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Humor-->PIOR IMPOSSÍVEL -- 21/11/2005 - 09:46 (JOSÉ RICARDO ZANI ) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
PIOR IMPOSSÍVEL

Falar de coisas boas e bonitas é bom, é fácil. Mas falar de coisas desagradáveis ou ruins -- que fazem parte dessa vida -- é bem mais difícil.

Por exemplo: alguma vez na vida você teve de tomar óleo de fígado de bacalhau? Se você é das gerações mais “tradicionais”, pra não dizer das mais antigas, certamente já lhe enfiaram goela abaixo uma colher dessa vitamina repugnante, cujo gostinho costuma ficar na boca por alguns anos!

Mas tem coisas piores. Sopa de jiló, por exemplo. Ou, quem sabe, doce de jaca. E suco de pequi? Vai um suflê de coentro? Putz, isso é horrível até como tempero... E beijo em boca de alho cru, já provou? Que tal um carinho com mãos cheirando a água sanitária??

Achou tudo isso ruim? Calma, tem coisa pior. Uma vez, um dentista desumano remexeu o motorzinho num dos meus dentes da frente até quebrar a broca. Sem anestesia. Como eu tinha apenas uns oito anos e era um menino bonzinho, não fiz (nem faria) o que certamente você gostaria de fazer com o sacana desse dentista.

Se pensa que não há nada pior do que tudo isso, acredite, existe sim. Sou testemunha de que nada disso é tão ruim quanto aquilo que vivi um dia desses.

Eu estava instalando um aparelho de TV em casa. Coloquei pilhas no controle remoto, conectei o cabo da antena, liguei o fio na tomada e comecei a testar. Conferi um canal, passei para o outro e fui mudando.

De repente, enquanto mexia naquilo tudo, levei um tremendo choque!!! Sim, fui vítima de um choque. Não foi de 110 V nem de 220 V. Foi um choque de cadeira elétrica, daqueles de arrepiar os pêlos e cabelos.

Aconteceu o seguinte: um dos canais de TV apresentava um programa que tinha, como principal atração do dia, uma tortura à humanidade, uma agressão ao bom-gosto, uma Banda que nem vou citar nominalmente...

Se você não sabe o que ou quem é, nem queira saber. Tenha certeza de uma coisa: talvez não exista nada pior num palco ou tela de TV e cinema.

Jamais permita que seus filhos falem nessa tal banda que não é difícil identificar, pois sua vocalista perde o fôlego no meio das interpretações e, por não ter voz alguma, em vez de cantar, apenas geme como uma franga desnutrida, insistindo com músicas cujas letras são todas repetições umas das outras, com pequenas inversões na colocação das palavras.

Posso dar um conselho? Quando você ou sua família precisar de uma faxineira, porteiro do prédio ou lavador de carro, pergunte antes se ela ou ele tem entre seus hábitos ouvir essa bandinha de forró de enfermaria. Se a resposta for sim, pense três vezes... Faça isso pelo seu bem, pelo bem do empregado, pelo sossego do síndico e pela paz entre os povos.

Ver ou ouvir essa banda é pura tortura. É pior que dentista quebrando a broca no dente da frente !

Aquilo é um desastre total. Mas não um desastre com cenas espetaculares, como o incêndio das torres gêmeas. É um desastre anêmico, afônico, patético... O nome dessa coisa poderia ser Banda Chatíssimo. Ou então Tragédia no Sertão... Se juntar os instrumentos, coreografia, repertório, caixa velha, a falsa cantora, seu figurino "bordel-falido" e o rebolado boca-do-lixo, tudo não vale uma arruela!

E, nas próximas eleições, examine as propostas dos candidatos. Vote naquele que prometa lutar para tornar obrigatório, nos restaurantes, uma área isolada, bem distante, exclusiva para quem deseja se auto-flagelar ouvindo o fiasco dessa triste banda, mais ou menos como hoje é obrigatório em relação a fumantes e não-fumantes...

Nada pessoal contra os esforçados integrantes do grupo, nem contra seus admiradores – que são muitos, eu sei.

No fundo, estou aqui verbalizando uma indignação mercadológica. Como podem certos grupos ficarem famosos e venderem tantos discos? Como pode uma banda de forrozinho mal acabado e mal apresentado vender tanto, talvez mais do que gente do calibre de Tom Jobim, Arthur Moreira Lima ou, pra citar nomes mais populares, Djavan ou Jorge Vercilo?

Pra mim só tem uma explicação: cada mercado tem a mer... cadoria que merece.
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