Exemplo de um anúncio em estilo "pique de jornalista":
"Não é a melhor escolha. Você não merece essa sorte. Muito menos seus contos! Permita que todos possam ler sua obra. Sim! Sua obra! Seus escritos! Seus contos! Queremos ler o seu livro! O nosso livro! O livro dos usineiros e usineiras contistas!"
O "pique de jornalista", estilo literário surgido no início do século XXI, cujo catedralesco prógono foi Clichésio Bobeira, trouxe inúmeras e profundas mudanças à forma modernista. Antes de transmutar-se em jornalista e acrisolar a obra em que há anos ruminava, Clichésio encabeçou (ainda que algumas vozes dissidentes o acusassem de não ter cabeça) um latifúndio na província de Usina, circunstância que lhe possibilitou granjear duas inolvidáveis alcunhas aristocráticas: "Dom Kless" e, posteriormente, já sob influência de um certo classicismo que, no início do século XXI, propagava-se como peste por aquelas plagas, "Dom Klesyus."
Alguns anos depois, com o advento do estilo Ujeca, cujos precursores ilustres foram Viniguima e o próprio Ujeca (algumas vozes dissidentes os consideravam a mesma entidade), o "pique de jornalista" quedou-se a sofrer os efeitos do desprezo da comunidade erudita e os constrangimentos da impiedade e ignorância humanas em geral. Até mesmo Mingus, proeminente figura do grupo vanguardista dos cordelistas de apartamento, chegou a dizer: "Há que se separar o joio do trigo", evidenciando que os textos em estilo pique, outrora tão elogiados por ele próprio, contavam agora entre os joios.
Harold Bloom considera que a aceitação da hipótese fusionista, qual seja, a de que Viniguima e Ujeca foram uma só e mesma pessoa, traria inestimáveis subsídios para a análise das aporias que cercam os estudos da pós-vida do legado de Fernando Pessoa. Infelizmente, Bloom limita-se a analisar a hipótese nos quadros de sua teoria da "angústia da influência", negligenciando, assim, os aspectos mais ricos da fusão Viniguima-Ujeca.
No final da vida, já decadente e esquecido, Clichésio foi acusado de desdobrar-se em Professor Sabino e Francisco Ribeiro Lopes, mas o testemunho salvador de sua fiel discípula e inquebrantável admiradora Shirlei Purpurina, também ela habitante da província de Usina, principalmente das esquinas, terminou por render-lhe inocente aos olhos do vulgo.
Fonte: História de Arte, vol.III, Ed. Esquina da Usina, org. Gustavo Patere, tradução direta do dialeto Ujeca: Gustavo Patere, 1a edição, Província de Usina, 2070, p. 768.