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Humor-->Saudades dos seus olhos -- 19/11/2008 - 09:01 (Fernando Werneck Magalhães) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Um dia, enquanto dirigia, fui de repente atingido por um maravilhoso petardo: a lembrança da música “Onde anda você?”, composta (juro que não sabia) pelo Vinicius, o poetinha. Segue um diminuto “arroz com água” dela, digo, canja:

“E por falar em saudade, onde anda você?
Onde andam seus olhos que a gente não vê?

E por falar em paixão, em razão de viver
Você bem que podia me aparecer ...”

De imediato, enfoquei a atenção dentro da massa cinzenta, tentando discernir o dono daquela senhora voz. O estilo era meio antigão, mas, mesmo assim, tinha um charme indescritível. Seria do Dick Farney? Não, pareceu-me a voz do Cauby Peixoto. Sumiu o charme!

Veio-me à memória a sua imagem quando jovem – jovem, eu; não ele. (E olha que deixei de sê-lo há mais de 25 anos – justo quando completei trinta anos). O cantor ainda vive e continua em atividade, ainda que intermitente (senão claudicante como Cláudio). E de cabelos negros para disfarçar a passagem do tempo, para o qual não se inventará jamais refúgio de um instante sequer.

Mas, quanto aos cabelos, estes, claro, podem ser, e o são, coloridos à vontade – como o meu, de branco -, mas, pasmem, existem exceções, inclusive de mulheres que julgam, dessa forma, realçar sua sensual feminilidade. Nada contra, até prova em contrário – que, aliás, pode ser encontrada em cada esquina. Eis um desafio à boa lógica. Quem resolver o enigma grego que me passe a cola!

Esta, a moda. A ninguém surpreende, portanto, que eu, um dinossauro em matéria de moda, ainda os mantenha, como confessei há pouco, alvos como a costa inglesa - e não das inglesas! Aos adeptos da estética corrente, defendo-me brandindo o argumento científico de que dez em cada dez carecas concordam que “cabelos, é melhor tê-los brancos do que não tê-los” – o que condiz com a fronteira da pesquisa cardiológica no Nepal e em Harvard.

Justo outro dia (Alzhie, quando foi mesmo, diabo?), adquiri um CD contendo canções interpretadas pelo Dick Farney e o Lúcio Alves. Sensacionais, os dois cantores. Mas, de qualquer forma, o meu projeto de vida para amanhã é tentar encontrar no mercado um CD de um cantor qualquer - que seja de terceira categoria! - interpretando “Onde anda você?”

Também eu, acreditem, tenho tido vontade de cantar (deve ser influência benéfica do dr. Ady!). Mas o meu tempo de aposentado é cada vez mais escasso, como comprovam os meus cabelos que não cessam de crescer, transbordando minhas orelhas, que, esclareço, já foram de abano, antes de serem aparadas pelo barbeiro.

Da mesma forma que da minha agenda transbordam compromissos inadiáveis, que já não posso assumir, por razões desde sempre inacreditáveis. Por isso, acredite quem quiser! Já era assim antes de eu, o próprio, ser violentamente tomado pelo impulso incontrolável (de natureza musical, que aprendi com Vivaldi) de escrever, no que fui censurado por um falecido analista - que, ao menos, não se suicidou - entre outros, que o fizeram de desespero, à falta de suficiente meditação budista ou sufi. Quem aceita dançar?

A propósito, o jornal local trouxe, no século passado, um tentador anúncio de vaga no Coral de Cinqüentões, na Universidade de Brasília. O esquema padecia, contudo, de um insanável vício de origem, digo, de horário – os encontros fortuitos e semanais estavam programados para o começo da tarde de um dia útil. Bom, portanto, para cavalheiros e damas curtindo o ócio da aposentadoria. O que, reitero, definitivamente, não é o meu caso – o de aposentado sem ócio, que, inclusive, me levou a esconder os pijamas atrás dos sapatos – que, juro, só uso para fazer as minhas cinco preces matinais, temente ao Deus Alá, que ontem me tornei há vinte exatos anos.

Desde que introjetei a convicção de que não tinha um instante a perder – no dia, na semana, no mês, na vida! –, parece que a velocidade de circulação do meu pensamento descolou da base física. Sinto-me um taquipsíquico sem retorno – justo por falta de tempo - agitado, confesso, mas sem qualquer estresse, que se escondeu, invisível, em cima do sofá da sala.

Quanto ao estresse, confesso por hábito – e não por convicção, que já era -: vez por outra, ela ainda me surpreende um tantinho, mas somente quando a sua origem é exógena e contraria as minhas emoções mais básicas, que podem ser visitadas e encontradas incólumes no âmago do meu cerebelo (deve ser o locus cerebral onde me crescem os pelos!)

Suponho que isso aconteça com Deus e o mundo, não? Talvez com a famosa exceção de Napoleão, o Corso, que, como papai me contou, emigrou para o Continente atrás do rabo de saia da Josephine, com a combinação explícita de que ela adiasse o banho mensal para os idos de março. Mas da vida íntima dele, nada sei nem me interessa saber - não sofro, em definitivo, de falta de vocação para paparazzi.

Antes sou (depois que me tornei) um pacifista de carteirinha, que idolatro Tolstoi, Gandhi e Mandela. Mais recentemente, fui até aceito para o seleto clube dos admiradores incondicionais de Chekhov, cujos contos recomendei a Dostoiévsky. Este, em troca, ofertou-me os cinco quilos de sua autobiografia não-autorizada, escrita e descrita, com detalhes escabrosos, por J. Frank – ótimo, apesar de americano.



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