Quem anda pelas ruas de uma grande cidade, está sujeito a dissabores vários.
Há não muito tempo, num dia de um terrível calor paulistano, eu, suarento, parei de caminhar e sentei-me no último lugar vago do único banco que estava à sombra, numa pequena pracinha arborizada.
À minha frente, um mendigo bêbado ocupava sozinho o banco que restava, mas seu aspecto era tão deplorável que ninguém ousava sentar-se ao seu lado.
Então uma jovem, belíssima e bem vestida mulher aproximou-se e vendo que não havia mais lugares, sentou-se no mesmo banco do mendigo, o mais afastada possível dele.
O Mendigo pigarreou quando viu aquele monumento ao seu lado e começou a procurar algo nos bolsos rotos de seu paletó em frangalhos. Encontrou um bombom todo despedaçado. Ele o reconstituiu dentro do papel e achegando-se mais para perto da moça, disse: “A senhorita aceita?”
A moça afastou-se ainda mais do mendigo e lhe dirigiu um olhar de nojo ao notar as moscas que esvoaçavam ao seu redor.
Mas o sujeito não se deu por vencido e começou novamente a procurar algo nos bolsos. Encontrou um cigarro todo quebrado, que, cuidadosamente alisou até que o mesmo adquirisse uma aparência normal. Então, achegando-se ainda mais para perto da moça, ofereceu-lhe o cigarro e disse: “A senhorita fuma?”
A jovem afastou-se mais ainda, acomodando-se no limite absoluto da beirada do banco, enquanto virava o rosto para o outro lado.
Passaram-se alguns minutos e o mendigo parecia pensar em alguma coisa. De repente, ele cutucou os ombros da garota: “Ei moça!” disse ele numa voz empastada.
A jovem voltou-se para o mendigo, já com a paciência no limite. “O que é agora, seu chato?”. E ele respondeu: “Trepar, nem pensar,né?”