Tinha enorme pavor de morrer. Talvez se devesse o medo excessivo ao seu estado mórbido desde a infância: prematuro, criado nos primeiros meses numa incubadoura, acostumou-se ao ir e vir dos hospitais, levado pela mãe sempre aflita, com receio de perder o filho único, cheio de complicações: pulmonares, hepáticas, cardíacas.enfim, o que se pode imaginar de doença, era com ele mesmo.
Então, vivia em sobressaltos: se o carro tombar, se o avião cair, se o teto desabar sobre minha cabeça, se aquele homem que vem vindo for um assaltante frio, saguinário, se eu morrer dormindo, se eu tiver uma infecção hospitalar, se eu estiver com AIDS, se eu pegar uma doença sexualmente transmitida, se faltar o meu fôlego com espasmo de glote por for;a de alergia, se parar de respirar, se o meu coração parar de bater, se eu levar uma pancada na cabeça e tiver uma morte cerebral...
Era um pavor generalizado, uma paura daquelas terríveis.
Quando a noite caía, ficava se embalando numa cadeira, pensando na morte, com um temor enorme de sofrer um enfarte do miocárdio em pleno sono, mas terminava vencido pelo sono, roncando, boca aberta, ressecando a garganta, terminando por se engasgar e acordar no meio da noite, suado, aflito, mas, ainda assim, vivinho da silva.