Quase todas as tardes, quase pisando a noite, caminhava até a casa de Estela, respirando com certo temor e excitação contida, aquele cheiro de menta e cravo do ar, fumaça de lenha molhada e cheiro forte, inconfundível, de cavalos e vacas. A noite já o envolvia, quando chegava ao portão da pequena casa. Como todas as moradias daquela quadra e do bairro, era de ma-deira. Estava um pouco inclinada para o lado e transpirava pobreza. Ele não se importava.; estava ali por Estela e nada mais lhe interessava. Queria beijá-la e tê-la, desfrutando ao máximo aquelas horas que passavam juntos.
A mãe da garota os observava de longe. Eles permaneciam sentadas na sala, falando e conversando assuntos que não os motivava muito. De repente, ele se levantava e dizia que estava na hora, que tinha que levantar-se cedo, pela manhã. A velha se alegrava. Sua vigília havia terminado e podia ir tranqüila para a cama.
Estela o acompanhava até o portão. Procuravam a parte mais escura para iniciar as despedidas. Ele a beijava demoradamente e ia aumentando a pressão. Ela resistia, embora sem muita convicção, enquanto as mãos do rapaz entravam por debaixo da roupa, desabotoavam o “soutien” e apoderavam-se dos seios e imediatamente iniciavam o caminho para baixo, até as pernas, escorregando para baixo da cintura, alcançando a suavidade ardente das pernas morenas e a umidade tentadora do sexo feminino. Ela apertava as pernas, porém , a mão cruel, com seus dedos mágicos já estava ali e começava o glorioso ritual.
- Não ! ... gemia ela, porém se entregava novamente e cada vez mais.
Determinado e preciso, ele a encostava contra o muro, baixo e extremamente prático, e a libertava da prisão que era sua calcinha e com o seu sexo, que era a arma e instrumento de tortura e prazer a abria, a levantava, fazendo-a voar, gozar, e devolvia-a à terra como num passe de mágica. Rápido e apaixonado, a levava à loucura e a fazia feliz, apesar do sentimento de culpa que crescia em sua alma.
Muitas vezes, repetiram e inventaram gestos, se beijaram, morderam, beberam de todas as fontes e de todos os rios.; sempre a hora da despedida, em noites quentes ou completamente geladas. Ele sempre a deixava com uma mancha de sêmen na calcinha, uma dúvida imensa na consciência e um ar de felicidade vibrando em todas as células.
Mil vezes se beijaram e se amaram, quase em silencio, excitados pela paixão juvenil e pela presença do perigo constante.
Aquela noite parecia especial. A primavera era morna e eles estavam com roupas leves. Ela recendia a talco e sabonete. Estava deliciosamente excitada. A mãe se retirou cedo, queixando-se de uma forte enxaqueca e eles correram para o portão. A rua estava deserta e escura como nunca. Ele sentou-se no muro, esperando um beijo, uma carícia. Estela, num gesto impensado e desconcertante se aproximou, abrindo-lhe a bragueta e apoderou-se do sexo do rapaz e o introduziu em sua boca. Nunca havia feito alguma coisa parecida. Ele, entre surpreendido e transtornado, deixou-se envolver por aquela onda perturbadora. Ela beijava, mordia, acariciava e sugava, beijava novamente, envolvendo-o com os lábios macios e carnudos. Levantando-se rapidamente, ela deixou cair a calcinha e sentou-se sobre o rapaz e, deixou-se penetrar cavalgando-o em uma louca carreira até os limites da consciência, mordendo-se para não gritar.
Quando terminaram, olharam-se surpreendidos e ela decidida, iluminada repentinamente de plena felicidade, quis beijá-lo. Ele, no entanto, esquivou-se, com um a máscara de nojo desenhada no rosto.
-Porquê ? -perguntou Estela.
E ele, olhando-a nos olhos e sacudindo as calças, como se quisesse livrar-se de algo imundo, respondeu à queima roupa:
-Por que não beijo putas !