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Erotico-->6. FELÍCIA -- 03/06/2003 - 06:43 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Ignorava Lourival que Felícia tivesse morrido. Na verdade, deixara-a muitíssimo mal, em trabalho de parto, e jamais voltara para obter notícias. Fora assim que se transferira para o kardecismo, levado pelos negros temores de que os guias da umbanda iriam persegui-lo.

Ouvira dizer que as mesas brancas protegiam os mais fiéis e estudiosos, o que não era fácil de encontrar na macumba.

Degenerara o relacionamento com a família de Felícia, à vista das pressões dos cunhados, mas não se desapegara emocionalmente da criaturinha que o amava com muita força.

A gravidez não fora programada, é claro, mas o nascituro seria muitíssimo bem-vindo, conforme os prognósticos dos guias, em alegre manifestação na data comemorativa de Cosme e Damião.

— Se meu querido amigo quiser falar comigo, repetiu Felícia com a costumeira e meiga entonação, saiba que preciso retirar-me logo...

Lourival estava extasiado com a presença da queridíssima criatura. Era ela mesma, com todos os traços bem demarcados, mais velha um pouco, mas com o trigueiro da pele ainda mais atraente.

Tentou aconchegá-la a si, mas não foi possível tocá-la. Tinha o sentido da visão, mas o do tato estava bloqueado.

Lágrimas começaram a rolar pela face, perceptíveis e quentes. Não se lembrava da última vez que o fizera por amor, pois as emoções não o conduziam pelas vibrações sentimentais. Amava ou amou muito, todavia, as sensações morais pareciam embrutecidas.

Não disse nada, acreditando que o chamado fora suficientemente claro como solicitação de ajuda. Olhou com olhos embaciados para o sorriso gentilíssimo e estendeu as mãos, juntando-as como em prece. Rezaria para a pequena como o faria para a Virgem.

Essa visão foi duradoura e demorou para desfazer-se.

Durante esse tempo, parecia-lhe que informações lhe adentravam a mente, como por influenciação telepática. Seria a linguagem universal do etéreo? A verdade é que ficou sabendo que Felícia vivia em colônia do tipo de “Nosso Lar”, descrita por André Luís. Estava em viagem socorrista e lhe fora dado atender ao chamado do amigo. Confortava-o a lembrança da atenção? Pois mantivesse a atitude confiante nas forças da espiritualidade, que iria ser resgatado quando merecesse...

Quis saber da criança. Sem resultado. Quis saber da família. Também. E os pais dela? Nenhum informe. Será que não percebia a falsidade dos interesses? Será que não adivinhava que desejava conhecer as acusações dos outros seres para responder exatamente às questões, evitando toda a extensão dos malefícios praticados? Será que o querido irmão iria permanecer em estágio de sofrimento, por não ser capaz de enfrentar a realidade apontada pela consciência?

Não esperasse muitas respostas, pois a irmãzinha não obtivera autorização para falar francamente, o que lhe iria fazer refletir, talvez, as imperfeições, pois não adquirira total desprendimento em relação às antigas idéias de domínio através do amor...

Pensou que as informações de há muito haviam cessado. O resto era produto da imaginação, com certeza. Afinal de contas, Felícia não era espiritualmente tão evoluída, não conhecendo sequer os livros de Allan Kardec...

Chegou-lhe à mente a idéia de que ninguém antes do Codificador o conhecera e nem por isso deveriam ser jogados na penumbra do Limbo ou nas chamas do Inferno. Recordou-se dos tempos em que os padres falavam que todos os pagãos, antes de Jesus, estavam reunidos em local sem dor e sem felicidade. Achava estúpido, mas, no espiritismo, havia encontrado muitos que pensavam exatamente assim relativamente a Kardec.

Analisou os pensamentos, estabeleceu o nível de frigidez em contraste com as emoções de pouco antes e desejou ver em que condições estava o cadáver. Abaixou-se, apanhou o cordão, sentiu resistência, e se pôs de volta para o mau cheiro da podridão. O féretro estava intocado e as condições do terreno como se não houvesse passado o tempo. Adentrou o caixão e teve longo estremecimento perante a visão do corpo, do “seu” corpo...

— Santo Deus! O tempo refluiu! Não é possível que não haja qualquer indício de deterioração!

Realmente, diante de seus olhos admiradíssimos, o defunto parecia tão-somente um pouco lívido, como se a morte mal e mal o houvesse visitado. Apalpou a pele para sentir a temperatura. Estava suavemente tépida. Impossível! Quando foi enterrado, fez o teste e havia absoluta rigidez cadavérica...

Começou a desfalecer, porém, com medo de adentrar o corpo, desejou sair imediatamente dali.

Acordou estirado sobre a tumba. À sua volta, alguns seres misteriosos sorriam para ele. Quem seriam? Ameaçou falar alguma coisa, mas percebeu que voltara a estar sozinho. Chamou aflitivamente por Felícia, mas, desta vez, não obteve resposta.

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