Eu até ia começar como sempre, dizendo: "Num belo dia, quando caminhávamos pelas planícies verdes da fazenda do vovô Walter..." mas não vou.
Estávamos o Cardoso e eu(Marcão) indo em direção ao ponto de ônibus no qual ele iria pegar o 503 para poder chegar em segurança à sua casa.
Nós não fazíamos idéia do que nos esperava...
Após uma caminhada de aproximados 700 metros, quando já nos encontrávamos exaustos, quase mortos, e acima de tudo cansados, e depois de uma cautelosa travessia de avenidas perigosíssimas (atravessamos correndo com os olhos fechados e gritando: "Eu não tô nem aí!!!"), começamos a subir uma rua escura e perigosa.
Havia até um mendigo que não parava de cantar: "It s rainning man! Aleluia! It s rainning man!", mas isso não tem grande importância.
Um pouco mais a frente, avistamos dois cães. Até aí nada demais, afinal, eram só dois cães soltos em uma rua escura.
Um deles aparentava ser um desses vira-latas que ficam pelas ruas o tempo todo. Devia até ser realmente. E que mal poderia nos fazer um reles vira-latas?
O problema era o outro. De longe, lembrava um Doberman.
De perto também.
Pegamos algumas pedras para o caso de uma possível reação dos cães. Nossos corações batiam frenéticamente, sem parar. Ainda bem né?
Não me pergunte como eu sei que o coração dele também batia disparado porque eu não sei, estou apenas supondo...
Começamos a nos aproximar, ainda em direção ao ponto.
Hesitamos apenas por alguns instantes, mas foi tempo suficiente para um deles(o menor) se aproximar e começar com seu latido infernal.
Malditos cachorros que gostam de atacar pessoas indefesas por causa de seus malditos instintos...
Mais um motivo para eu odiar cães. Animais burros, dependentes e estúpidos.
Melhor amigo do homem... Conta uma de papagaio agora.
Bom, mas quando ele(cão) se aproximou, a pessoa Cardoso o ameaçou com uma pedra.
O cão recuou e também hesitou em atacar.
Foi aí que o Doberman(daremos o nome Rex para facilitar a identificação) se manifestou.
Não, ele não contestou o imperialismo norte-americano sobre os países pobres do norte da África. Muito menos falou sobre globalização ou algo semelhante.
Rex se protuberou em nossa direção, como uma espinha que cresce no meio da sua testa bem no dia da festa. Olha, rimou...
Ele veio para cima então, e nós como audazes garotos ficamos para lutar e... tá, seria até bonito, mas não foi o que aconteceu.
Antes dele chegar ao meio fio(só para constar, ele estava no passeio oposto ao qual nós nos encontrávamos) nós já estávamos longe. Pena que ele corre mais.
Não podemos reclamar, pois ele até parou e contou até sete para nos dar alguma vantagem.
Foi uma fuga aterrorizante, por sete quarteirões initerruptos.
Vale lembrar que os quarteirões do bairro São Luís, em sua maioria são gigantescos. Lembre-se que a UFMG e o Mineirão ficam teoricamente nesse bairro.
Corremos o máximo possível, e só paramos quando o animal cansou. Não, não foi o Cardoso quem cansou. Foi o cachorro.
Bom, pra falar a verdade ele parou por causa de uma padaria com aqueles fornos, onde frangos mortos ficam girando o dia inteiro.
Como eu adoro as padarias...
Depois dessa caçada desesperadora, fomos finalmente para o ponto, onde ainda tivemos tempo para discutir sobre o quanto eu odeio os insetos e como eles poderíam dominar o mundo.
Sem falar sobre os comentários sobre aqueles "bichos voadores de lâmpada".
Tentamos chegar a uma conclusão sobre o porquê deles voarem perto das lâmpadas e o motivo de não os vermos de dia.
Aí o Cardoso pegou o ônibus e foi embora, enquanto eu retornei à minha humilde casa para fazer sabe-se lá o quê...