Meu confrade, Jacornélio M. Gonzaga, escritor, jornalista, sociólogo e membro da Academia Jacorneliana de Letras, me confidenciou que o Rei Ruiz Robalo l, o Beócio, insatisfeito com o andamento da política local cogita criar mais uma Secretaria Especial.
Robalo tem criado um número excessivo de Secretarias empregando compadres, comadres, que perderam seus mandatos, e companheiros sem nenhuma qualificação em administração pública, com o único objetivo de aparelharem a máquina estatal de Jacornelândia.
São tantas as Secretarias criadas, que os cidadãos de Jacornelândia nem lembram mais para que servem. Com certeza a criação de mais uma Secretaria, neste momento tão delicado que vive a política nacional, não somente seria fundamental para o ambicioso projeto do Rei Robalo, de perpetuar-se no poder, mas também para salvaguardar interesses futuros do atual governo.
Robalo pensa em criar a Secretaria Especial dos Serviços de Proxenetas. Deve haver uma disputa acirrada pela chefia da pasta, considerando o elevado número de candidatos que já executam esta atividade na Corte. Não causaria, também, nenhuma surpresa se do Palácio Real de Jacornelândia, viesse a nomeação de um empreiteiro conhecido que já atua nos bastidores políticos da capital do reino. Não faltariam as más línguas para afirmar que este contaria com o apadrinhamento e indicação do Senador Rolando Lero que ficou nacionalmente conhecido por ter se enrolado até o pescoço em maus lençóis. Rolando Lero ao ser apanhado com a boca na botija teve a ousadia de pedir desculpas aos súditos do reino armando uma tremenda maracutaia com notas fiscais frias produzindo o milagre da multiplicação dos bois no pasto.
O proxenetismo já é prática consumada entre os Senadores de Jacornelândia. A Secretaria Especial dos Serviços de Proxenetas teria como objetivo primeiro, organizar e ordenar oficialmente o agendamento de “visitadoras”. Tais atividades apesar de praticadas rotineiramente, na clandestinidade, não têm caráter oficial, constituindo-se afazeres extra-parlamentares e não indenizáveis pelos cofres reais. Evidentemente que o sigilo e a discrição devem ser fundamentais para a preservação da moral e da ética evitando-se fatos constrangedores como o ocorrido ao Senador Rolando Lero.
A Secretaria Especial dos Serviços de Proxenetas teria como incumbência intermediar os casos amorosos, extraconjugais, dos ilibados Senadores de Jacornelândia, evitando, assim, a utilização de lobistas e ação de chantagistas, prontas a aplicar o golpe da barriga. Esta Secretaria teria seus cargos de confiança distribuídos apenas entre empreiteiros e empresários que gozam de prestígio e da inteira confiança dos nobres da corte. Evidentemente que dentro da prática do toma lá dá cá e do é dando que se recebe, já consagrada nos três poderes do Reino de Jacornelândia, o Politiburo, do Partido dos Trabalhadores locais, engordaria sua debilitada receita, com a criação desses infindáveis cargos onde os ocupantes, devotos de São Proxeneta, ainda fariam o supremo ato caritativo da oferenda do dízimo. Haveria até procissão, com a participação do Rei Robalo e sua Rainha, em homenagem ao dia de São Proxeneta.
Pelo andar da carruagem Jacornelândia já estaria caminhando a passos largos para a implantação de uma Proxenetocracia. Um sistema político bem sugestivo a esta horda que se apropriou dos três poderes do Reino e neles se locupleta liberando suas tendências libidinosas e caráter desprovido de qualquer senso ético e moral.
Robalo seria uma espécie de Pantaleão Pantoja, personagem imortalizado na obra literária de Mário Vargas Llosa, Pantaleão e as Visitadoras. Pantaleão, capitão do Exército peruano recebeu de seus superiores a nobre missão de criar, discreta e sigilosamente, um Serviço de Visitadoras que acalmasse o ímpeto sexual dos soldados peruanos estabelecidos na selva Amazônica. O que deveria ser apenas uma missão discreta acaba se transformando no maior empreendimento de prostitutas do país. No desenrolar dos acontecimentos Pantaleão acaba se apaixonando por uma bela e insinuante visitadora, comprometendo sua carreira e estabilidade conjugal.
Jacornelândia vive o auge da concupiscência onde a realidade se confunde com o delírio. O grotesco e o pícaro caminham de mãos dadas. Porém, a ficção por vezes imita a vida e prega suas peças. E tudo isto, na maior felicidade que mandatos e cargos públicos podem proporcionar a seus ocupantes. A união do útil e o agradável, ao indispensável.
Num parlamento por onde já passaram figuras do gabarito de Rui Barbosa, Afonso Arinos, Joaquim Nabuco e muitos outros ilustres jacornelianos, só resta ao povo de Jacornelândia se deleitar com as atuais figuras picarescas, em sua mais espúria e ordinária composição desde que a Monarquia foi restaurada.
O Parlamento está em pânico e a turma do rabo preso próximo a alucinação. A batata do Senador Rolando Lero está assando e vai salpicar brasa em muita gente boa. Enquanto isto, o tempo passa, e o Conselho de Ética, sem nenhuma ética, protela o julgamento do Senador, um tremendo cara de pau, que continua a se declarar vítima de percalço involuntário e de uma chantagem insidiosa. A chamada teoria da conspiração da alcova. Rolando Lero ainda cantarola a marchinha carnavalesca, daqui não saio daqui ninguém me tira.
O Barão de Itararé estivesse vivo, diria ao Senador:
-“A calcinha não é a melhor coisa do mundo, mas fica bem perto”.
Esqueceu-se o Senador do velho dito popular, que “roupa suja se lava em casa”. Agora é só relaxar e gozar!