A professora das matérias do segundo grau, Ângela, era bem mais jovem que Elvira, não passando dos trinta e dois anos.
Ao contrário da mais velha, Ângela não se interessava em absoluto por nada além do que ministrar as aulas o melhor possível. No entanto, foi ela quem insistiu para que Juvenal assistisse às lições, sugerindo-lhe que trouxesse outros alunos ou alunas para facilitar a aprendizagem e para dividir os gastos, já que cobrava ainda mais do que os colégios mais caros.
Juvenal apostou no esquecimento da proposta e não se mexeu no sentido de trazer alguns colegas para a irmã. Entretanto, afiançou que o faria, renovando duas ou três vezes a promessa. Enquanto isso, seis meses haviam transcorrido sem que mudasse a situação.
Ângela era formada em Ciências Sociais, mas não tinha dificuldade alguma em executar a programação da primeira série do segundo grau, ministrando com desenvoltura tanto as aulas de Língua Portuguesa, quanto às correspondentes às ciências exatas e biológicas.
Não queria aceitar o encargo das aulas de Inglês, mas, dada a intransigência de Juvenal, para quem ou era tudo ou nada, acabou assumindo-as, precisando estudar para poder vencer os bons conhecimentos da discípula. De qualquer modo, deixou de lado a conversação e encaminhou-se para o estudo de textos literários. A par disso, indicou um curso avançado que Lutécia cumpria no computador, tirando as dúvidas nas salas de diálogos, em que era freqüente, aproveitando-se das horas em que normalmente Juvenal não estava.
Ângela, finalmente, convenceu dois de seus alunos regulares a obterem reforço em suas aulas particulares. Eram pessoas abonadas, de sorte que os pais aprovaram a idéia de imediato, tendo em vista as notas baixas que vinham alcançando.
Na segunda-feira da semana em que se inicia a narrativa, estando Juvenal a assistir a aula, contou a professora que tinha mais dois alunos, demonstrando-lhe que haveria benefício para todos.
Juvenal não disse que sim nem que não. Solicitou informações a respeito de nomes e endereços, postergando a decisão para a quarta-feira.
Ângela aceitou a condição e, na quarta-feira, recebeu o alvará de Juvenal para que trouxesse o rapazelho e a moçoila, sem efetuar ele, contudo, qualquer observação.
Longe do irmão, Lutécia inquiriu a professora a respeito do adiantamento dos futuros colegas:
— Será que não vão atrasar a programação?
— Com certeza vão estranhar o ritmo. Mas eu sei que são inteligentes e você poderá ajudá-los. Não se esqueça de que quem ensina aprende bem mais depressa.
No dia seguinte, às quatorze horas, apresentaram-se João Alfredo e Norma, jovenzinhos de quinze anos, franzinos ambos, cerca de vinte centímetros mais baixos que Lutécia. Eram bastante tímidos, nem parecendo pertencer à esfuziante juventude atual.