Uma banca formada por dois ou três professores primários não demoraria cinco minutos para concluir que Luiz Inácio Lula da Silva é um péssimo aluno.
Não sabe ler nem escrever. Provas de conhecimentos gerais o reduziriam a um colecionador de zeros. Foragido dos estudos desde a mocidade, nem lhe passa pela cabeça perder tempo com aulas.
Acha que diploma é coisa de gente metida a besta.
Não precisou de nada disso para chegar à Presidência da República, vive repetindo a platéias satisfeitas com a federalização da esmola. Por que haveria de precisar agora?
Convencido de que a esperteza e a intuição anulam lacunas e buracos escavados no cérebro pela vadiagem incurável, Lula trai no rosto enrugado pela impaciência o desconforto que lhe causa ouvir, por dever de ofício, informes preparados por assessores.
Nas viagens internacionais, tais resumos agrupam alguns tópicos sobre o país cujo espaço aéreo o Aerolula já sobrevoa.
Um punhado de informações geopolíticas e históricas, e pronto: vai começar o show do intuitivo insuperável.
Ou apenas mais uma desastrosa apresentação do grande circo brasileiro, demonstrou a passagem da comitiva presidencial por Burkina Faso.
Lula ali desembarcou na segunda-feira para protagonizar o que deveria ser o primeiro e mais vistoso ato do giro africano.
Foi um espanto medonho.
Ao pisar na pista, o presidente tinha a expressão confiante de quem já sabia pronunciar o complicado nome da capital - Uagadugu - e aquele sorriso de estrela da festa.
Acabara de chegar o convidado de honra para o seminário sobre o tema Democracia e Desenvolvimento na África.
Ao lado do presidente Blaise Campaoré, Lula caprichou no falatório:
- Se, ao invés de comprarmos pão, tivermos de comprar canhão, e se, ao invés de abraçarmos um companheiro, tivermos de atirar nele, certamente esse país nunca irá se desenvolver, ensinou no meio do discurso.
Lula não sabia que o seminário era só uma camuflagem para a comemoração do 20º aniversário do golpe liderado por Campaoré.
Tampouco sabia que o anfitrião não recorreu a abraços para chegar ao poder. Preferiu matar a tiros, em 1987, o presidente Thomaz Sankara.
O orador não sabia onde estava. Nem com quem estava falando.
Por que Lula aceitara o convite de um assassino que tem recorrido a eleições fraudulentas para manter-se na chefia do governo? Por que topara abrilhantar a celebração da morte? Por que perdera tempo em prestígio com uma ditadura nesses grotões da África martirizados pelo analfabetismo, pela corrupção, pela miséria e pela fome?
"O governo brasileiro considera Burkina Faso uma democracia", ensinou ainda em Uagadugu o notório Marco Aurélio Garcia. "O presidente Campaoré tem se subordinado a eleições livres, fiscalizadas internacionalmente", prosseguiu o assessor de Lula para assuntos internacionais.