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Erotico-->43. O RESULTADO DOS EXAMES -- 11/05/2003 - 07:42 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

De posse de todos os envelopes, apresentou-se Juvenal ao Doutor Moacir. Este abriu um a um e cuidadosamente fez a leitura de cada análise, sem demonstrar na fisionomia se lhes eram de agrado ou não. Cada nova diagnose era cotejada com as anteriores, de forma que se elaborava o quadro clínico do paciente.

Após percuciente exame da situação, Moacir foi incisivo:

— Não existe nenhuma formação que se possa considerar maléfica, nem tumor, nem edema, nem coágulo. O seu cérebro está intacto, estruturalmente. No entanto, existem certas contagens preocupantes em seus exames de sangue. Você será capaz de me acompanhar uma explicação científica?

— Não, doutor. Meus conhecimentos se resumem ao que se pode absorver no segundo grau. Se o senhor me pedisse para compreender a linguagem jurídica, até que eu poderia acompanhar um pouco, tendo em vista que venho lendo algumas obras deixadas por meu pai.

— De qualquer modo, posso dizer-lhe que é admirável que você tenha tido o discernimento de procurar auxílio médico, uma vez que o mais provável seria fechar-se em si mesmo, já que não existem os estímulos químicos da endorfina (proteínas e hormônios). Você não deve ter nenhum prazer na vida. Acredito que tenha muitas preocupações, sem válvulas de escape. Tudo o que lhe aconteceu ultimamente, conforme você me contou (e isto está também nos exames), não podia afetá-lo. Ao contrário, até poderia representar-lhe uma espécie de alívio, já que as pessoas que morreram e aquelas de que você se apartou espontaneamente deixaram de lhe ser um peso. Se você estiver de acordo com a minha descrição, haverá de aceitar o tratamento que lhe vou propor. Quero ouvi-lo a respeito.

Juvenal não esperava uma descrição tão perspicaz. Contudo, resolveu não responder de imediato, preferindo esclarecer uns pontos que não lhe estavam totalmente claros:

— Doutor, trata-se de uma doença?

— Sem dúvida. Você está ameaçado de esquizofrenia, ou melhor, os sintomas desse tipo de perturbação estão muito claros, embora o estado ainda não possa ser considerado grave.

— As suas conclusões são totalmente baseadas nos exames clínicos?

— Absolutamente, não. O seu comportamento, conforme suas respostas às minhas perguntas e as que você deu ao preencher os formulários, demonstra que sua inteligência é bem aguda, enquanto seu nível de reação emotiva está muito aquém da normalidade.

— Não se trata de uma configuração especial de personalidade?

— É isso mesmo: personalidade esquizóide. A esquizoidia é um tipo de constituição mental de acentuada tendência à solidão, insociabilidade, introspecção e má adaptação à realidade exterior.

— Existe tratamento?

— Você não respondeu à minha pergunta.

— Eu nem sempre fui assim. Ultimamente é que estes fatores estão aumentando. É como se o senhor estivesse me revelando exatamente o que se vem passando comigo nestes últimos anos, mais especialmente desde que minha mãe me abandonou. Um pouco antes de meu pai ser morto, eu já estava bastante perturbado. Depois da morte dele, foi como o senhor falou: eu senti uma espécie de alívio. Quando minha irmã morreu, eu estava de novo cheio de tensão. Agora, em muito menos tempo, as mesmas sensações de impotência (não sei se essa é a melhor palavra) estão me obrigando a agir de modo a apagar completamente o passado. Se o senhor quiser saber, eu não lhe contei tudo, mas o que eu não pude dizer-lhe confere ao seu diagnóstico muito maior proximidade com o meu modo de ser. Acho que respondi.

— Melhor impossível. Então, eu devo dizer-lhe que não existe cura definitiva para o seu caso. Entretanto, preste atenção, nós podemos diminuir ao mínimo os efeitos daquela ausência de ingredientes neurológicos positivos, porque os medicamentos específicos estão em fase adiantada de desenvolvimento. Agora vem a parte mais crítica: você precisará internar-se numa clínica psiquiátrica, onde deverá ser acompanhado, durante um bom período, por uma equipe de médicos e enfermeiros, uma vez que os exames têm de ser diários. Qualquer recaída e você poderá transformar-se num assassino insensível, capaz de se voltar até contra as pessoas mais íntimas.

— Tipo?...

— Desses que mandam bombas pelo correio ou entram em recintos públicos matando e fazendo reféns.

— Quer dizer que, em lugar de desenvolver o amor e a amizade, o meu cérebro está voltado para o ódio?

— Se você quiser colocar as coisas nesse pé, sim. Não é essa a linguagem médica.

— Pois a perspectiva de internação não me parece de todo ruim. De certa forma, o isolamento controlado é sempre preferível à minha tendência de me desfazer de todos os vínculos afetivos.

— Diga-me sinceramente: existe alguém a quem você possa estar ligado pela emoção?

— Existe o meu tio, mas mesmo ele está tornando-se um problema para minha liberdade, já que controla os bens deixados por meu pai e que foram reivindicados por minha mãe.

— Quer dizer que ele está em condições de assinar os papéis de internação, apesar de você estar com dezenove anos?

— Pensei que bastasse minha permissão.

— Sendo ele advogado, pode consultar todas as leis e anuir com plena certeza do que está fazendo. O mesmo talvez não se possa dizer de você, uma vez que está na condição de paciente.

— Não é uma questão de dinheiro?

— É uma questão de responsabilidade.

— Quando começo o tratamento?

— Imediatamente. Já vou passar-lhe a primeira receita. Assim que os remédios chegarem, você receberá as doses iniciais. Em seguida, será levado de ambulância para o hospital, onde ficará sob observação. Conforme for o caso, teremos de levá-lo para os Estados Unidos.

— Eu não pensei que o caso fosse tão sério.

— Ainda não é, mas, quanto antes você receber a medicação, tanto mais cedo receberá alta.

— Vou ligar para o meu tio. Tenho a certeza de que ele virá correndo, porque uma internação deste tipo, com certeza, dará ao advogado de minha mãe mais um argumento jurídico para fundamentar seu pleito.

— No entanto, meu jovem, a sua saúde mental, caso não se interne, irá deteriorar-se a ponto de não oferecer mais condições de equilíbrio. Ligue já para o seu tio. Vamos formalizar o quanto antes a documentação.

Foi assim que, de um dia para o outro, Juvenal se viu recluso numa clínica, sob a ação de alguns produtos que o deixavam zonzo a maior parte do tempo, impedindo-o de raciocinar com clareza sobre as questões que o vinham preocupando. A única inquietação que mantinha, entretanto, era com o cofre em que depositara sua fortuna. Quanto àquela gente que lhe mandava a mesada, nem lhe passava pela cabeça, pela certeza que adquirira de que eles estavam perfeitamente a par de tudo o que lhe vinha acontecendo.

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