido sacrílego, do erotismo sacro,
Enraizado em mim, iluminado...
Do meu corpo a despencar no precipício
De boca quente, famélica de beijos...
Quero sussurrar às tuas brancas ondas
A canção que docemente me embala
Nas horas de entrega total...
Das minhas mãos retesando os músculos
Dele, deixando-os como corda de viola.
Dos meus dedos, garras afiadas de águia,
Deslizando entre a relva do seu ventre
Para capturar a presa enrijecida, indefesa...
Quero falar-te, oh mar, da dança ritual,
Sobre o fogo ardente do seu corpo,
De vapores dionisíacos, do vulcão adormecido
Em mim, da lava que desintegrou a saudade,
Deixando suas cinzas no lençol branco...
Do braço forte envolvendo meu corpo,
Dominando-o, tombando-o na grama,
Atando-o com os fios do seu desejo,
Arrancando os véus como a forte tempestade,
Em alto mar, arranca do barco as velas...
Quero confidenciar-te, oh mar,
Que meu coração estava à espera,
Deste aguerrido deus do prazer
Que transformou meu sangue em chama
E se ele demora meu corpo reclama
As ondas entontecedoras do seu orgasmo...