Tenho sempre enfatizado que uma prerrogativa da felicidade é estar desarmado para ouvir e acatar a opinião alheia sem pré-julgamentos. É estar aberto, não só para ouvir, como para discordar, se necessário for, aclarando a compreensão do que foi conversado. Nem sempre ouvimos realmente o que nos é dito, pois já estabelecemos opiniões rígidas e qualquer coisa falada fora do que imaginamos, cria resistência, e a partir daí nada mais se torna compreensível ou aceitável. Com isso, foge-se do objetivo de uma conversa saudável, mesmo que discordante, e perde-se a oportunidade de se acrescentar conceitos novos aos que já temos por conhecidos ou sabidos.
Outro inimigo da boa compreensão é o sentimento de inferioridade, que faz o trabalho de descartar qualquer opinião, por não ter condições de ver questionada a auto-estima.
O caso é que, nem sempre somos compreendidos ou compreendemos o que as pessoas querem realmente dizer, escutando apenas o que se possa transformar e reiterar o medo de ser maltratado ou inferiorizado.
Foi o que aconteceu entre minha mãe e um jardineiro quando minhas filhas eram pequeninas ainda.
As duas estavam com a avó, passando a tarde em brincadeiras, quando minha mãe precisou dar uma saída para ver a quantas estava o bolo que assava no forno. Com medo de deixá-las sozinhas e acontecer algo na sua ausência - mesmo que rápida - ela chamou o jardineiro e pediu-lhe que vigiasse as crianças expressando-se da seguinte forma:
-Por favor, vigie as meninas enquanto dou uma chegada lá na cozinha! E “não tire o olho delas”!
Ele ficou por ali vigiando e, quando minha mãe voltou, mostrou-se ofendido dizendo que queria acertar as contas e deixar o emprego. Ao ser indagado sobre o porquê de tão tempestiva atitude ele respondeu:
-IMAGINE SE EU TERIA CORAGEM DE ARRANCAR OS OLHOS DE DUAS CRIANÇAS! SE A SENHORA PENSA QUE EU PODERIA FAZER ESSA MALDADE, O MELHOR É EU IR EMBORA!
Foi uma peleja explicar que era só uma força de expressão!....