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Humor-->Um toque de humanidade -- 21/11/2008 - 08:47 (Fernando Werneck Magalhães) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
UM TOQUE DE HUMANIDADE


À falta de alternativas turísticas mais em conta, o meu saudoso tio Edu embarcou para a Bela Itália, que, por ocaso, penava durante a 2ª. Guerra Mundial. Divertiu-se “paca” e de lá trouxe três coisas – uma insônia de dois anos que ele usava para passear de bonde, sem ser assaltado (bons tempos aqueles) durante a noite toda pela Maravilha de Cidade Forno; a convicção da inutilidade do bom conselho; e muitas estórias.

Uma que muito interessou a este txaísta (sócio-atleta da religião da amizade que fundei em 6 de novembro de 2006, conforme registrado nos meus suspeitos alfarrábios – aceito dízimos!), ele ma detalhou ontem graças à capacidade de aproximação entre os viventes que o telefone permite, ainda que precária. Pois ia a tropa brasileira – acoplada e, portanto, municiada e abastecida pelo rico exército yankee – ajudando a empurrar os colegas alemães de volta às choparias de Munique, quando, certa vez, meu tio rendeu um soldado tedesco que encontrou, perdido e a zero de tabaco, numa estrada vicinal.

De imediato, pôs-se a conduzi-lo ao campo de prisioneiros mais próximo, que, entretanto, não ficava tão perto assim. Numa parada para descanso e tirar água do joelho, meu tio sacou um cigarro e pôs-se a aspirar o precioso veneno.

“Desperto” (desconfio que já praticasse a meditação budista da mente alerta), porém, logo captou o olhar suplicante do seu prisioneiro (talvez tal qual Tereza Batista, já cansada de guerra) por uma colher de chá. Cabe lembrar aqui (e por isso vou fazê-lo) que, naqueles dias, a intendência do exército alemão debatia-se em séria crise existencial – nem chucrute havia mais, acreditem ou não. Eu, não!

E, dada a subordinação dos brasileiros ao comando americano, estes forneciam aos soldados tupiniquins a bela ração semanal de dez maços de cigarros, enquanto meu tio só tragava meio maço ao dia (melhor fazia que eu, que, à sua idade de 23 idade, já fumava um maço inteiro por rotação da Terra). Daí que lhe sobrava tabaco, que, como todo economista sabe, vale ouro durante qualquer guerra, desde os tempos de os incas contribuírem, a preços exorbitantes, com madeira de lei do Pará para a construção do templo de Davi.

Mas tio Edu, carioca da gema, não se fez de rogado e dispôs a compartilhar com o inimigo de então o seu fumo, que, suponho, fosse um dos poucos prazeres disponíveis em tempo de guerra (afora os estupros, objeto, principalmente, de competição russo-germânica; mas disso sei pouco de primeira mão e, portanto, julgo ético passar adiante).

Ao fazê-lo, notou, contudo, a emoção sentida, sob a forma de algumas lágrimas que rolaram da face rosada do primo, pois tanto ele, tio Edu, era neto de alemão, quanto eu, bisneto. Coisa de judeu prevaricador, como todos somos aqui, abaixo do Equador. Daí o imenso potencial da nossa civilização, não é, Darci?

Bem, aliviados os calos, continuaram os milicos sua marcha insana adiante rumo ao campo de prisioneiros alemães, mantido pelos gringos, à fala de melhor alternativa para aplicação de seus capitais. Lá chegados, tchau, “boche”.

Antes de partir, porém, meu tio decidiu, por solidariedade ao colega de profissão, presentear a sua vítima com o seu maço quase completo de cigarros. Diante disso, o que o filosófico e pedestre soldado desarmado – talvez nem nazista fosse, ouo fosse por falta de melhor opção sexual - desarmado tinha para retribuir! Nada! Deve ter-se sentido vexado! Mas logo descobriu que não estava nu e, vasculhando o bolso traseiro do paletó, encontrou ele solução mais que satisfatória.

Ofereceu ao tio Edu uma lembrança de valor sentimental (e que presente tem mais valor?) – uma foto sua, fardado, ao lado de um colega de infortúnio – pois, no duro, no duro, toda guerra é uma tragédia para seus atores e espectadores! E por isso deveria ser proibida!

Essa foto, eu bem me lembro dela, mas, infelizmente tio Edu perdeu-a em sua mudança de Brasília para o Rio de Janeiro já se fazem uns vinte anos. Melhor que isso só a sua “tournée” pela França, incluindo a Cidade das Luzes, finda a batalha. Mas os detalhes desta, ele me omitiu, “la noblesse oblige!”



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