Muitas vezes expressamos frases aparentemente "fora dos eixos” ao conversamos assuntos questionadores e com pessoas a quem desejamos impressionar bem. Trata-se de “atos falhos”, ou seja, verdades pessoais que habitam nosso inconsciente e que teimam em sair mesmo que defendamos tese contrária a eles... Essas frases nos expõem e geralmente nos deixam desapontados com a obviedade da nossa “mentira branca”...
Basta um instante de desatenção e lá estamos a colocar nossas verdades porta a fora, sem nem percebermos o que acabamos de dizer.
O fato se deu quando, em uma reunião familiar, estávamos conversando sobre a necessidade de viver bem e feliz em qualquer circunstância. Para isso, citávamos a Bíblia, os grandes pensadores, os modismos da época. Enfim... Todo argumento era bem vindo.
Meu pai, especialmente, promovia esses debates para que nós - os filhos adolescentes - criássemos gosto pela análise cuidadosa de certos assuntos que devíamos aprender a ver mais criteriosamente.
Era mais ou menos o que hoje chamamos de “tempestade cerebral” ou “brain storm”. E era divertido! Eu, pelo menos, adorava! Acho que veio daí meu gosto pelos questionamentos.
Minha mãe, talvez por mais engajada naturalmente em assuntos mais densos, tinha certa preguiça de ouvir nossas bobagens infantis. Mas participava da reunião e vez por outra a gente olhava para buscar sua opinião e ela já estava dando uma cochilada...
Quando acordava, entrava no assunto como se desperta estivesse e dava seus palpites. E logo voltava a voar para outras grimpas....
Mas, nesse dia, a discussão estava acirrada. Meu pai defendia a economia e ela defendia a tese de não ser mesquinho demais. E nós, defendíamos o nosso interesse de ganhar uma mesada mais generosa!
Entretanto, hoje eu percebo, havia, nos bastidores, uma guerra surda entre meus pais, fruto talvez de um gasto visto por um como desnecessário e por outro como altamente interessante.
O debate seguia caloroso, mas em boa paz. Até que minha mãe se cansou do tema e levantou-se para sair, como que querendo acabar por ali a reunião. E finalizando o seu ponto de vista concluiu sabiamente:
-POIS POR MIM, AJO COMO DISSE O APÓSTOLO PAULO! SOU FELIZ TANTO NA FARTURA QUANTO NA ABUNDÂNCIA!
Ao que meu pai redargüiu na maior calma:
-ASSIM ATÉ EU!....
Caímos todos na risada e a história virou folclore familiar!....