Perdeu o sono e ficou entediado na madrugada,
olhando o céu negro de deserto. Acende um cigarro.
Pensamentos vagos o levaram a ex mulher, lembrava da lua de mel.
- Sr Rodrigo Neves, aceita Dona Lúcia como su legítima esposa?
_ Sim. Aceito.
E logo viajam para a praia. Ele queria apenas viver no prazer da mulher
aqueles dias, no total esquecimento do cotidiano
que teria ao retornar.
No segundo dia Lúcia pega o celular e liga para a mãe.
Aquilo o irrita. Sente-se invadido. A mulher fica quase uma hora
no telefone, falando banalidades numa interminável
conversa mesquinha com a mãe,
trazendo a atmosfera do mundo que ao menos naqueles quatro
dias ele queria esquecer. Teve ódio da mulher, ódio da sogra.
Não disse nada. Ficou remoendo aquela raiva enquanto olhava
o mar com as ondas batendo.
Sentia-se diminuido, preterido pela sogra.
Pensara que seria rei de seu reinado, mas a mulher
trouxera toda realidade aborrecida para seu sonho.
Imagine: "a sobrinha está gripada." Que lhe importava?
Que morresse.
Embora vez ou outra trocasse palavras com a mulher no jantar,
queria mesmo era beber aquela caipirinha com gelo, fumando
um cigarro um após outro num prazer compulsivo. Logo estava falando coisas
incompreensíveis e cantando músicas desconexas.
A mulher o olhava com vergonha e ódio, levando-o pelo
braço - "que vergonha meu Deus", remoia-se.
_ Como Voce pode, Rodrigo? Bebado em plena lua de mel?
_ Na linha do horizonnnnnte tem mil sinais - e caia na gargalhada.
Passando pelo mar proferia blasfêmias, ria.
A mulher o olhava, atônita.
Mas ele estava pleno, feliz.
Deitou-se na cama com meia e tudo, para desespero da mulher
que queria po-lo no chuveiro. Em poucos minutos, Rodriguo
cometia o supremo ato irresistivel: vomitar. Parte na cama, parte
no chão. Via pedaços de cebola e salaminho, o gosto de alcool e limão
na boca. Estava vingado.
A mulher morreria sem entender o porque daquele porre, julgando-o
um maldito irresponsável, mesmo hoje estando eles separados, ela
sentia-se uma vítima. E jogara durante o casamento várias vezes
isso na cara dele para humilhá-lo em dias de crise.
Ele, porém, sempre calara que aquele vomito nada mais
fora que sua poética vingança da mulher, da sogra e de toda
maldita conversa que invadiram seu momento de idílio.
A mulher era mesmo muito inocente para pensar que não tivera
nenhuma culpa.