Demóstenes, para mim - afora Jesus, o nazareno -, é o maior orador de todos os tempos (outros, é bem verdade, preferem Cícero). Sabe-se que mesmo ele se viu em apuros com a indiferença de seus conterrâneos ante a necessidade de ouvi-lo e debaterem suas idéias em questões fundamentais para os interesses daquela comunidade. Ao perceber que a maioria naquela assembléia ameaçava ir embora, Demóstenes recorreu à imaginação criativa, mas sem apelos. Obteve o silêncio de todos com a promessa de lhes contar uma história deveras interessante. Disse então: “Certo jovem, precisando ir de sua casa até Megara durante o auge do verão, alugou um burro, pondo-se a caminho. Quando o sol ficou a pino, ardentíssimo, tanto o moço como o dono do animal alugado tiveram vontade de sentar-se à sombra do burro, e começaram a empurrar-se mutuamente, a fim de ficar com o lugar. Dizia o dono do animal que apenas alugara o burro e não a sua sombra, e o outro afirmava que tendo pago o aluguel do burro, pagara também o de sua sombra, pois tudo quanto pertencia ao burro lhe fora alugado com ele...”
Neste ponto da narrativa, de inopino, teatralmente, fingira querer se mandar. Não deu outra, protestos explodiram de todos os lados exigindo que Demóstenes concluísse a história. Sem hesitar, seguro como sempre, olhando firmemente o auditório, prosseguiu: “Atenienses! Que espécie de homens sois, que insistis em saber a história da sombra de um burro e recusais tomar conhecimento dos fatos mais graves que vos dizem respeito?”
Pois é, amigo, quantas vezes não caímos nesses mesmos equívocos!? Não são poucos os contadores de estorinhas de sombras e burros e o Brasil verdadeiro que se dane.
Obs. Repito: posto como "frases" por não haver uma categoria mais adequada - REFLEXÕES - por exemplo.