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Erotico-->31. JUVENAL SE SENTE ACUADO -- 29/04/2003 - 06:32 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Deixamos Juvenal diante da multidão dos colegas em debandada, após as aulas.

Estava, evidentemente, desejoso de ser abordado por algum estafeta dos desconhecidos patrões, mas a expectativa se baldou, como também não havia policiais aguardando por ele, nem se via o bedel que o guiara na saída.

Pareceu-lhe ver o gaiato batedor de carteiras, mas o rapazelho escafedeu-se ao longe, sem deixar de voltar-se várias vezes para saber se estava sendo observado.

Instintivamente, Juvenal colocou a mão sobre o peito, onde estaria o coldre, desconfiado de que poderia ser cercado por companheiros do mequetrefe. Sentiu-se sozinho e isolado.

Ficando deserta a entrada do estabelecimento, apenas com os transeuntes eventuais da cidade populosa, considerou o moço que estava na hora de ir para casa.

Dirigiu-se ao ponto de ônibus, não demorando para chegar a condução.

Acomodou-se num lugar vazio no fundo do coletivo, ao lado do corredor, tendo ao lado um senhor de terno e gravata, puído paletó e amarrotada camisa, a demonstrar que era um desses pobres empregados de escritório ou pequeno servente administrativo do governo.

O movimento de subida e descida de passageiros interessou-o, no sentido de perceber quem poderia estar metido em encrenca, como ele, e quem demonstrava autodomínio e disciplina de gestos e de reações fisionômicas, sem aparentar o costumeiro temor da maioria, como várias mulheres que seguravam firmemente as bolsas, olhando ao derredor, a escrutinarem a possibilidade de entrevero.

Recordou-se das crônicas policiais diárias com que os jornais impressos e televisivos impressionam a comunidade, acrisolando o medo nos corações dos concidadãos. Especialmente, via-se, dentro da imaginação, às voltas com dois ou três assaltantes armados invadindo o ônibus e encostando revólveres ou punhais nas cabeças e nos corações das pessoas, exigindo carteiras, relógios, jóias ou quaisquer objetos que pudessem carregar, sem despertar a atenção dos eventuais guardas no passeio público.

Meditou sobre sua reação da manhã e temeu que, em circunstâncias desfavoráveis, poderia receber um balázio pelas costas, sem mesmo realizar um movimento de autodefesa ou de intimidação. Muitos casos conhecia de gente precipitada que desafiara o poder armado e cujas vidas foram desperdiçadas por mesquinhas posses.

“Haverá alguma força íntima que justifique uma atitude heróica? Que prêmio pode receber no etéreo quem, inocentemente, tivesse acreditado que teria condições de subjugar os bandidos?”

Esses pensamentos desencadearam lembranças da mais negra atividade em favor da manutenção do tráfico de que, até a bem pouco tempo, fora o arrogante chefe. Brincou com as faíscas que saíram da boca das armas e considerou justificada a violência. Quando se lhe apresentaram à memória o pai e a irmã, levantou-se e acionou a sineta, pois havia chegado ao ponto anterior àquele em que sempre saltava.

Imediatamente, integrou a atenção ao ambiente, a ver se conseguia situar-se em relação aos acontecimentos. Não precisou de muita percepção para reconhecer que havia desusado movimento naqueles quarteirões. Algumas pessoas conhecidas olhavam para ele de forma diferente, como se estivessem curiosas quanto às reações renovadas, em confronto com as tragédias domésticas que enfrentara.

Em lugar de entrar pela porta da frente, tomada por pequena aglomeração, deu a volta no quarteirão anterior ao de sua casa, ganhando os fundos por onde Francisca e sobrinhos entravam. Por precaução dos tempos de boca de fumo, trazia as chaves de todas as portas, não lhe estando, portanto, vedado o acesso ao interior do terreno por um portão lateral.

Ouvindo vozes estranhas no prédio principal, refugiou-se nos cômodos dos empregados, onde se deparou com uma desarrumação total. Logo concluiu que haviam sido vasculhados, preparando-se para as possíveis descobertas das irregularidades dos seguranças.

De onde estava, podia observar sem ser notado, de modo que ficou alerta para as pessoas cujas vozes não reconhecera.

Nem se haviam passado cinco minutos, logo lhe apareceram Dona Margarida e duas jovens, entabulando conversação em vozes alteradas. Notou que uma das moças se opunha a algo que a mais velha considerava plausível.

Dirigiam-se elas para as casinhas dos fundos, ficando o rapaz numa situação dificultosa, não sabendo como justificaria sua presença ali, caso viesse a ser descoberto. Felizmente, as três se voltaram para o puxado escondido pelo muro, ao lado da piscina, onde estavam os petrechos de ginástica, e desapareceram dentro da casa, com certeza tomando conhecimento do serviço que deveriam realizar.

Aproveitou-se Juvenal para dirigir-se para a porta da cozinha, de onde elas haviam saído, ficando paralisado por instantes ao se deparar com uma bacia cheia de panos sujos de sangue, ao lado do lugar que ele imaginou ter sido onde os cães haviam atacado a única empregada que lhe restara: Francisca.

Recuperando a consciência do momento, entrou para a cozinha, onde sentiu um odor de comida bem diferente daquela a que estava habituado. Havia panelas fumegantes sobre o fogão apagado. Levantou as tampas e avaliou o capricho da refeição. Gostou de tudo, principalmente de um pimentão recheado, que ameaçava experimentar com a ponta de uma colher, quando assomou à porta interna a figura de Macedo, que acabara de chegar e que vinha em busca de Margarida, pois queria saber o paradeiro do patrão.

Ambos se surpreenderam mas não deram demonstração, largando Juvenal a colher, caminhando em direção do outro para cumprimentá-lo, buscando não ser efusivo, convidando-o para almoçar e perguntando-lhe sobre o estado da empregada atacada pelos cães.

— Você não ficou sabendo que ela faleceu?

— Quem faleceu? Francisca?

— Sim.

— Que é que Tadeu estava fazendo que não conteve os cães?

— É o que iremos descobrir, meu jovem. Dona Margarida assumiu o emprego e seu tio não se encontra aqui. Você está disposto a responder a algumas perguntas que preciso fazer?

Juvenal considerou a situação e respondeu:

— Claro que sim. Mas nós poderíamos almoçar primeiro. As criadas novas estão começando hoje e me passou pela cabeça que a vítima poderia ter sido uma delas.

— Que providências você vai tomar em relação à falecida?

— Esses são cuidados de meu tio, que representa a família e que me defende oficialmente.

— Você não está sendo acusado de nada.

— Nestes casos, o povo sempre acha que o dono dos cães é o assassino. Disseram-me que eles foram sacrificados. Agora vou ter de conseguir outros: a casa precisa de proteção. Mas eu acho que Tadeu nem vai mais querer continuar neste emprego. Era sobre isto que o senhor queria conversar comigo?

— Eu prefiro deixar para depois do almoço.

— Então, vamos para a sala.; preciso mandar Dona Margarida nos servir.

Ao passarem pela sala de jantar, notaram que a mesa estava arrumada só para uma pessoa.

Macedo ficou na sala de estar, enquanto Juvenal embarafustava escada acima, fechando-se no banheiro, precisando recompor as idéias. Achava que o investigador deixara no ar certa sugestão de que suas reações não combinavam com o sentimento de quem enfrenta uma tragédia em sua própria residência. Resolveu tomar um banho frio para refrescar a cabeça.

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