Minha mãe, prá variar, é a personagem mais constante das minhas histórias de família. Acredito que seja pela sua maneira peculiar de observar, ironizar, e ver os acontecimentos com um fino humor.
Outro hábito arraigado nela é tentar conscientizar, principalmente, as pessoas que trabalham para ela. Sempre dá uma chance a quem seja mais simples de, pelo menos, aprender algum ofício para que possa, a partir dali, conseguir um emprego.
Sempre tivemos em casa pessoas sem experiência alguma, em caráter provisório, aprendendo alguma função. Assim que a pessoa pegava alguma experiência era orientada a procurar um emprego e ela dava as boas referências que porventura o “aluno” tivesse.
Foi assim que chegou a nossa casa uma moça da roça, ingênua e sem conhecimento básico do que quer que fosse. Nada sabia sobre higiene, colocar os pratos em uma mesa, servir a comida em travessas. Nada mesmo! E por mal dos pecados ainda era fanhosa! Olha... Só mesmo minha mãe para topar essa parada!...
Como a pobre coitada da mocinha não conseguisse se encaixar, de imediato, em nenhuma função, o único serviço que lhe sobrou foi varrer o quintal. Morávamos em uma casa com quintal enorme, cheio de árvores frutíferas, e a folharada grassava a cada ventania mais forte. Portanto, a menina ficava ocupada o dia todo.
Como era calor nessa ocasião, Antônia – esse era seu nome – suava em bicas enquanto juntava o lixo que ia varrendo. Condoída com a situação, minha mãe resolveu amenizar o mal estar comentando com ela:
- Antônia!... Olha só como essa vassoura é boa... Ela nem cansa, não é?
E a moça, esbaforida de suor e canseira, parou o serviço, passou a mão na testa molhada, olhou para minha mãe e candidamente respondeu, com voz fanhosa:
-É .... dona Wanda.... A VASSOURA NÃO CANSA NÃO!...