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Humor-->O relógio e a sabedoria -- 19/11/2008 - 22:55 (Fernando Werneck Magalhães) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

No Natal de 2005, comprei na Livraria Cultura três livros para presente: a vida do general Lott, para papai – que participou, não sei com qual patente, de sua campanha presidencial –, e dois exemplares da última biografia de De Assis, o Machadinho. Um deles para presentear um amigo, outro para esconder dos abelhudos atrás da minha nova estante.

Machado foi fera, além de herege, o que só lhe acresce o mérito. Diz-se que, às portas da morte, bateu-lhe um clérigo à porta (toc! toc! toc!), propondo-lhe uma conversão gratuita. (Sendo gratuita, eu próprio a aceitaria – como a maioria dos meus pobres comparsas, digo compatriotas. De fato, até injeção na testa, quiçá naquele olho direito que fica pendurado no lado direito da minha testa).

Qual Voltaire, entretanto, o nosso grande escritor, muito mais rigoroso do que eu, teria brandido a sua pena e esperneado: “Impossível, seria uma hipocrisia!” (Acho que, às vésperas do Adeus, ele teve um surto e converteu-se ao Islamismo! Usando esse vocabulário, só pode ser!).

Dizem também as más línguas, e por isso não lhes dou crédito, que o escritor francês – um entusiasta (no sentido grego original) da tolerância política e religiosa – teria pedido, em seus instantes finais, “que viessem a ele, sorrindo, os diabinhos”. Creio mais que, humorista erudito que foi, Voltaire devia estar fazendo alguma brincadeira etimológica antes que teológica.

E depois ele, Machadinho se foi – certamente para o Nirvana, budista que era –, deixando-nos, aos seus discípulos, o monumento literário que são as suas “Memórias Póstumas do Brasileiro Cubas”, que não reli, pois o meu único olho sadio ainda não teve tempo!

Entre outras jóias do pensamento econômico brasileiro, Machado legou-nos a estória do relógio, que revela todo o seu irreverente relativismo diante da existência. Segundo ele, “desde que discrepam (os relógios do mundo), fica-se sem saber (mais) nada, porque tão certo pode ser o meu relógio como o do meu barbeiro”.

Ou seja, Machado – ou um seu alter ego qualquer – poderia, com essa tirada, estar simplesmente confessando-se perdidão neste renascimento que lhe foi imposto pelo seu fedorento carma de antanho ou outrora. Se uma ou outra época, o freguês que a escolha, pois a diferença, além de sutil, é inexistente, segundo a minha preciosista bisavó!

Não deixa de haver um certo laivo de luta de classe nesta jóia, que lembra outra – a do meu mestre, o tio Nasredin, que viveu, como eu, no século XIII –, em que ele, o tio, com uma martelada interrompeu de vez o funcionamento de um relógio que teimava em estar sempre atrasado (devia ser brasileiro), melhorando assim, de imediato, o seu índice de acerto. A partir de então, o relógio dava a hora certa ao menos duas vezes por dia!

Contudo (para não dizer porém), no que me diz respeito – e o respeito, claro, é inegociável (ao câmbio de desequilíbrio em que vivemos), segundo o meu terceiro neurótico nipônico mestre de caratê –, desconfio, desconfiado que sou, que até o relativismo deve ter seus limites. Se assim não fosse, até um mau-caráter dos infernos poderia apresentar-se à mesa para comungar, disfarçado de budista compungido, militante e convicto, aproveitando-se da justamente louvada tolerância dessa linha mais filosófico-existencial que compungidamente religiosa.

Portanto, não acho que seja totalmente bom (muito menos mau) que – mesmo antes de o Siddhartha Gautama (vulgo, o Buda Sakya Muni)entrar em mahasamadhi - já se contassem 18 disparatadas escolas budistas dispersas pelo subcontinente indiano. Afinal, livre pensar não é só pensar? Se assim não fosse, onde ficava a liberdade de pensamento e de imprensa, principalmente a impressa? Sem ela, como poderia eu excretar estas crônicas irreverentes e ambíguas por Pernambuco afora – eu, que não disponho de tempo (nem de olho) para assistir televisão ou ir ao cinema, que, além de caro, fica longe da minha base de meditação budocristã e txaísta, no melhor estilo euromongol?

Mas de uma coisa estou certo: que deveriam existir limites rígidos ao relativismo, isso deveriam! Onde situá-los porém, aí eu não meto o meu nariz machadiano!


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