Meu ex-analista sempre chamava a minha atenção para o perigo que representa, para os outros, a minha capacidade de “florear” uma situação. Dizia que tomasse cuidado com essa forma de expor um fato, pois, aos mais desavisados, sempre soaria como uma verdade absoluta. Tenho tomado precauções a respeito dessa minha capacidade de transformar uma realidade em sonho.
Reconheço, mas para mim é impossível ficar no ramerrão da veracidade crua de certas situações. Por exemplo: uma salada! Na casa de todo mundo uma salada é um conjunto de verduras dentro de uma travessa. E é só isso mesmo!
Mas... Me diz! Estarei mentindo se disser:
-Esta salada é fruto da minha horta; foi tirada antes de ser servida e vocês comerão uma salada viva! A decoração foi feita pela minha empregada e, com tal prazer, que terão um sabor adicional de seu afeto. Com certeza sentirão o sabor real dessas verduras que não contêm agrotóxicos, nem conservantes, nem nada mais que o sabor natural que vocês já até esqueceram qual é!
Meçam a diferença.... Menti? Falei a verdade total. Só que, de repente a comida vira sonho... Mas manterei para sempre a lembrança daquele almoço! É o que desejo para os meus queridos!... Memórias... Belas lembranças... A vida é mais o quê, além disso?
Gosto de surpresas, magia, encanto! E por que não? A vida já é tão repleta de durezas! O dólar subindo, e a gente sem entender porque a água também vai subir! Se nada há para entender dessa matemática cruel, por que não posso pincelar de sonho a minha salada totalmente orgânica e real?
Às vezes essa situação chega à beira do risível. Mas esse é meu jeito. Não sei falar para as amigas de minhas filhas em eventuais visitas:
- Vamos até ali na esquina?
Ah!... Me desculpem os secos de emoção! Não resisto e lá vou eu dizendo:
- Vamos dar uma chegada na esquina para perceber as maravilhosas surpresas que nunca vimos antes?...
Sei lá o que vamos realmente avistar! Mas preparar o espírito para “ver” as coisas comuns tonalizadas de magia nunca será mentira nem pecado! E me surpreendo com a diversidade de “vidências mágicas” proporcionadas pelo simples fato de se desejar ver a vida em outros matizes mais agradáveis...
Certa vez, há muitos anos atrás, quando minhas filhas ainda eram pequenas, ouvi uma amiguinha perguntar a elas, ao conversarem na calçada:
-Porque será que a esquina da sua casa é muito melhor que a esquina da minha casa?
Pude perceber o brilho do olhar das duas enquanto iam descrevendo todas as coisas bonitas que avistavam dali...