Assim que o presidente Jorge Sampaio considerou o momento político azado para dissolver a Assembeia da República, desde logo colocoquei minha massa encefálica a raciocinar e presumi que a almejada solução política estava na esperança que se abria na pessoa de José Sócrates, recentemente eleito secretário-geral do Partido Socialista. O candidato a primeiro-ministro apresentou-se com um programa que prometia implantar uma política imediatamente favorável aos mais pobres, aos idosos carenciados e criar 150 mil empregos, entre outras medidas que se propunham suster o freio-desfreio económico do governo antecedente. Claro, erguendo os meus próprios miolos ao cérebro do senhor engenheiro, não hesitei: eu e milhares de portugueses como eu contribuímos para a primeira maioria absoluta outorgada ao PS desde o 25 de Abril. Num ápice, numa descarada emenda que deu completamente cabo do título ao soneto, o meu conteúdo mental foi-se desviando, desviando e caiu sem óbice na sanita da decepção, espécie de prodigiosa soltura embalada no conto do vigário. Quem poderia imaginar que a técnica do "embrulho" tinha chegado tão alto?!...
António Torre da Guia |