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Humor-->Fazendo RPG com o Tom -- 19/11/2008 - 19:25 (Fernando Werneck Magalhães) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
FAZENDO RPG COM O TOM

“Viver” é o meu filme preferido do Kurosawa – produto de 1952, talvez influenciado pelo existencialismo francês. Nele se coloca uma questão fundamental: como aceitar a morte? Resposta: vivendo! Que belo resumo de quanta boa filosofia!

O protagonista recebe uma sentença do seu médico: tem câncer de estômago e só lhe restam seis meses de vida. Coloca-se aí, de pronto, a questão: o que fazer até lá? Depois de tentar fúteis soluções, o condenado, um simples funcionário público de prefeitura, decide empenhar-se no aproveitamento de um terreno baldio para a construção de um parque infantil.

Teve sucesso e, nesse processo, conseguiu dar um sentido a sua vida. E, por isso, morreu bem. Por certo, Viktor Frankl, o médico que sucedeu a Freud na cátedra de psiquiatria em Viena, o aplaudiria. E também os filósofos existencialistas. E também todos nós! Afinal, é voz corrente que existem momentos que valem por uma vida – e, virando a frase ao avesso, de que vale uma vida sem sentido?

Por uma circunstância pessoal muito particular, eu carrego na carteira um pedaço de papel contendo uma meia dúzia de frases, uma das quais manda que se “Procure viver cada dia como se fosse o último.” Na verdade, ambiciono mais: “Viver cada instante como se fosse o último!” E, assim fazendo, creio que vivo muito melhor do que vivia antes de morrer.

Existe budismo nisso e do bom - assim como psicologia moderna. Lembro-me de ter, certa vez, indagado de um psiquiatra que sobreviveu à minha atipicidade congênita: “Devo ser otimista ou realista?” Ele se saiu - e bem – dessa questiúncula, devolvendo-me a pergunta, qual o judeu (que também sou) do anedotário judaico: “E por que não, ao invés, tratar de viver mais intensamente o aqui-e-agora?”

Tudo isso para dizer que outro dia, mesmo durante a sessão de RPG, as minhas cordas vocais não cessaram de vibrar. Enquanto a terapeuta, me revirava a cabeça de um lado para o outro e tentava depois – sem sucesso, felizmente – extirpar-la do meu tronco, chamou-me a atenção uma música ambiente, quase inaudível aos meus avariados labirintos.

Embora fosse ela, a terapeuta, do tipo que curtia qualquer tipo de música, confessou-me, quase aos prantos, que não conseguia atinar quem fosse o autor ou o cantor da canção ora apresentada em surdina. Nadei rápido para lá das ondas alfas, onde logo encontrei a solução, ainda que parcial: era o grande Milton Nascimento – exatamente como apareceu, certa vez, trocando abraços com o também grande Caetano Velloso, meu filósofo preferido deste século.

Daí que decidi aceitar o desafio (agora me tornei americano!) descobrir o título da música brasileira, que tão belamente canta o mistério que existe dentro dos olhos de uma mulher. É fato que, nem eu nem a terapeuta conseguimos, na ocasião, solucionar o enigma. A caminho de casa, porém, resolvi dar um ultimato ao “alemão” que me inferniza a vida: “Que me amasse ou deixasse!”

Para minha grata surpresa, ele amarelou e decidiu confidenciar-me: “Que tal checar na Google as belas artes do Tom Jobim?” Assim fi-lo, assim (digo, logo) que retornei à casa – na verdade, um bom “apertamento”, onde me foi concedido o direito infraconstitucional de dispor de um escritório para abrigar o milhar de filhos não-biológicos que adotei. Decifro: meus livros – para simplificar esta vida já de per si complicada a mais não poder. E mais: apresento aos meus infiéis leitores, neste exato momento, a pérola (ou margarida, para quem for latinista) que eu tanto buscava:

“Ah! Se eu pudesse entender
O que dizem os teus olhos ...”

Mas, antes mesmo da maravilhosa redescoberta d’ “Este seu olhar”, já argüia eu com a terapeuta que, de fato, não são os olhos que falam, mas sim os sobrolhos, as rugas de expressão, as bochechas, as orelhas, o nasal sensual, sem contar os lábios e, dentro da boca, os ebúrneos dentes.





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